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RESENHAS

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Tempos Perplexos - Poética Social

J. Geraldo Neres*

O poeta J. Geraldo Neres encaminhou a Verdes Trigos a antologia poética TEMPOS PERPLEXOS, organizada por Beth Brait Alvim e Prefácio de Cláudio Viller, numa realização do Departamento de Cultura de Diadema/SP.

Apresentamos o prefácio de Cláudio Willer:

Este início de século, o primeiro do segundo milênio, dá a impressão de ser um oposto diametral de outro início, aquele de um século atrás. Mais precisamente, temos o refluxo de algo que se afirmou, de modo enfático, há quase cem anos: a revolução, a ruptura com a ordem econômica e política, a aparente instauração de uma nova sociedade, quando não de um novo mundo.

Refiro-me, é claro, ao conjunto de acontecimentos que resultaram, entre outras conseqüências, na revolução soviética de 1917. Mesmo que os dias de hoje não tenham nada a ver, diretamente, com aqueles, convém, a propósito de Tempos Perplexos, trazer à tona a discussão sobre a função da arte, a relação entre poesia e revolução, política e sociedade, que marcou o período revolucionário. Não perde atualidade por uma razão muito simples: o interesse da discussão não é restrito àquele contexto.

Questões como a da arte de mensagem ou de criação livre, populismo versus elitismo, engajado contra o alienado, esteticismo ou praxis, foram discutidas nos séculos XVIII e XIX e atravessaram o século XX. Contudo, pelo caráter dramático que adquiriram no imediato pós-17, na seqüência do outubro soviético, deram ocasião a documentos de especial importância. Um deles é o conjunto de reflexões e ensaios reunidos em Literatura e Revolução, de Leon Trotsky. Lembrando: mesmo na linha de frente do governo soviético, antes de tornar-se um dissidente e um perseguido, Trotsky procurava valorizar a liberdade de criação, e mantinha uma posição de eqüidistância tanto do populismo, para ele empobrecedor ao descartar a herança cultural ocidental e sancionar uma cultura da miséria, quanto do formalismo, que corresponderia a um caminho árido, ao substituir valores humanos e estéticos pela estatística. Criticando a burocratização da arte “por meio de decretos e de prescrições”, observava: “É falso que só consideramos nova e revolucionária a arte que só fala de operários. (...) O lirismo pessoal, incontestavelmente, tem o direito de existir na nova arte, por menor que seja sua esfera de ação. Ainda mais, o novo homem não poderá formar-se sem um novo lirismo. Para criá-lo, no entanto, o próprio poeta deve sentir o mundo de um novo modo”.

Outro período em que se tinha a impressão de que o mundo iria mudar foi aquele da contracultura e rebeliões juvenis dos anos 60. O poeta e ensaísta mexicano Octavio Paz pode ser associado a esse ciclo, por haver feito o elogio, em várias ocasiões, das rebeliões juvenis que culminaram no Maio de 68 e, para ele, “reintroduziram a cifra do prazer na política”. E por haver valorizado as idéias de revolta e rebelião, diante daquela de revolução.

Deixou-nos ainda Octavio Paz algumas páginas extraordinárias sobre a relação entre poesia e política. Examinou, em Los Hijos del Limo e tantas de suas obras, os poetas que, começando como progressistas e revolucionários, acabaram, decepcionados, como reacionários. Exemplo máximo, Baudelaire, que, sendo reacionário em sua crítica da democracia burguesa, deixou uma herança revolucionária ao transformar nossa percepção, não só da literatura e das artes, mas da sociedade e do mundo. Além disso, Paz não economizou críticas a autores que, em um aparente movimento oposto colocaram sua arte a serviço da revolução, como veículo de mensagens, acabando por rebaixá-la ao torná-a prosaica ou sectária. Incluiu nessa categoria ninguém menos que Neruda e Eluard, entre outros grandes nomes.

Em um de seus últimos livros, A outra voz, espécie de sinopse ou testamento de seu pensamento sobre poesia, Octavio Paz voltou a perguntar: “Qual pode ser a contribuição da poesia na reconstituição de um novo pensamento político? Não idéias e sim alguma coisa mais preciosa e frágil: a memória. A cada geração os poetas redescobrem a terrível antigüidade e a não menos terrível juventude das paixões.” Sua resposta é clara: “Pela boca do poeta fala – advirto: fala, não escreve – a outra voz. É a voz do poeta trágico e a do bufão, da solitária melancolia e da festa, é a risada e o suspiro, a voz do abraço dos amantes e a de Hamlet diante do crânio, a voz do silêncio e a do tumulto, louca sabedoria e sensata loucura, sussurro de confidência na alcova e cheiro de multidão na praça.”

Essa outra voz não é audível por todos, e não irá necessariamente atingir o grande público. Citando-o novamente: “...um dos traços característicos da poesia moderna é sua decidida vontade minoritária. Na primeira metade do século passado todos os grandes românticos europeus tentaram conquistar um vasto público de leitores; alguns conseguiram, como Byron, Hugo e Lamartine. Depois, à medida que a grande chama romântica se apagou, os poetas se retiraram da cena pública. Desde os grandes simbolistas, a poesia tem sido rebelião solitária, subversão no subsolo da linguagem e da história. Nenhum dos poetas que inauguraram a modernidade procurou a aprovação da maioria; todos, ao contrário, escolheram de modo deliberado escrever contra o gosto do público. Rimbaud e seus herdeiros da primeira metade do século XX ilustram um aspecto dessa tendência; a outra, mais puramente estética, é a de Mallarmé e seus seguidores”.

Dispõe-se, portanto, a navegar contra a corrente os participantes de Tempos Perplexos e da oficina literária que originou esta publicação. Alguns dos seus autores, como Juan Carlos Latorre, Edson Aquino e Radi Oliveira, quase desenvolvem uma argumentação, ao buscarem, através do poema, uma descrição de aspectos do mundo que os cerca. Outros, como José Geraldo Neres, expressam o que se passa em sua subjetividade, os sentimentos e emoções diante do que ocorre ao seu redor. Seguem, portanto, a trilha romântica, mesmo adotando a forma aberta, moderna, em alguns até o texto em prosa, com um formato de crônica ou prosa poética. E outros ainda, a exemplo da própria coordenadora do trabalho, Beth Brait Alvim, querem, não a representação ou descrição, mas uma apresentação, uma transcrição literária de um mundo fragmentado, desconexo, através de uma escrita igualmente fragmentária, com palavras soltas, rompendo nexos sintáticos.

A tônica dominante nesses trabalhos é a expressão da perplexidade, justificando o título da coletânea, associada a outros sentimentos e emoções: a revolta, a piedade, o susto, o desgosto. Eles se traduzem através de uma diversidade de modos de escrever, estilos e gêneros, permitindo afirmar que essa coletânea, embora tenda à unidade temática, surge sob o signo da pluralidade de soluções literárias. Certamente, muitos percorrerão o caminho que vai dessas manifestações enfáticas até a emissão da outra voz, comentada acima. A continuidade de iniciativas como essa oficina literária, a publicação de seus resultados, possibilitando o debate, a crítica e, principalmente, sua fruição, será decisiva para que se avance por essa trilha. Isso, pelo que as oficinas trazem de possibilidade de interação, de troca de experiências e informações entre aqueles que criam. E por seu estímulo à leitura, à tão necessária, como já assinalava o autor de Literatura e Revolução, assimilação de toda uma herança cultural, da qual fazem parte autores rebeldes e malditos, contemporâneos e de outras épocas.

Pelo que já foi realizado, e pelas perspectivas abertas, ao se disporem a prosseguir esse trabalho, estão de parabéns as pessoas e as instituições responsáveis por este Tempos Perplexos. (Claudio Willer )


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Sobre o Autor

J. Geraldo Neres: poeta/escritor, co-fundador do Grupo Palavreiros (grupo de escritores/poetas sediados em Diadema/SP/Brasil), atual Coordenador de Comunicações e Web-Master do site PALAVREIROS.

Formação Literária: Oficinas de Criação Literária realizadas pelo Depto de Cultura do município de Diadema, ministradas pela escritora e fomentadora cultural Beth Brait Alvin(1999/2002). Oficina de Criação Literária (1º semestre 2000, Casa da Palavra – Sto André/SP) com o poeta Cláudio Feldmann. Oficina de Criação Literária(prosa) com o professor/escritor Ovídio Poli Junior (2001) realizada pelo Depto de Cultura do município de Diadema. Oficina de Criação Literária com o poeta/tradutor Cláudio Willer (1º semestre 2002, Casa da Palavra – Sto André/SP)

PALAVREIROS=> www.palavreiros.hpg.ig.com.br

 

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