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RESENHAS

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Nos labirintos do ser

Ronaldo Cagiano*

O escritor gaúcho, radicado em Serrana, interior de São Paulo, Menalton Braff, que recebeu o Prêmio Jabuti em 2000, vem construindo uma sólida carreira literária. Não obstante ter alcançado só agora o reconhecimento da crítica, o autor vem de uma longa experiência literária. Por motivos políticos, Menalton escondeu-se atrás de um pseudônimo, Salvador dos Passos, período em que lançou pela pequena editora Seiva “Na força de mulher” (contos) e “Janela aberta” (romance), obras com a mesma qualidade de “À sombra do cipreste” e do premiado “Que enchente me carrega?”.

Menalton já foi comparado a Raduan Nassar, pela semelhança da linguagem e pelo enfoque na angústia e desassossego dos personagens. Influências à parte, Braff tem luz própria, estilo também vigoroso e uma versatilidade para a renovação da própria linguagem, sem limitações formais ou temáticas. Há em seus contos uma atmosfera ao mesmo tempo de densidade e poesia, permitindo ao leitor identificar também a confluência com a obra de Lygia Fagundes Telles, no que seu texto tem de poético e cristalino.

Sua narrativa, de intensa projeção psicológica, busca sempre o desvendamento do ser, na exegese de personagens que vivem situações limítrofes entre a tensão e o desespero. Não é raro encontrarmos em sua prosa períodos marcados por intenso fluxo verbal, abdicando-se de pontuações, como um Saramago, refletindo o vertiginoso jorro de pensamentos de seus personagens e a necessidade de explosão e desabafo.

Em seu novo romance, “Castelos de papel”, recém-publicado pela Nova Fronteira, o autor projeta as deambulações mentais de um certo Alberto Ribeiro, um empresário que sente-se desconfortável e acudo depois de sua aposentadoria. Nesse período de ociosidade compulsória afloram sensações e sentimentos estranhos, sintoma de sua ruína psicológica e social, quando vê seu mundo transformando de uma hora para outra, em contraponto à sua condição anterior, de capitalista bem-sucedido, agora destituído do poder de controle sobre sua vida e sua família.

Primeiro, o seqüestro de um amigo, provocando-lhe uma paranóica sensação de insegurança, de modo a desconfiar de um sorveteiro, cujo olhar o faz crer tratar-se de um desafeto, ex-funcionário demitido de sua empresa. Tal situação motiva-o a retornar à empresa, onde empreende uma busca delirante nos arquivos para tentar desvendar o mistério e encontrar algo sobre ele. Os documentos aos quais recorre de forma pressurosa em sua faina buscar uma pista, funcionam alegoricamente como um castelo que desaba ao mínimo vendaval.

Em seguida, é a obsessão do filho em mudar-se do país, que para o pai constitui-se não só em rebeldia, mas num desafio aos seus valores e costumes tão arraigados. Novamente, percebe que perdeu as rédeas da família e dos negócios e que sua autoridade valia pelo que representava enquanto ativo socialmente. Numa seqüência de confusões mentais, Alberto vai construindo uma teia de devaneios, até encontrar-se com seu passado e suas raízes modestas na figura de um office-boy da empresa, quando este percebe no patrão um homem desorientado e ansioso, em contraponto ao poder e autoridade de ontem.

Em “Castelos de papel” a figura de Alberto metaforiza a necessidade do ser humano de ser reconhecido como pessoa, numa época cada vez mais sintonizada com o ter, quando tudo desemboca num mundo de fetiches e desagregações. Há, portanto, uma dimensão dialética e onírica nesse romance. Pois a perda de si mesmo para um universo burocrático e sem lirismo ou compaixão acaba por legar ao homem uma condição labiríntica, da qual torna-se difícil escapar. Sobretudo depois da degradação causada pela modernidade e pela globalização, que vai nos minando com seus tentáculos e deixando um terrível espólio: o vazio espiritual aliado a outras carências afetivas como única herança individual e coletiva.

“Castelos de papel” confirma a talentosa produção de Menalton Braff, inserindo-o no rol dos grandes nomes da literatura contemporânea.

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Sobre o Autor

Ronaldo Cagiano: De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.

Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.

 

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