- Verdes Trigos
- Web Log
- Resenhas
- Livros
- Especiais
- Van Gogh
- Wheatmania
- Usabilidade
RESENHAS
Sobre o Pardal na Janela
Dílson Lages Monteiro*
O escritor Marcel Proust escreveu que “todo leitor é um leitor de si mesmo”. O pensamento do notável romancista se faz ver em O Pardal na Janela, do poeta e crítico literário Alberto Da Costa e Sílva, recentemente editado pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Seduzem no livro a leveza do estilo (em alguns textos, o autor escreve à maneira de um laborioso cronista ), os diálogos intertextuais com a tradição a evidenciarem amor desmedido pela palavra multiforme e, sobremaneira, a focalização dos temas pelo enfoque da saudade. Desse modo, a linguagem é fácil, recheada de experiências vivenciais comoventes, como a recordação de encontro, em companhia de Antônio Carlos Villaça e do fotógrafo Aldir Vieira, com o notável poeta Manuel Bandeira (p. 106), a propósito de entrevista para um jornal de estudantes:
“Bandeira acolheu-nos de Pijama e chinelos, magro, moreno e encurvado, e de pijama e chinelos deixou-se fotografar. Levantara havia pouco da sesta e foi fazer-nos ele próprio um cafezinho, a achar imensa graça naqueles três meninotes. Levou, contudo, a entrevista a sério. (...) Bandeira copiou-nos alguns de seus poemas. Guardo, desse dia, o autógrafo de Desencanto e, sempre que o leio, volta-me a voz pausada, quase rouca, a dizer-nos com indisfarçável emoção: Eu faço versos como quem morre...”
Fascina também a forma como exerce as críticas biográfica e temática. Habitualmente rotuladas de ultrapassadas e de incapazes de dar conta do fenômeno literário numa perspectiva crítica, essas formas de análise conseguem, nos textos de O Pardal na janela, diferentemente do que se possa acreditar acerca dessas abordagens, concretizar-se organicamente. Assim são construídas (distantes do artificialismo), porque ancoradas na polifonia – alguns diriam na retórica - e na exaltação de suas preferências individuais como crítico-leitor.
Alberto Da Costa e Silva reconhece que “é perigoso ligar os acontecimentos da vida de um autor às suas obras. Essas vinculações costumam muitas vezes levar a descaminhos”. Não obstante, passeia por dados pessoais dos autores analisados, examinando relações entre o ambiente sócio-cultural em que viveram e a obra por eles produzida, com coerência, à maneira de Richard Ellmann, para quem “a obra literária não é um mero objeto, mas uma convergência de energias, um deter-se momentâneo de forças que provêm não apenas da tradição literária, mas também do indivíduo e da sociedade”.
Nos diversos artigos nos quais comenta poetas e poemas, valoriza a poesia acentuadamente imagética. Desfilam em sua pena o entrecruzar de vozes consagradas pela tradição: Cesário Verde, Antero de Quental, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Murilo Mendes, Da Costa e Silva, com relevo especial a este último, a respeito do qual delineou ensaio antológico, O aprendizado de Orfeu, leitura relevantíssima a quem anseia mergulhar profundamente na poética do autor de Sangue.
Nesse ensaio, o crítico sonda a gênese da criação literária em Da Costa e Silva, abrangendo desde a infância até as leituras que se entrelaçam na obra deste que é um dos maiores vultos da Literatura Brasileira de Expressão Piauiense. Nele, resume-se um roteiro seguro para a percepção de como “surgiam as paisagens verbais de cuja construção foi mestre e que singularizam a sua obra”.
Em O Pardal na Janela, ressoa lição de Ivan Junqueira a validar Marcel Proust: “O texto é um tecido de textos anteriores, ecos dos quais evoca continuamente, tecido de referências históricas e práticas, jogos de palavras. Um texto não é, e não pode ser, único, mas um processo de compromisso”.
Sobre o Autor
Dílson Lages Monteiro:
professor, poeta e membro da Academia de Letras do Vale do Longá. Autor dos livros de poesia +HUM-Poemas, Colméia de Concreto, Os Olhos de Silêncio e O Sabor dos Sentidos, Além do ensaio A metáfora em textos argumentativos( 3a. edição a sair) e Cabeceiras- a marcha das mudanças. Contato: dilsonlages@uol.com.br
LEIA MAIS

Os Anos 40 foi, em 1973, o livro de estréia de Rachel Jardim. A ele se seguiram outros, como Cheiros e ruídos, A cristaleira invisível, Vazio pleno: relatórios do cotidiano, Inventário das cinzas e O penhoar chinês. A escritora nasceu em 1926 em Juiz de Fora, Minas Gerais. Atualmente vive no Rio de Janeiro. Leia mais

São apenas 97 páginas de poesia. De uma poesia que emociona. Sobretudo de uma poesia de verdades. De uma poesia que inquieta. De uma poesia que indaga. De uma poesia que pede resposta. Que diz coisas. Porque por aí em fora há muita poesia que não diz nada. Sem conteúdo, despida de emoção e de mistério. Leia mais