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FREUD, um judeu sem Deus.

Henrique Chagas*

Acabo de ler o livro "Por que Freud rejeitou Deus?", de Ana María Rizzuto, reconhecida autoridade em religião e psicanálise (analista no Psychoanalytic Institute of New England, East). A autora se emprenha numa fascinante jornada ao passado de Freud para examinar as raízes de seu ateísmo. Ela retoma e reorganiza dados sobre o desenvolvimento de Freud e as circunstâncias de sua vida e elabora uma interpretação psicodinâmica da rejeição a Deus, afirmando que a vida e as relações familiares de Freud impossibilitaram-lhe acreditar num ser divino providente e protetor.

O livro reconstrói aspectos significativos da relação de Freud com seu pai e sua mãe, sua am e outros parentes próximos e esboça sua evolução religiosa, desde as crenças convencionais de um jovem a até a descrença do adulto.

Rizzuto apresenta análise significativas da Bíblia de Philippson - uma cópia da Bíblia com que o pai de Freud o presenteou em seu 35° aniversário - e mostra como as ilustrações dessa edição se vinculam à paixão de Freud por colecionar antiguidades.

Escreveu Freud: "A aterrorizante sensação de desamparo na infância suscita a necessidade de proteção - proteção por meio do amor - proporcionada pelo pai (Freud, 1927). Um Deus pessoal, psicologicamente falando, não é senão um pai exagerado [..]. O todo-poderoso e justo Deus e a bondosa Natureza aparecem pra nós como grandes sublimações do pai e da mãe, ou, melhor, como reanimações e renovações das representações infantis deles (Freud, 1910)".

Com certeza, a análise inovadora e surpreendentemente original de FREUD a respeito da psicodinâmica das crenças e emoções religiosas é uma contribuição definitiva ao estudo da religião. Ligando as representações de Deus à figura paterna e os sentimentos religiosos a experiências e ao vinculo com o pai, Freud afirmou que o processo de desenvolvimento condiciona a crença. Neste livro, a Autora demonstra e aplica as próprias idéias de FREUD para a sua própria descrença, pois as mesmas normas psíquicas que favorecem a crença devem também condicionar a descrença.

Trata-se de uma leitura estimulante e que nos inquieta tal qual a obra psicanalítica freudiana. A autora me convenceu que a ausência paterna ou a presença de um pai nada protetivo e ou nada provedor condiciona a nossa crença ou nossa descrença. Sim, Freud é judeu, todavia, na sua infância, foi criado por sua ama, uma beata católica que o levava à missa. Depois, quando adulto, Freud ganhou de presente de seu pai (que o sentia como um homem nada provedor) a Bíblia de Philippson, que era repleta de imagens egípcias, gregas e romanas. A partir de então, Freud tornou se um colecionador de imagens e antiguidades, uma verdadeira paixão (o que não é admissível a um bom judeu).

 Desnecessário dizer que a leitura desta obra é recomendável. Seguindo a mesma linha de leitura, já está na minha escrivaninha para especial estudo a obra de Betty B. Fuks, "FREUD e a JUDEIDADE: A vocação do exílio", que ao invés de examinar o grau de influência do judaísmo sobre FREUD, propõe considerar a própria criação da psicanálise como expressão maior de uma judeidade. O argumento de sua argumentação, segundo o seu editor, reside na demonstração de que os traços de exílio e de êxodo inscritos na história do povo judeu e a prática de leitura-escritura infinita do “Livro dos livros” desempenham papel essencial na descoberta freudiana do inconsciente. Creio que FREUD não tendo condições para crer em YHVH, criou a sua própria religião fundada na razão humana e se auto intitulou um JUDEU SEM DEUS.

BRINDE: E-book gratuito de "A interpretação dos Sonhos" (em inglês).

Sobre o Autor

Henrique Chagas: Henrique Chagas, 49, nasceu em Cruzália/SP, reside em Presidente Prudente, onde exerce a advocacia e participa de inúmeros eventos literários, especialmente no sentido de divulgar a nossa cultura brasileira. Ingressou na Caixa Econômica Federal em 1984. Estudou Filosofia, Psicologia e Direito, com pós-graduação em Direito Civil e Processo Civil e com MBA em Direito Empresarial pela FGV. Como advogado é procurador concursado da CAIXA desde 1992, onde exerce a função de Coordenador Jurídico Regional em Presidente Prudente (desde 1996). Habilitado pela Universidade Corporativa Caixa como Palestrante desde 2007 e ministra palestras na área temática Responsabilidade Sócio Empresarial, entre outras.

É professor de Filosofia no Seminário Diocesano de Presidente Prudente/SP, onde leciona o módulo de Formação da Consciência Crítica; e foi professor universitário de Direito Internacional Público e Privado de 1998 a 2002 na Faculdade de Direito da UNOESTE, Presidente Prudente/SP. No setor educacional, foi professor e diretor de escola de ensino de 1º e 2º graus de 1980 a 1984.

Além das suas atividades profissionais ligadas ao direito, Henrique Chagas é escritor e pratica jornalismo cultural no portal cultural VerdesTrigos (www.verdestrigos.org), do qual é o criador intelectual e mantenedor desde 1998. É jurado de vários prêmios nacionais e internacionais de literatura, entre eles o Prêmio Portugal Telecom de Literatura.

No BLOG Verdes Trigos, Henrique anota as principais novidades editoriais, literárias e culturais, praticando verdadeiro jornalismo cultural. Totalmente atualizado: 7 dias por semana.

 

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