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RESENHAS
Segunda antologia de escritoras: 30 contos femininos
Chico Lopes*
O escritor Luiz Ruffato, um dos nomes mais famosos da atual literatura brasileira, organizou e lançou em julho de 2004 uma antologia chamada “25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira”, pela editora Record. Fez sucesso. E, como um panorama desse tipo tende sempre a ser incompleto, uma segunda antologia se impôs. É “Mais trinta mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira”. O livro saiu agora, no dia 22 de maio, lançado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, e muitas escritoras que tinham ficado de fora do primeiro só agora são registradas.
A capa não é muito feliz: o desenho é de um número 30 transformado em sola de uma sandália, mas isso não é muito claro a princípio. A capa poderia ser vermelha, ao invés de laranja daquele jeito. Percalços de uma edição talvez apressada.
O prefácio é do próprio Ruffato, e ele esclarece as suas intenções, estabelece certos números estatísticos sobre as relações entre autoras e seus locais de nascimento ou atuação literária etc. Ainda assim, esse tipo de esforço – em que alguns dados comparecem, como o fato de a maior parte da literatura brasileira de hoje, incluindo naturalmente a feminina, ser eminentemente urbana – tende sempre a ser meio vago, porque generalizante. No entanto, amplos e contraditórios como podem ser os resultados de uma antologia que se pretende panorâmica, não se pode deixar de louvar Ruffato por isso. Ele junta o oportunismo editorial – o sucesso da primeira antologia o explica – a ótimas intenções. E é ótimo que tanta gente desconhecida tenha a sua vez.
Um pouco de tudo
Confesso que antologias não me agradam muito, e aqui falo como leitor. São, por natureza, desiguais, e as escolhas sempre nos dão a impressão de que poderiam ter sido outras, em alguns casos, mas é mais difícil avaliar quando os autores presentes são, alguns, até aí inéditos em livro. Faz-se o chamado esforço de simpatia corporativa, em alguns casos, e, em outros, descobertas que parecem interessantes, remetendo a gente que parece promissora. Damo-nos sempre melhor com o que já conhecemos, quase sempre, e com o que já passou pelo nosso filtro de subjetividade. A leitura de novos é penosa, porque esbarra em certos hábitos mentais, certas predileções consolidadas.
Nos contos dessa segunda antologia, reconheço o que pode ser encontrado em muitos contos femininos Internet e jornais e revistas literárias afora – a propensão a um retrato da intimidade da mulher sempre tendendo para a coragem existencial. As lições de décadas de feminismo, de abertura confessional, de luta árdua contra o machismo (que, certamente, nunca terminará) estão lá. As mulheres se confessam, jorram os sentimentos contraditórios, e por vezes os contos assumem formas meio humorísticas, ainda que em tom muito cruel de paródia (“Avon”, de Andréa Del Fuego). Os cenários urbanos, a presença de mulheres de classe média e suas descobertas e náuseas, se sucedem. Vanessa Maranha, de Franca, que já conheço, prova seu talento irônico e poético com “Dias melhores”, desmitificando a relação de uma mulher com sua terra natal, sua família e certo amor do passado. Rosângela Vieira Rocha, de Brasília, que também conheço, conta a história patética-irônica de uma escritora estreante que é rejeitada por seu editor com um argumento absurdo e cai na prostração, em “A oitava onda”. Ana Teresa Jardim mostra humor e uma veia crítica sutil, pela visão de um pedaço do mundo do cinema, em “Vício de roteiro”.
Fiquei com atmosferas interessantes aqui e ali, vi que a força da mítica “transgressão” se faz presente em alguns contos (a tendência a confundir intimidade com obscenidade prossegue fazendo bons e maus efeitos).
O esforço de Luiz Ruffato me pareceu, desde a primeira antologia, muitíssimo elogiável. E creio que mais antologias do gênero poderão aparecer. O que vale, sobretudo, é a visão plural – do qualitativo ao mais ou menos, do melhor ao mais equivocado, as mulheres escrevem, desabafam, criam. Não são diferentes dos homens, de jeito nenhum – erram e acertam, obviamente. Quem lucra é o leitor.
Sobre o Autor
Chico Lopes:
Chico Lopes é autor de dois livros de contos, "Nó de sombras" (2000) e "Dobras da noite" (2004) publicados pelo IMS/SP. Participou de antologias como "Cenas da favela" (Geração Editorial/Ediouro, 2007) e teve contos publicados em revistas como a "Cult" e "Pesquisa". Também é tradutor de sucessos como "Maligna" (Gregory Maguire) e "Morto até o anoitecer" (Charlaine Harris) e possui vários livros inéditos de contos, novelas, poesia e ensaios.
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Francisco Carlos Lopes
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