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RESENHAS
Uma prosa visceral
Ronaldo Cagiano*
Contrariando a tendência natural de suas premiações, o Prêmio Jabuti (destinado pela Câmara Brasileira do Livro ao melhor livro do ano) foi conferido ao livro de contos “À sombra do Cipreste”, de Menalton Braff, um gaúcho de Taquara que escapou à perseguição do golpe militar de 64, radicando-se em Serrana, interior de SP, onde exerce plenamente suas atividades intelectuais, como professor e escritor de significativa obra. O “Jabuti” faz justiça não só ao seu trabalho, mas a tantos quantos têm reivindicado espaço na mídia e na produção editorial dos grandes centros.
O trabalho de Menalton vinha recebendo especial acolhida de importantes escritores. Mesmo antes de assinar com seu próprio nome este livro premiado, pois, no passado, para fugir ao anonimato ou despistar a ira dos censores do golpe, adotou o pseudônimo Salvador dos Passos, com o qual lançou pela Editora Seiva duas obras: “Janela aberta” (romance) e “Na força de mulher” (contos). Entre os que saudaram sua obra, Moacyr Scliar reconhece nele um escritor de fôlego, que confere intensidade dramática aos seus contos, colocando o ser humano como matéria e circunstância de sua incursão literária. E arremata em seu prefácio: “Não tenham dúvidas os leitores: estamos diante de um notável contista”.
Com o prêmio, saiu do anonimato um grande escritor. Logo em seguida, sua obra alcança as livrarias de todo o País. Não obstante estar sendo requisitado para palestras, entrevistas, seminários e contatos com o meio intelectual, Menalton mantém a rotina de professor de Literatura no interior de São Paulo, lecionando em cinco cidades ao longo da semana, entre as quais uma em Minas Gerais, sempre acompanhado de sua esposa, também professora, Roseli. E encontra tempo para terminar um novo livro. Trata-se de um romance que foi lançado, há poucos dias, com grande repercussão: “QUE ENCHENTE ME CARREGA?” (Ed. Palavra Mágica, 144 páginas R$ 28).
Em seu novo livro, a figura de Firmino delineia uma densa e tensa narrativa em torno da resistência humana diante dos desafios de um mundo competitivo, excludente e avassalador. Entre continuar a produzir sapatos com habilidade e romantismo de artesão e ser corrompido pela engrenagem do sistema capitalista que lhe exige adaptar-se ao modelo de produção em série, Firmino vai desfiando seu novelo de inquirições, contrapondo sua realidade imutável a uma outra bastante veloz e agressiva aos seus valores. Entre a arte e o consumismo, Firmino dialoga com o seu tempo e suas metamorfoses, que tanto lhe assombram e desiludem, situação que só é mitigada com lembranças de uma paixão, Elvira, que renasce do fundo de um passado que lhe traz suaves reminiscências.
Em toda a obra, Menalton dá asas à inventividade, adotando uma postura estilística que lembra o trato, a renovação da linguagem e a transgressão dos cânones, como fez José Saramago. No final do livro, por exemplo, Braff rompe com a estrutura: abstém-se dos pontos, parágrafos e outras regras lineares, para fundar, num ritmo caudaloso mas poético, um fluxo narrativo instigante, conferindo maior destaque e profundidade às intervenções do personagem ou do narrador, o que, em si, não deixa de ser um recurso ousado e plasticamente impactante, costurando uma linguagem densa e original.
Com “Que enchente me carrega”, Menalton Braff não só demonstra sua versatilidade criativa, como consolida-se como um dos grandes ficcionistas da atualidade. Prova, também, ser possível produzir literatura de bom nível e competir em igualdade de condições estéticas com os demais autores, rompendo a notória indiferença da mídia para com obras fora do mercado ou do circuito tradicional. O terrível hiato que há tanto alijava grandes talentos começa a ser quebrado com esse prêmio. E afronta os esquemas de patrocínio cultural sempre viciados por empreendedores que insistem em relegar às gavetas autores que fazem boa literatura, até com altruísmo e toda sorte de dificuldades, mas são inviabilizados por uma lógica editorial injusta e cada vez mais guetificadora, que acabava impondo à mídia best sellers de duvidoso mérito, em detrimento de uma melhor safra.
Sobre o Autor
Ronaldo Cagiano:
De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.
Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.
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Pra começo de conversa, por Viegas Fernandes da Costa.São 35 crônicas selecionadas pelo próprio autor dentre as melhores que publicou na mídia. Segundo a escritora Urda Alice Klueger, que assina a apresentação da obra, “são textos que nos podem fazer rir quanto revirar o que temos de mais íntimo e nos apunhalar de dor; são como afiadas espadas de luz que Viegas cria com leveza ou angústia, e que nos esperam no livro para nos atravessar” Leia mais
Contos do Entardecer, por Antônio Ribeiro de Almeida.
Antônio Ribeiro de Almeida, escritor, de São José do Rio Preto/SP, encaminhou seu livro de contos: "Contos do Entardecer". Um excelente livro e gostoso de ler. Para minha alegria, Ribeiro, encaminhou o arquivo do livro e pediu-me que fosse distribuído gratuitamente aos leitores da Verdes Trigos. Não somente eu ganhei este presente, mas você também. Leia mais