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RESENHAS
À Sombra do Cipreste
Menalton Braff*
"Quando se lê o livro de contos, À Sombra do Cipreste, de Menalton Braff, escritor do seleto grupo dos que escrevem bem neste país, chama atenção, a sensibilidade com que o autor penetra na subjetividade do ser. Este mapeamento da ambigüidade humana acaba por revelar, como num jogo de espelhos, toda a preocupação da sua alma inquieta. Suas histórias levam-nos a rincões profundos.
Seus personagens remetem-nos ao avesso e à reflexão, de como é complicado para o homem avaliar-se, medir-se à sombra e à claridade que o possui. Sentem-se transportados do nicho imemorial da alma, ao imerso, paradisíaco e profundo lago amniótico, agarrando-se ao corpo, com seu destino esfíngico de penumbra e calor. "Mas então ela me larga sobre a cadeira." Outra vezes desabafam os disparates. "Suas risadas cheias de intenções ambíguas me inquietam", até a geografia triste que as inserem no social robotizado: "Uma rua tão melancólica e metalúrgica", este livro enriquece a literatura brasileira e encanta-nos com a ficção da melhor qualidade.
Personagens do dia-a-dia, sangram, inconformados com o universo humano fracionado, prisioneiros da saudade primordial, repleta de bolhas coloridas de sabão, cujas alegrias de segundos efêmeros são esmagadas pela atmosfera densa. Captam com nitidez e lirismo, o barro burilado com ferro e fogo atrelado ao universo da família, da educação religiosa, dos regionalismos - valores de uma sociedade insaciável para acumular até explodir. No conto: "Paisagem do Pequeno Rei", sente-se o individualismo entranhado, que: "jamais aprenderia a dispor de tudo com todos"; gerações que se sucedem umas às outras numa dança egoísta e asfixiante. O "nonsense" da trajetória humana desmistifica o jogo de palavras, intenções e desencontros, pelos quais suas "personas" exaurem-se; um bailado movediço de seres, que, ao tentarem alçar o vôo das águias, acabam por patinar, rastejando na superfície derrapante e empoeirada do cotidiano. O livre-arbítrio se vê aprisionado como palavra inútil, até o dia da restauração, se vier. Contudo, a esperança viva flui no conto: "Elefante Azul": "o que me invento para tentar entender os significados". E ainda em: "Guirlandas e Grinaldas: o Perfume", a decepção, com o mundo não visto, pintado em cores fortes, harmoniosas, multicoloridas - o universo de clichês institucionalizados: "Em casa, na escola, na igreja, em toda parte havia sempre alguém ensinando que um dia o perfume se instalaria definitivamente sobre a Terra, e que ela, então, emanando uma fragrância divina, seria outra, bem diferente".
Entretanto, o sol se põe rápido no coração dos personagens, que ficam à mercê da sombra, denunciando perplexos, a enorme e indigesta resistência que as encerra impotentes, na teia universal do projeto vida. Em: "Estátua de Barro": "Mera tentativa frustrada de resolver o mistério da caça e do caçador, ambos presos em uma tapeçaria antiga, coberta de poeira, que o tempo descolore mas não liberta", percebe-se com acuidade, os extremos tocando-se, pincelando-se com híbridas mãos, na mesma tinta barrenta.
Menalton burila em contos curtos, com finura e riqueza metafórica, o drama do absurdo que nos possui; ambivalência e distanciamento entre o que se diz e faz, do sentir que perde o cheiro e o rastro na senda espessa deixando-nos sem chão, incomunicáveis. Funde ficção e realidade nos limites de um outro portal, trilha caminhos pelos quais é preciso dar o salto, sonhar e tornar factível a transcendência do ser."
(A Cidade - 20/08/00 - Marcos Zeri Ferreira)
Sobre o Autor
Menalton Braff: Professor, contista e romancista, Menalton João Braff nasceu em Taquara/RS, de onde saiu muito cedo para cumprir um itinerário nem sempre prazeroso por este mundo de Deus. Abandona o pseudônimo de Salvador dos Passos com a publicação de À Sombra do Cipreste, livro com que ganhou o Prêmio Jabuti 2000. Em novembro de 2000 lança o romance "Que Enchente me Carrega?". Seu mais recente romance é Castelos de Papel.
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