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Por que os homens não voam?

Pablo Morenno*

Pablo Morenno surge como um cronista consumado, neste seu livro de estréia. Suas crônicas dão a impressão de terem sido escritas para livro, e não para jornal. Como os bons cronistas, Morenno extrai do cotidiano e da atualidade os aspectos que, por demasiado humanos, não perdem o interesse com a passagem do tempo.

Seus textos possuem um caráter fortemente lírico. Na esteira de Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e outros cronistas brasileiros consagrados, Morenno dá atenção especial à linguagem, por saber que a transposição da realidade à literatura não prescinde da criação verbal, da luta com as palavras. Não é por acaso, aliás, que Morenno guarda, em suas gavetas, inúmeros poemas escritos por ele, que cedo ou tarde deverão vir a público, revelando mais uma faceta desse autor que, apesar da juventude, já demonstra segurança e domínio sobre a sua criação. (Paulo Becker)

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Como não voamos, em sentido estrito, a ninguém mais foi dada a metáfora do vôo. Aqui Deus acerta outra vez. No corpo, temos braços que abraçam com mãos que acariciam. Na alma, somos um pássaro de esperanças e sonhos. (Por que os homens não voam?).

Fecham se as casas ao lusco-fusco, até à luz do sol o medo anda grudado em nossa pele como um beijo indesejado. Teme-se sair à noite, atender à porta, olhar pela janela. Teme-se pelos filhos na escola, pelos pais que foram à casa de amigos, pela avó que foi à missa. (Quem tem medo de lobo mau?).

O mundo dos adultos, cheio de competitividade, nos assusta e traumatiza. Desejando poupar as crianças da dor de um futuro infeliz, tornamo-nos obsessivos. A saída é amadurecê-las como frutos temporãos. (Onde está Peter Pan?).

Álvaro atravessou a rua. Uma bala atravessou a bala atravessou seu alvo e o alvo sonho de Álvaro. (...) A bala seguiu sua trajetória. Álvaro não. (Álvaro).

Defendamos o amor. Eu e você sabemos, o amor jamais é culpado. Por amos se morre, mas jamais se mata. (Em defesa do amor).

Ao amar, sê como um monge orando. (Sem extravagâncias).

Quero amanhã de manhã, e nas manhãs que se seguirem, poder estar vivo pra apaixonar-me pelas estrelas e indignar-me com as péssimas músicas que fazem sucesso, coisas triviais. Como sei que vou morrer de qualquer jeito, pretendo seja por causa natural. Causa natural eu chamo aquela que nos incendeia em profunda indignação, mas contra a qual não há nada a ser feito pelos homens. O que não é, absolutamente, o caso da guerra. (Sobre vivos e mortos).

Diz o mito do paraíso, Deus bipartiu-se em masculino e feminino para que ambos, na convivência, fizessem o caminho de volta à imagem e semelhança do único. As mulheres, mais versáteis, já abriram sendas no mundo masculino. Os homens, mais preconceituosos, nem sequer têm um plano de vista ao mundo feminino. (Fale com ela, e com todos).

Lembre-se, adaptar-se à claridade é um dos primeiros exercícios do bebê, por isso, amar é sempre vir à luz. (A hora da claridade).

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Sobre o Autor

Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.

Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno

 

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