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RESENHAS
As Iluminações de Zenóbia
José Aloise Bahia*
O relançamento do Livro de Zenóbia (Lamparina Editora) na Feira do Livro de Belo Horizonte, de autoria de Maria Esther Maciel, com ilustrações florais de Elvira Vigna e apresentação em três atos de Nelson de Oliveira, foram coroação da voz humanista que existe dentro de cada um de nós. No panteão dos deuses e deusas, uma Ninfa criativa ordenando o caos em suas breves listas. Embalada por Zéfiro, em suas estórias e memória prodigiosa, transportam os leitores para o reino da imaginação, digno de um embate sem igual contra qualquer tipo de Quimera.
Coexistem em suas 160 páginas hibridismos da melhor espécie. Reflexões críticas, prosas poéticas, ficção, pequenos ensaios do cotidiano, influenciados pela narrativa lírica da autora. Escritos de maneira carinhosa, irônica, sutil e original, tornando a leitura prazerosa sem início ou fim. Pois, pode-se começar ou recomeçar o livro a partir de qualquer página.
Os conjuntos de textos revelam as idades, encontros e desencontros, a família, as amigas, as horas felizes, os cadernos, os contos, as palavras prediletas e os livros de cabeceira de Zenóbia. Uma personagem, ou uma figura nos dizeres de Lúcia Castello Branco, condensação de todos os nomes e coisas; singular, raro e sonoro: Zenóbia.
Nascida e criada na região do Alto Paranaíba, Patos de Minas; Maria Esther Maciel, revela que existem algumas Zenóbias longevas na família. Foi a partir deste universo mineiro, onde ainda se tem tempo para saborear uma torta de abóbora com canela e gengibre, e o chão com raízes firmes, que a autora reverencia e fazem brotar em meio às orquídeas e bromélias os traços, reminiscências, imagens, fragmentos, num ritmo esgarçado, as epifanias, assombros e iluminações da personagem, conservando com lucidez uma decomposição-recomposição da linguagem num ritmo não linear, desvencilhado da metalinguagem e da intertextualidade, abrindo-se a uma experiência mais radical de criação e invenção. Onde a delicadeza e a sutileza do dia a dia em suas inquietações fazem renascer um pacto saudável com a ficção, avessos aos formalismos e realismos em excessos, tão presentes na literatura brasileira na atualidade.
A ênfase do livro está na criatividade, imaginações e iluminações da personagem. Que sente em seus poros as sinestesias prazerosas, como também o seu oposto: o desprazer em apontar as aves em extinção. Revelando preocupações trágicas, exploradas nas sonoridades das palavras em suas listas. Por sinal é encantador a leitura em voz alta das listas de Zenóbia. Com requinte e olhares metafísicos, a humanidade ganha em qualidade nos olhos desta Ninfa chamada Zenóbia. Literatura inteligente e da melhor qualidade, indispensável para todos os estudantes, poetas, cronistas, contistas e romancistas, o Livro de Zenóbia é um poderoso antídoto contra a truculência do mundo e da realidade. Uma pétala colorida e sadia que se lê "com o prazer com quem alimenta um pássaro".
Sobre o Autor
José Aloise Bahia:
José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.
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