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RESENHAS
NHANDE REMBYPY
WILSON GALHEGO GARCIA*
Livro nascido de dificuldades enfrentadas durante pesquisa de campo, ao serem coletadas informações referentes ao universo botânico Kayová (1974-1984), objeto de interesse acadêmico na época. Para suprir lacunas foi iniciada a gravação de dados que logo extrapolaram o objetivo principal daquela pesquisa, ou seja, o estudo da etnobotânica Kayová.
Surgiu, então, a idéia de utilização do material gravado, de forma que este fosse acessível aos Kayová. Assim, houve um segundo passo, que envolveu dezenas de horas de gravações de assuntos relativos a cantos rituais e profanos, mitos de origem, religião, parentesco, plantas, animais, cores, aspectos da vida cotidiana entre outros. Todo esse material gravado foi transcrito e traduzido para o português corrente entre os índios Kayová de Amambai.
ORELHAS
Não é fácil apresentar um trabalho desenvolvido ao longo de mais de trinta anos, como o que Wilson Galhego Garcia se propôs. Trata-se, na realidade, de escrever sobre uma proposta de vida que ultrapassa de longe um trajeto acadêmico para granjear os títulos exigidos por uma carreira que está se tornando cada vez mais difícil, e em todos os sentidos. Idas e voltas ao campo à própria custa, preocupações com os amigos índios, atendendo-os em suas necessidades, orientando-os nos seus contatos com a sociedade envolvente, recebendo-os em sua casa para trabalhos conjuntos, trabalhos esses que se consubstanciaram em mais de setecentas páginas de textos bilíngües...
É uma vida inteira dedicada a uma causa, obviamente sem deixar de lado todas as preocupações e todo o carinho para com os seus familiares, todos os afazeres e obrigações de um professor, seus compromissos com o Departamento e a Faculdade, com a orientação de alunos – e isso num campo distanciado da antropologia e da etnobotânica, pois Wilson leciona numa Faculdade de Odontologia.
Quanto à importância de sua contribuição para o conhecimento da cultura e da mitologia guaranis, e o aproveitamento dessa contribuição pelos Kayová e Ñandeva, eu só posso remeter o leitor às palavras de Bartolomeu Melià, maior conhecedor vivo da língua e cultura guaranis; e, ainda, às palavras da professora Édina Silva de Souza, a filha de Marçal de Souza – Tupã-I, coordenadora do Projeto Escola “Tengatuí Marangatu”.
Escreve ela, a respeito do “Mito dos gêmeos”, editado por Wilson Galhego Garcia, com tradução do kayová para o português por Aniceto Ribeiro: “Era exatamente o que estávamos precisando para remotivar, enriquecer as aulas. E transformou-se no livro de leitura das crianças da primeira série. Primeiramente o professor leu todo o livro, depois para as crianças. Depois elas mesmas passaram a ler por partes. E a parte que liam, cada uma queria e contava em sala de aula, como aula de interpretação oral. Esse livro foi muito manipulado pelas crianças pois nele elas localizavam as famílias silábicas, conhecidas.
De tanto uso pelas crianças e pelo professor foi trocado de capa duas vezes com papel pardo. As crianças gostam de pegar e olhar o livro, mesmo as que ainda não saber ler procuram descobrir através dele onde tem uma letrinha do seu nome. É como se fosse mágico, elas sabem que ali está registrada a CRENÇA (mito), que é o que elas acreditam e faz parte da cultura, faz parte delas. É o ouvir e o ler vendo, enxergando na mente”. É preciso dizer mais? Silvia M. S. Carvalho – Araraquara, junho 2000.
Sobre o Autor
WILSON GALHEGO GARCIA:
Wilson Galhego Garcia é formado em Letras, com mestrado na área de Lingüística e doutorado em Antropologia Social. No mestrado (1979) e no doutorado (1985), ambos defendidos com distinção da USP, ele trabalhou, respectivamente, com “O domínio das plantas medicinais entre os Kayová de Amambai”, pesquisa depois ampliada em “O universo botânico kayová, um trabalho pioneiro da antropologia cognitiva no Brasil”. As preocupações do autor nunca se voltaram, contudo, tão-somente para a etnobotânica: a cultura kayová-guarani de uma forma mais ampla foi por ele criteriosamente documentada, sempre dando voz ao índio, de quem se tornou mais do que amigo, cumprindo com imenso envolvimento e responsabilidade as funções que caracterizam o CEIMAM (Centro de Estudos Indígenas “Miguel A. Menéndez”) de que é membro: as de estabelecer uma interface entre os índios e a sociedade nacional. Além do seu trabalho com os índios, Wilson Garcia (que defendeu livre-docência em 1991 e titulação em 1998 na FO-UNESP/Araçatuba) está desenvolvendo um trabalho junto à comunidade da região de Birigüi, com crianças e jovens, em colaboração com as pastorais e outras entidades de promoção humana.
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