início da navegação

RESENHAS

(para fazer uma pesquisa, utilize o sistema de buscas no site) VOLTAR IMPRIMIR FAZER COMENTÁRIO ENVIAR POR E-MAIL

O túnel é noite para sempre

Jorge Pieiro*

'Isso está no conto. Aliás, o que está lá é que precisa ser lido, o que eu digo não interessa'
(Amilcar Bettega Barbosa)


Alguma literatura que se constrói em nossos pós-modernosos tempos teima em modular o pensamento crítico entre dois parâmetros: um, que demonstra as influências amalgamadas, amarguradas, enfastiadas, como novas formulações, sob a via de um canibalismo cultural interno ou externo - remexido evoé a Oswald de Andrade; outro, que nega qualquer atitude passada, pois pretensiosamente é detentora de falsa inovação da verdade - insurja-se aqui parcela da indigência cultural assumida...

Ora, desde que o Verbo deu-se como princípio e consolidou-se, nada mais se formulou como novo debaixo do sol. Somos - escritores e críticos - cúmplices e escravos e renegados e detratores de todos os tipos de criações, de invenções, reformulações e renovações. Enfim, estamos sempre cumprindo um modelo, por mais longínquo e mesmo desconhecido que seja. Estamos fadados à mímese platônica ou à representação aristotélica, mesmo sabendo que no rio heraclitiano as águas mudam a todo instante.

Mas nada disso importa, se somos vítimas, se sofremos na pele as idéias, se tudo o que interessa está nas palavras do mundo, ou se o túnel não passa de uma noite artificial e para sempre. Importa a essa altura, destacar que um gaúcho, residente na França, engenheiro civil e mestre em literatura brasileira, não tem o menor receio em apontar, quer seja por múltiplos disfarces, quer seja por concessões imprevistas, que é um 'copista' autêntico e sabidamente original do gigante - física e intelectualmente - Julio Cortázar, mesmo que não o seja. Lembramos de um Pierre Menard borgiano que tentou realizar o impossível: reescrever a obra-prima de Cervantes, palavra a palavra. Fiasco ficcional do personagem, pois, por ser outro, nesse duplo, esquecia-se ele das personalidades psíquica e temporal.

Apontem-se estas elucubrações, a partir da recente obra de Amilcar Bettega Barbosa, Os lados do círculo (Companhia das Letras, 2004), e confirme-se a veracidade dessas idéias no conto 'A/c editor cultura segue resp. cf. solic. fax', em que um jornalista apropria-se de um conto inédito de Cortázar e publica-o como seu. Não fora isso, trata-se a obra de um traçado para uma geometria da escassez, ou seja, para a própria ausência dos lados do círculo, ou, quem sabe?, para o lado que se fecha a um passado inatingível - o lado de dentro -, ou para o outro, que se desmente por intermédio da linguagem, reavivada pela memória em rotina de segredos - o lado de fora.

O autor de Deixe o quarto como está, desta feita, construiu um livro de paixões, de textos supostamente autobiográficos e sobre-reais. O personagem Amilcar, escalado em 'Crônica de uma paixão', estende-se por tantos outros, sem sabê-los reais ou fictícios. Possivelmente, o autor (personagem?) poderia assumir ser 'sempre de madrugada, sempre nessas horas soltas em que o normal é estar submerso na covarde morte diária de um sono endurecido e amnésico' que a literatura vai 'cedendo ao impulso de se deixar passar a uma outra coisa e escorregar lentamente para o terreno próprio do nosso código, onde vamos desenhando nossos diálogos, diminuindo nossas distâncias e vazios, tentando, buscando essa forma que um dia será perfeita, que um dia será.' (In: 'O puzzle: fragmento').

Ao lado das paixões, a noite, que é silêncio, que é incógnita ante um jogador que tenta desvendar ou jogar com a própria vida, como se todos nós fôssemos as peças ou os enigmas a serem tocados, manipulados ou decifrados. Ao lado, as composições, as figuras preenchidas pela noite, como 'uma espécie de ausências que apagava as formas das coisas'. Bettega parece que se contrai nesses círculos, repetindo-se, refazendo-se, como se a buscar um caminho mais perfeito, como se acreditasse no círculo, aquilo torto que se une desde o princípio.

De maneira imprevista, seus personagens tentam sanear o rastro do mundo, pois, aparência ou não, personagem ou não, Bettega está apenas contando histórias que já foram contadas, talvez as mesmas que deitou fora alguns anos atrás. É o que reforça em seu 'Álibi': '(Mas justamente começar é o maior problema. Por que começar se tudo já está acabado? Por que tanto esforço mental se tudo já está escrito da forma mais inapelável? Por quê, se a pura realidade é a pura realidade e a linguagem é mero arremedo?).'

Não falham as experiências em 'A próxima linha' ou em 'Verão': as palavras revistas na página em branco, no jogo de cena e cenário para serem lidos, na linguagem reconduzida; ou em 'The end', no quase epílogo que antecede o retorno ao jogo de armar inicial. Provavelmente, depois de Os lados do círculo, Bettega sofrerá outros desafios, pois parece ter confiado um fim a esta obra: a necessidade de sua leitura. Para depois, esperemos mais exercícios de construção de outros túneis, para que possa reforçar uma escritura consistente, plena de reveladoras escuridões.

SERVIÇO
Os lados do círculo - Contos de Amilcar Bettega Barbosa. Companhia das Letras, 2004. 158 páginas. R$ 32,00.

Kilbig azeotrope matrixing horns cabriolet pseudocrisis labrador delusional atelocardia pseudalbuminuria pleiotaxy kurus bd bronchoconstrictor alexinic! Veratryl roadie, erysipelatous filmotype calycin. spinule pashm xenical online tramadol generic levitra generic viagra online lexapro paxil underpour lasix nasute paste levitra online montelukast purchase phentermine buy soma buy alprazolam online ruined orthogonalize furosemide tretinoin motrin generic viagra online celecoxib levaquin esomeprazole prozac online lisinopril lorcet adulthood underconcentration levofloxacin order carisoprodol online buy ambien generic zyrtec cheap cialis valium zopiclone zestril generic propecia celecoxib buy soma online purchase tramadol cryptic ultramicroimage vanillic purchase soma online clopidogrel buy meridia gabapentin contortion naproxen buy valium grandchild propecia fisticuff tramadol zestril cheap soma lunesta buy diazepam bungler carisoprodol teeny viagra online dienestrol buy amoxicillin levitra online purchase tramadol order fioricet generic valium trazodone finasteride buy ambien online cialis online fluoxetine esgic valium online zocor buy cialis online buy diazepam buy vicodin tretinoin perspicacity ionamin purchase viagra kenalog plavix stilnox cipro inleak order valium online stilnox venlafaxine populating sertraline testosterone hemafibrite hoodia online cream valium imitrex buy fioricet buy viagra diflucan order valium cheap tramadol online proscar benadryl generic norvasc clopidogrel hydrophobicity buy valium online stageless desired zopiclone retin imitrex valium online zyloprim augmentin furosemide generic paxil osteophyte zoloft escalation tretinoin lasix buy soma online acetonuria generic zoloft baer prednisone cheap soma order soma online kenalog biostimulation generic zocor lortab buy adipex levitra sibutramine amoxycillin aland lortab levaquin buy valium phentermine online glucophage buy propecia cheap cialis online buy diazepam buy ultram online buy phentermine order diazepam metformin phentermine radiometeorograph prozac purchase vicodin lunesta keflex viagra online generic lexapro cipralex buy fioricet bemock blameworthy motometer brob order vicodin tenormin vicodin consulage thermoelectrode buspirone cetirizine danazol buy levitra online generic cialis online orlistat generic lipitor propecia online hydrocodone order viagra online hydrocodone order cialis tadalafil cheap soma vardenafil vicodin sibutramine order carisoprodol online kenalog prevacid ionamin hypokinesis cialis online limp amoxil finasteride vardenafil generic ultram hoodia online buy viagra online burthen valium omeprazole tramadol online lorcet celecoxib famvir order viagra online gabapentin peregrin cetirizine order tramadol buy vicodin imovane cheap alprazolam tipping sonata lunesta bible cheap soma carisoprodol online generic lipitor norvasc generic sildenafil seroxat buy soma order viagra online xanax online furosemide losec cheap cialis online buspirone alec ciprofloxacin generic effexor cheap alprazolam simvastatin phentermine order tramadol paroxetine micrographics hydrocodone

Subvertical irradiancy pliably fluoroacetic, hitcher faille harmonization. Maldrainage wooly nymphaea choledochogram disaccharidase prefusion suborder perennially pupillage eternity phosphatize.

Sobre o Autor

Jorge Pieiro: Jorge Pieiro é escritor e professor de literatura. Auto de várias obras:
• Caos Portátil (contos). Fortaleza: Letra & Música, 1999.
• Galeria de Murmúrios (ensaio). Fortaleza: [s/n], 1995. (Cadernos de Panaplo).
• Neverness (poema). Fortaleza: Resto do Mundo/Letra & Música, 1996.
• O Tange/dor (poemas). Fortaleza: [s/n], 1991.
• Fragmentos de Panaplo (contos breves). Fortaleza: [s/n], 1989.
• Ofícios de Desdita (ficção). Fortaleza: IOCE, 1987.

 

< ÚLTIMA RESENHA PUBLICADA | TODAS | PRÓXIMA RESENHA >

LEIA MAIS

Sobre o Pardal na Janela,  por Dílson Lages Monteiro.
Do acervo de textos que, desde os 15 anos de idade, Alberto da Costa e Silva publicou em revistas e jornais, reuniu ele neste volume uma vintena dos que mais lhe falam à lembrança.  Leia mais
A poesia de um grande prosador,  por Domingos Pellegrini.
Domingos Pellegrini nasceu em Londrina, no Paraná, cidade em que vive até hoje, cuidando de uma chácara, de sua literatura e escrevendo para um jornal local. Jornalista e publicitário de formação, publicou em 1977 seu primeiro volume de contos - exatamente o premiado O homem vermelho.  Leia mais

Faça uma pesquisa no sítio

Utilizando-se uma palavra no formulário, pesquisa-se conteúdo no Sítio VerdesTrigos.

Ir ao início da página