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RESENHAS
Antologia de Brasília: bonita e aberta
Chico Lopes*
Conheço o escritor Ronaldo Cagiano já há algum tempo. Ele é bem o exemplo do lutador solitário pela literatura – pelo país inteiro, faz amigos, publica resenhas, divulga autores novos e promove uma infatigável divulgação desses autores entre si, instigando amizades que – ao menos no meu caso – foram solidificadas.
Em segredo, ele preparou-me uma surpresa: a inclusão de um conto meu numa antologia que foi lançada neste mês lá em Brasília, a do “Conto brasiliense”. É uma edição da Projecto Editorial, de 416 páginas, que vale ser conhecida: muito bem feita, capa de bom gosto, cuidados gráficos saltando aos olhos.
Escolheu um conto meu já publicado pelo jornal “Rascunho”, em outubro do ano passado – “Episódio de caça”. Fiquei surpreso, porque, não sendo brasiliense – a única relação que possuo com Brasília é precisamente essa, de Internet, telefone e cartas, com o Cagiano e seus amigos – vi-me incluído lá, entre gente que vive ou viveu em Brasília, autores de renome como Luiz Vilela, Cyro dos Anjos, Samuel Rawet.
Brasília é a cidade onde meu livro, “Nó de sombras”, teve sua melhor e mais ampla acolhida, várias vezes resenhado e ainda com freqüência pedido por um outro brasiliense aficionado por autores novos. Faço parte da Associação Nacional de Escritores que existe lá. Gente simpática, receptiva e gentil como quê.
Superar o bairrismo
Um livro como esse faz pensar, naturalmente, na quantidade de escritores que há no país fora do chamado “eixo Rio-SP”. É uma velha discussão, e pode dar em cinismo, já que, sendo São Paulo e Rio detentores da hegemonia econômica, é natural que o sejam da cultural também. Mesmo reconhecendo isso com realismo inevitável, é lamentável que qualquer coisa que se faça longe dessas capitais tenda a submergir no mais perfeito ostracismo. Um dos maiores desafios da cultura brasileira é este – poder ampliar-se a ponto de incluir tudo que de bom é feito longe dos centros geográficos predominantes.
Há muitos obstáculos a que isso aconteça, mas o pior deles é o bairrismo – como é que se vai impedir uma cidade pequena ou média de ter seu orgulho? Impossível, mas este mesmo orgulho fará com que ela caia num nicho e seja ignorada por tantas outras – há uma tendência instintiva a não se ler livros que estampem a sua origem já no título, como essa antologia. A rejeição é na base da argumentação óbvia – “Bem, não estou interessado em Brasília, nunca fui lá, e não gosto de regionalismos...portanto...”
Espírito universal, Cagiano quer superar isso, incluindo amigos, como eu, que não são de lá. Nada mais é mais atual que essa aversão que ele sente ao bairrismo. Na atualidade, somos todos forasteiros – a idéia de nascer num lugar, passar a vida nele, pertencer a ele, é, embora romântica e talvez desejável, totalmente ultrapassada.
Melhor dizer que esse livro de Cagiano é uma antologia de contistas brasileiros aos quais não se tem prestado a devida atenção. E conferir a leitura.
Sobre o Autor
Chico Lopes:
Chico Lopes é autor de dois livros de contos, "Nó de sombras" (2000) e "Dobras da noite" (2004) publicados pelo IMS/SP. Participou de antologias como "Cenas da favela" (Geração Editorial/Ediouro, 2007) e teve contos publicados em revistas como a "Cult" e "Pesquisa". Também é tradutor de sucessos como "Maligna" (Gregory Maguire) e "Morto até o anoitecer" (Charlaine Harris) e possui vários livros inéditos de contos, novelas, poesia e ensaios.
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Francisco Carlos Lopes
Rua Guido Borim Filho, 450
CEP 37706 062 - Poços de Caldas - MG
Email: franlopes54@terra.com.br
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Contar e mostrar, por Wilson Martins.As conhecidas distinções de técnica narrativa entre os que contam e os que mostram ficam esclarecidas de forma quase didática por Luiz Vilela (“A cabeça”. S. Paulo: Cosac & Naify, 2002) e Ronaldo Cagiano (“Dezembro indigesto”. Brasília: Secretaria de Estado da Cultura, 2002). Leia mais
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