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RESENHAS
Os Aromas do Deserto
Viegas Fernandes da Costa*
Falar de aromas no deserto parece-nos surreal: há aromas no deserto que não sejam os da putrefação dos animais que tombaram de sede e fome e foram abandonados pelas caravanas ao látego do Sol? Afinal, quando se fala de deserto, e principalmente de deserto africano, logo nos surge a imagem de uma população esquálida, lançada a sua própria sorte, refém da fome e da violência, como tantas vezes vimos nos noticiários. Mas há, ainda que em meio ao desencanto de um mundo injusto, a possibilidade da vida trescalar o seu perfume. Cabe ao ser humano senti-lo; tarefa difícil quando se está mergulhado na guerra, como é o caso da Somália.
Produto e vítima do mundo moderno, a Somália foi inventada pelo Ocidente, e assim como a quase totalidade dos países africanos, foi artificialmente unificada pelo invasor europeu - que não considerou a organização tribal da região - e naufragou na saliva do sedento imperialismo inglês, que depois a partilhou com a Itália. Alcançou a independência política após a II Guerra, mas como tudo que é artificial e forçado, a invenção do país Somália fracassou, e a população, já vitimada pelo agressor externo e pelas condições climáticas, viu-se envolvida nas guerras entre tribos que almejam o poder.
E foi justamente neste país, quase que totalmente desconhecido dos brasileiros, mas que em muitos aspectos nos é semelhante, que se aventurou Mariana Klueger. É do seu estranhamento com um mundo que lhe é oposto, de um mundo que em muitos momentos lhe provocou o medo, a angústia e, por que não, o desespero, que brota a percepção do impossível: o perfume.
O livro "Os Aromas do Deserto" é o relato dos dois anos que a autora morou na Somália, acompanhando seu ex-marido, então técnico contratado para treinar a seleção de futebol local. Um relato emocionante, lírico e que desperta a nossa curiosidade a respeito de um povo distante e diferente. Neste seu segundo livro, publicado pela editora Hemisfério Sul, Mariana Klueger nos apresenta personagens reais, como a muçulmana Hallima, que a convida para assistir a uma cerimônia cultural de mutilação genital feminina, e nos coloca diante de situações espantosas, como a do Sheik que desejava raptá-la para o seu harém.
Um livro agradável de ser lido e valioso como testemunho da realidade de um povo que vive na marginalidade do mundo contemporâneo, mas que ao mesmo tempo é o seu retrato mais fiel.
Sobre o Autor
Viegas Fernandes da Costa:
Viegas Fernandes da Costa nasceu no município de Blumenau em 21 de fevereiro de 1977. Formado em História e professor de Humanidades no Colégio Metropolitano de Indaial, começou a escrever muito cedo. Poeta, contista, cronista e ensaísta, possui inúmeros trabalhos publicados na imprensa nacional e em antologias, detendo inclusive alguns prêmios literários. Viegas mantém também a coluna “Crônica da Semana”, distribuída para milhares de endereços eletrônicos em mais de uma dezena de países.
Site oficial = http://www.viegasdacosta.hpg.ig.com.br/
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