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RESENHAS
Eça: Vida e Obra de José Maria Eça de Queirós
Antônio Ribeiro de Almeida*
Maria Filomena Mónica, filósofa e Doutora em Sociologia pela Universidade de Oxford, escreveu o que pode ser considerada a biografia definitiva de Eça de Queirós. Surge este estudo 56 anos depois que Gaspar Simões havia nos brindado com o seu "Eça de Queiroz : o homem e o artista", cuidadoso estudo com suas 668 páginas, publicado pela Edições Dois Mundos. As duas biografias se completam e são ricas na descrição da vida de Eça, na sua forma de trabalhar que chegava a um perfeccionismo que deixava os editores à beira de crises de nervos, com suas constantes revisões.
Maria Filomena escreveu um livro que revela muito da vida particular e amorosa do grande mestre português. Em 1995 ela relata que já havia reunido onze mil publicações sobre o seu biografado. Surpreende o leitor a vida amorosa de Eça com um número apreciável de amantes, seja na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos antes de seu casamento com a sra. Emilia de Castro. Tanto Maria Filomena como Gaspar Simões começam seus estudos sobre a infância de Eça e o registro do seu nascimento com mãe incógnita. Este fato, sobre o qual se especulou muito, nunca se soube até que ponto influenciou na vida de Eça de Queirós que, sobre o mesmo, sempre manteve a maior discrição. Quem cuida do pequeno é uma ama, brasileira, oriunda de Pernambuco e filha natural de uma criada do avô quando ele estivera no Brasil.
Especulou-se também muito se Eça teria sido maçom e pertencido a uma das muitas lojas que existiam em Coimbra. O espírito crítico e irônico de Eça nunca permitiria que ele entrasse numa oficina maçônica, pois isto implicaria na crença de uma série de lendas que cercam os graus daquela sociedade secreta. As críticas que Eça dirigiu contra o clero católico eram mais do que justas em meados do século XIX.Os votos de pobreza, obediência e castidade eram desrespeitados à larga pelos vigários que mantinham famílias e acumulavam terras e dinheiro. Ao longo da cuidadosa biografia de Maria Filomena pode-se também saber que a tão decantada amizade que existiria entre Eça e Ramalho não foi mais do que uma troca de interesses, da parte de Ramalho, do que realmente uma amizade nascida de almas que seriam irmãs. Ramalho nunca deixou de lado suas viagens para apoiar Eça, nem mesmo nos dias que esteve com ele na Suíça onde Eça buscava a cura da sua doença. Ramalho deixou Eça na Suíça, num hotel, sentindo os terríveis incômodos da sua doença e num quadro depressivo muito grande. Um amigo, amigo mesmo, faria isto? Sobre a doença que vitimou Eça, os médicos nunca chegaram a um diagnóstico exato. Tuberculose intestinal? Doença de Crohn? Amebíase?
Outro ponto que sempre vem a discussão é se Eça acreditava em Deus e se morreu na Fé Católica. Maria Filomena, baseada numa declaração de José Maria, filho de Eça, escreveu que seu pai recebeu a extrema-unção, mas inconsciente de tudo o que se passava ao seu derredor. Gaspar Simões romanceia esta morte ao escrever que o "Senhor Diabo" cavalgara toda a vida de Eça ao seu lado. Se Eça não foi um católico praticante; se inúmeras vezes sua pena afiada acutilou o clero e o beatério; não se pode, entretanto, negar-se que Eça foi toda vida, um cristão.
Na sua "Vida de Santos" -editado no Brasil em 2002 - o seu texto pleno de Amor e Beleza sobre São Cristóvão só poderia sair de uma alma plenamente cristã. Como o bom gigante, Eça fez, durante toda a sua vida, um esforço sobre-humano para vencer a estreiteza mental dos seus compatriotas; a distancia de uma mãe enigmática; as constantes exigências financeiras de uma esposa e as traições de seus amigos. Cristóvão-Eça ao afogar-se no rio que tentava atravessar teve suas mãos presas nas mãos de um menino que " ... reconheceu Jesus, Nosso Senhor, pequenino como quando nasceu no curral, que docemente, através da manhã clara, o ia levando para o céu. " (Vida dos Santos, pág. 124, Eça de Queirós. )
Sobre o Autor
Antônio Ribeiro de Almeida:
Jornalista e escritor de São José do Rio Preto/SP.
Doutor em Psicologia Social, FFCLRP-USP
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