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Herói do Nosso Tempo
por Henrique Chagas
*
publicado em 19/03/2006.
"Em 1984, cerca de oito mil etíopes judeus fizeram uma caminhada de aproximadamente 600 quilômetros até Israel. Eles fugiam do regime pós-soviético de seu país e iam em busca da terra prometida. Neste cenário, tropas norte-americanas ajudaram pessoas a se salvar e foi a chance que um menino teve para ter uma vida melhor. A mãe o batizou de Salomão e o mandou clandestinamente em um dos aviões. Ensinado a dizer que é judeu, ele ainda tem de sustentar a história de que é órfão para que possa ter outra família.
Em Israel, o menino de 10 anos é adotado por um casal de origem francesa. Começa, então, a grande aventura de sua vida. Ele fica abismado com o desperdício de água diário durante um banho de chuveiro e se sente até deslocado ao ver tantas imagens indo e vindo na televisão. Fazer fartas refeições e descansar em camas confortáveis também parecem fatos absurdos para o menino. Nessa nova vida maluca, ele faz descobertas, cresce, descobre o amor e a ignorância do racismo.
O personagem do menino é retratado em três fases diferentes da vida. O ator Sirak Sabahat (que faz Salomão quando adulto) foi um destes etíopes cuja família caminhou quilômetros até a capital do país e ficou esperando durante cinco meses até ser resgatada e levada para Israel na Operação Salomão (1991). Herói do Nosso Tempo tem como diretor, roteirista e produtor Radu Mihaileanu, que também é judeu. O longa recebeu três prêmios no Festival de Berlim 2005".
O diretor trabalha o conceito de identidade pessoal. Foi a partir de uma entrevista sua (que reproduzo abaixo) à FSP que despertou em mim o interesse para ver a fita. Fui ao HSBC Belas Artes, na Consolação, e, sai de lá reconfortado com o heróismo do personagem, bem como o diretor o tratou na busca por sua identidade. Trabalho esta temática da identidade no livro que estou escrevendo atualmente. Talvez porque também tenha uma história pessoal parecida com a do diretor, embora não me tenha exilado do país, fui exiliado do ambiente familiar desde os 13 anos e nunca mais voltei. Sai para estudar e conquistar um caminho de vida. Conquistei, claro, mas o custo pessoal é alto para todos nós que nos exilamos. Veja a entrevista. Se der veja também o filme. Recomendo.
Folha - O significado de ser judeu é a interrogação que o sr. propõe em "Um Herói do Nosso Tempo"?
Radu Mihaileanu - A questão que o personagem de Scholomo [o cristão que se finge judeu] propõe é o que é a identidade de um ser humano, para além do povo judeu. Hoje, temos todos uma identidade específica e profunda, de um lado, que vem da família, da cidade, do país, da cultura em que nascemos e, por outro lado, abraçamos muitas outras identidades.
O filme coloca essa questão. Scholomo é cristão, etíope, africano e vai se tornar também judeu, israelense, francófono.
Folha - Refletir sobre a formação da identidade moderna equivale a refletir sobre a origem dos conflitos contemporâneos?
Mihaileanu - Sim. Os conflitos atuais no mundo vêm da questão da identidade e da aceitação do outro. O fanatismo mundial, seja muçulmano, cristão ou judaico vem do fato de que não aceitamos o outro, a diferença. Não aceitamos o fato de que nós estamos nos tornando outros..
Folha - Como o protagonista de seu filme, o sr. emigrou em busca de condições de vida mais favoráveis. Como se sentiu ao fazê-lo?
Mihaileanu - Parti sozinho. Nem meus pais, nem meu irmão nem meus amigos podiam ir. Eu pensava que nunca mais os veria. Foi duro chegar a um país [França] onde todos debochavam do meu forte sotaque e onde a sociedade era muito diferente. Os romenos são um pouco como os brasileiros -calorosos, festeiros. Em Paris, a sociedade é mais reservada, menos exuberante.
Folha - Em francês, o filme se chama "Vá, Viva e Transforme-se". O que achou do título brasileiro?
Mihaileanu - Fiquei surpreso, porque ele não diz a mesma coisa que o título francês. Mas tenho dificuldade de julgar, porque não entendo bem como as pessoas no Brasil lêem um título e o que lhes dá vontade de ver num filme.
Folha - "Vá, Viva e Transforme-se" quer despertar que tipo de interesse no espectador?
Mihaileanu - Queria transmitir a imagem de um filme épico, de uma história epopéica, de uma vida inteira. E que o título tivesse um valor um pouco filosófico e um pouco trágico, como a vida de Scholomo. As três palavras são os três períodos de sua vida: "vá" é a infância, "viva" é a adolescência, onde ele descobre o amor e "transforme-se" é a idade adulta, em que ele aprende o que deve ser.
Folha - Como roteirista, por que o sr. optou por reconstituir um fato histórico por meio de um personagem ficcional?
Mihaileanu - No Festival do Filme Judeu de Los Angeles, em 1999, conheci um judeu etíope, que me contou sua vida. Ele perdera toda a família na estrada entre a Etiópia e o Sudão. Estávamos num bar, e nunca chorei tanto na minha vida. Nunca fui tão sacudido pela emoção. Li tudo sobre isso e decidi fazer um filme, porque fiquei revoltado com o fato de ninguém conhecer essa história. O dever de um cineasta não é só fazer belos filmes mas também tornar visíveis as pessoas invisíveis.
Fui, vivi e me transformei. Que identidade eu tenho? Quando meu livro ficar pronto, vc vai saber um pouco desta história.
Sobre o Autor
Henrique Chagas: Henrique Chagas, 49, nasceu em Cruzália/SP, reside em Presidente Prudente, onde exerce a advocacia e participa de inúmeros eventos literários, especialmente no sentido de divulgar a nossa cultura brasileira. Ingressou na Caixa Econômica Federal em 1984. Estudou Filosofia, Psicologia e Direito, com pós-graduação em Direito Civil e Processo Civil e com MBA em Direito Empresarial pela FGV. Como advogado é procurador concursado da CAIXA desde 1992, onde exerce a função de Coordenador Jurídico Regional em Presidente Prudente (desde 1996). Habilitado pela Universidade Corporativa Caixa como Palestrante desde 2007 e ministra palestras na área temática Responsabilidade Sócio Empresarial, entre outras.É professor de Filosofia no Seminário Diocesano de Presidente Prudente/SP, onde leciona o módulo de Formação da Consciência Crítica; e foi professor universitário de Direito Internacional Público e Privado de 1998 a 2002 na Faculdade de Direito da UNOESTE, Presidente Prudente/SP. No setor educacional, foi professor e diretor de escola de ensino de 1º e 2º graus de 1980 a 1984.
Além das suas atividades profissionais ligadas ao direito, Henrique Chagas é escritor e pratica jornalismo cultural no portal cultural VerdesTrigos (www.verdestrigos.org), do qual é o criador intelectual e mantenedor desde 1998. É jurado de vários prêmios nacionais e internacionais de literatura, entre eles o Prêmio Portugal Telecom de Literatura.
No BLOG Verdes Trigos, Henrique anota as principais novidades editoriais, literárias e culturais, praticando verdadeiro jornalismo cultural. Totalmente atualizado: 7 dias por semana.
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