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Carta aberta a Muhammad Yunus
por Pablo Morenno
*
publicado em 16/10/2006.
Nós, banqueiros do mundo, reunidos em assembléia extraordinária, decidimos dirigir a Vossa Senhoria a presente carta por seu Prêmio Nobel da Paz de 2006. Esperamos que o senhor – esperto porque já foi dos nossos – entenda que a expressão “ex-colega” já lhe antecipa o teor da presente.
Parafraseando, utilizaremos suas palavras quando do anúncio do prêmio: “Não conseguimos acreditar. Todo mundo está dizendo que Vossa Senhoria, nosso ex-colega, ganhou o prêmio Nobel da Paz de 2006. Não conseguimos acreditar.” Notícia estarrecedora, uma desonra para nossa classe, afronta e desafio. Arremessa ao léu nossas conquistas seculares na trilha do grande Mayer Anschel Rothschild. Revira-se no túmulo, o mestre, pela heresia de sua conduta, acintosa e cáustica com nossos vetustos princípios.
Senhor Yunus, o senhor foi excluído de nossa sociedade, de nossos jantares, de nosso estatuto, por falta grave. Desrespeitou – este prêmio o ratifica sobejamente – o artigo 121: “Um banqueiro jamais emprestará dinheiro para pobre”; o artigo 171: “jamais emprestará dinheiro a juros baixos” e o artigo 666: “jamais emprestará dinheiro sem garantias”.
Yunus, você – a partir de agora o trataremos assim – nos humilhou e difamou. Seu coração mole, sua falta de avareza, sua preocupação com o bem da humanidade chegou ao limite do intolerável e ao extremo da idiotice. Muito nos estranha que tenha tido esta idéia ridícula de “Banco dos Pobres” ao voltar dos Estados Unidos. Que desperdício. Deram-lhe a oportunidade de estudar na maior nação capitalista do mundo e, na volta, em 1974, o ex-colega fica emocionado com a fome em sua Bangladesh.
Ora, ora! Jesus – o judeu como Rothschild - já disse “pobres sempre tereis entre vós”. Que graça tem ser pobre sem passar fome? Até Jesus você afronta. Quer terminar com os pobres! Ora, pobres se terminam justamente com a fome. Você tem bom coração. Isso é muito idiota, ex-colega, muitíssimo idiota.
Outro motivo de sua excomunhão é pelo mau exemplo esparramado. Nossa classe corre muitos mais riscos. Principalmente com a justificativa da Academia Sueca - esses estúpidos– para a sua escolha: “Uma paz duradoura só pode ser atingida se grupos conseguirem achar uma forma de escapar da pobreza. Yunus mostrou que até os mais pobres podem trabalhar para gerar seu próprio desenvolvimento.”
Sua idéia estapafúrdia de um banco para os pobres está sendo imitada até no Brasil. Num futuro próximo, todos os economistas do mundo passarão a acreditar que a paz, realmente, se alcança com a míngua das desigualdades econômicas. Vincular a paz à economia é uma de suas piores e nefastas idéias. Jamais esperávamos algo assim de um dos nossos.
A presente carta aberta é para comunicar publicamente: Não estás mais entre os nossos. Mas lembre-se. Você, ao semear na economia a semente da paz, foi quem primeiro nos repudiou e cuspiu pra cima. Com a paz a economia de mercado não subsiste, seu bocó!
ABM – Associação dos Banqueiros do Mundo. Seguem as assinaturas, no original.
Sobre o Autor
Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno
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