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Explosão Demográfica

por Efraim Rodrigues *
publicado em 25/06/2005.

Há algumas semanas, eu estava em Santa Rosa, interior do Rio Grande do Sul, para dar uma palestra na Universidade do Ijuí.

Na platéia, algumas centenas de universitários, com grande parte de mulheres. Aliás, tem sido freqüentemente assim. Elas parecem estar mais interessadas que os homens em ouvir umas idéias que podem ser novas.

Antes de mim, falou um ambientalista gaúcho sobre o problema dos plásticos. Ele tem dados que mostram que os plásticos liberam um parente próximo do hormônio estrogênio, e que leva a esterilidade masculina. São concentrações baixíssimas, mas mesmo assim efetivas.

Até aí a fala dele estava ótima. Enquanto ele falava, eu lembrava quantas vezes a sociedade já foi alertada dos problemas de determinada atividade ou substância, que até então se pensava inócua. Os inseticidas, a radioatividade nuclear, asbestos, organoclorados. Em todos estes casos, foram ambientalistas que expuseram o problema.
Mas infelizmente, o tal ambientalista foi ingênuo nas conclusões, ao dizer para aquela platéia que o plástico dos preservativos poderiam, especialmente eles, causar esterilidade e câncer.

Esta ingenuidade, tão freqüente no movimento ambientalista, me dá arrepios.
A população humana aumenta 210.000 pessoas por dia. Estamos perto de 7 bilhões de pessoas. Preservativos são ainda a melhor alternativa para evitar o problema. Como que um ambientalista ousa destruir o trabalho de tanta gente que está a duras penas, tentando desacelerar este crescimento populacional ?

Nesta semana, quando a ministra Dilma, também gaúcha, recém-empossada falou sobre a necessidade de haver um equilíbrio entre fatores técnicos, científicos e aqueles sociais, econômicos, eu lembrei do seu ingênuo conterrâneo que quer coibir o uso de preservativos, sem ter nada melhor para substituí-lo.

Estas 210.000 pessoas novas que chegam por dia comem, se vestem, se locomovem, enfim, gastam recursos naturais. Alguns, comerão mais proteína animal, e por isso seu impacto ambiental será maior. Uns andarão de carro, outros de ônibus, outros a pé. Uns trocarão de carro todo ano, outros não. Cada um dá sua contribuição para o caos ambiental que vivemos. Todos dão. O melhor jeito de evitar problemas ambientais ainda maiores é evitar o nascimento de mais gente, o que terá vantagens para a qualidade de vida das pessoas que estão aqui na terra, seja para os pais que tem que cuidar das crianças, seja para o planeta como um todo.

E para piorar a história, temos que lembrar que a vasta maioria das mulheres muito jovens que engravidam, acabam abreviando seus estudos. Com isto, elas limitam as oportunidades para si próprias, para seus filhos, tidos em um mau momento, e para a sociedade como um todo, que tem que arcar com o ônus que representa ter habitantes com baixo nível educacional.

Mas graças aos avanços da informática, eu pude mexer na minha palestra nos dez minutos que eu tinha abrir com um gráfico da população mundial. Por cinco milhões de anos, estivemos sempre abaixo da casa dos 300 milhões. Depois da revolução industrial, começou a subir descontroladamente, até os quase 7 bilhões que estamos hoje.

Mostrei o gráfico e falei sobre como é fácil colocar-nos outros uma culpa que é de todos nós.

Quem são os responsáveis pela chegada destas 210.000 pessoas por dia no planeta ? Os políticos, os chineses, alguma outra classe distante em que a gente possa colocar a culpa para ela ficar bem longe de nós ?

Os responsáveis pelos 210.000 novos habitantes que a Terra ganha por dia somos eu, você, aquela platéia de Ijuí, o tal palestrante do Rio Grande do Sul, e também os chineses, os políticos, e os políticos chineses também.

Como eu não conheço nenhum político e muito menos nenhum chinês (tem o Ching do Café expresso, mas este não conta, por que ele é na verdade boliviano), recomendo vivermos nossas próprias vidas da maneira mais responsável possível. Isto já é uma grande contribuição. E também tem a vantagem que vez ou outra alguém pode gostar do bom exemplo e acabar seguindo.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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