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APARÊNCIA

por Pablo Morenno *
publicado em 12/08/2008.

A menina chinesa que supostamente cantou "Ode à Pátria" durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim era uma farsa. Isto porque a garota que verdadeiramente fez o vocal da música não era bonita o suficiente para representar a China, admitiu o diretor musical do espetáculo.

"Queríamos passar uma imagem perfeita e pensamos no que seria melhor para a nação", declarou Chen Qigang em entrevista à televisão chinesa.

No dia seguinte, a imprensa chinesa publicou várias fotos de Lin Miaoke, de nove anos, que é tratada como uma "estrela em ascensão". Porém, não dizem nada sobre Yang Peiyi, uma menina gordinha de sete anos com os dentes fora do lugar, mas com grande voz.

O uso de dublês é comum, mas na ficção. Os astros de Hollywood não se arriscam em cenas de violência, perigo ou sexo. E para isso estão os substitutos de ação, de bunda, de corpo, de mãos para sustentar os personagens que, como obra ficcional, pode se tornar complexo demais até para o ator mais competente.
Só que ninguém espera nos Jogos Olímpicos um dublê. Imaginem o Comitê Olímpico brasileiro substituir Daiane dos Santos por Juliana Paes ou o Diego Hipólito por Rodrigo Santoro, porque os talentosos não se ajustam ao padrão de beleza. O que vale nos jogos é o dom natural trabalhado pela técnica, o esforço e a disciplina para ser o melhor.

Aliás, se fôssemos por aí, teríamos que colocar o Rodrigo Hilbert no lugar do Ronaldinho Gaúcho e Letícia Birkheuer no lugar da Marta do futebol. Imaginem!
Os chineses não são responsáveis. Há que se pensar que o diretor do espetáculo apenas respondeu às expectativas do mundo. Na era da imagem, a realidade tem que ser maquiada ou inventada para os olhos. Em resumo, somos nós que alimentamos as farsas, e, no fundo, somos responsáveis por elas.

Um dos filmes que mais me emocionaram nos últimos tempos foi o Shrek. Uma das cenas mais impressionantes foi a da escolha de Fiona: podendo ser bela, como realmente era, optou pela “feiúra” para viver o amor. Um tapa de luva nos contos de fadas. Neste caso, a ficção ensina à realidade.

Que triunfe o talento sobre a aparência! É o que se espera das Olimpíadas.

Sobre o Autor

Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.

Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno

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