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O Sonho Inesperado
por Vânia Moreira Diniz
*
publicado em 04/07/2004.
Tudo era denso naquele lugar, não existiam outras pessoas, mesmo assim eu não sentia medo. Não sentia...O que conseguia divisar era uma luz e uma faixa colorida que me separava de qualquer violência. O céu estava fantasticamente azul, um lago manso e calmo, a superfície macia, sem atritos, meus pés pela primeira vez descalços caminhavam por um chão aveludado e perfeito.
Meus olhos avistavam beleza em todas as suas formas e um pequeno palco centralizava o ambiente infinito. Com suavidade eu dançava em movimentos cadenciados e ligeiros, sentindo um aroma embriagadoramente delicioso.
As paredes de cor suave me convidavam a uma paz harmoniosa, as flores vermelhas e amarelas, viçosas e frescas. Os frutos com o sabor delicioso jamais experimentado.
Circunvagueei o olhar por tudo que se me apresentava, não acreditando no que via, sensibilizada de uma forma desconhecida.
E quando olhei novamente o vi, alquebrado, abatido, debilitado tanto exterior como interiormente. E retrocedi, há muitos anos passados, eu tão pequenina, ele tão forte e cruel em seus instintos os mais descontrolados possíveis. O horror que transbordava em meu coração, a sensação de repulsa a me dominar e os gritos que ele abafava.
Vendo-o um trapo humano senti uma pena desmedida do meu algoz, achando que nenhum ser humano merecia ficar no estado que ele se encontrava. Como se a dignidade humana, a coisa mais substancial da vida tivesse fugido completamente dele e marcado profundamente sua alma, transparecendo no físico devastado.
Sempre que pensava nele uma náusea me dilacerava mas jamais desejei presenciar cena tão macabra e destruidora.
Senti o contraste da minha vida, das alegrias que se apresentavam, da ternura que contornava o dia-a-dia alvissareiro que se impunha todas as manhãs, das tristezas passageiras mas que faziam parte do contexto do viver.
E compreendi porque tinha sobrevivido daquele dia remoto da minha infância. Entendi que acima de tudo havia o sentimento verdadeiro que se impõe acima de qualquer momento de desgraça ou dor.
E quando chegava a essa conclusão penalizada pela miséria moral, maldade, fria indiferença, vulgaridade ou violência, abri os olhos e entorpecida verifiquei que acordava de um sonho que me mostrara o subconsciente a concordar com o que eu sempre pensara: que o perdão é a mais bela forma de uma consciência tranqüilizadora.
Senti-me intacta a submergir em minha própria alma agradecendo a força que tirei dela....
Sobre o Autor
Vânia Moreira Diniz: Vânia Moreira Diniz é pesquisadora, humanista, escritora y poeta.Participa do livro Roda Mondo, Roda-Gigante
http://www.vaniadiniz.pro.br
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