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A diferença está na cabeça de cada um

por Carol Westphalen *
publicado em 25/02/2004.

No século XVI, mais do que revelações a respeito do futuro, o médico, filósofo, alquimista, astrólogo e astrônomo Michel de Notredame, já dava grandiosas lições de vida - não apenas aos franceses em Saint-Rèmy, mas também aos povos dos quatro cantos do mundo. Nostradamus dizia que, na vida, valem muito mais nossas experiências diárias do que supostas iluminações em relação ao futuro. Infelizmente, poucas pessoas percebem que é preciso viver cada minuto com ternura e intensidade - pensando sempre na prática do bem. Esse exato momento em que escrevo essa frase acaba de virar passado. Segundo Lulu Santos, nada do que foi será. Ter boa memória significa estar sempre em berço esplêndido. Estamos vivendo uma era na qual tudo caminha muito rápido - ao contrário do homem em si, que faz um movimento retrógrado -, mas o que temos é uma falsa impressão de que o mundo e as coisas realmente evoluem.

A ansiedade em relação ao futuro da humanidade é muito grande. Essa mesma força que move cada um de nós é nociva e avassaladora. A energia de nossos anseios desesperados é quase totalmente descartável por ser impulsionada pela impaciência. Não é preciso ser monge budista nem praticar ioga para saber que o ato de desejar o ideal às pressas é uma estupidez. Atitude muito comum entre os seres humanos menos espiritualizados - já que a colheita é resultado de toda uma gestação. Infelizmente, o homem moderno vive, sem sombra de dúvidas, em função do seu próprio ego, que, na maioria das vezes, não cabe em si mesmo. Afinal, o que é preciso para que os seres humanos evoluam e sejam pessoas melhores? Mais educação? Menos materialismo? Mais respeito? O homem precisa olhar mais para o céu e deixar de ser tão cético, egocêntrico e ganancioso. O espírito deve ser o último a ser miserável.

O preconceito, por exemplo, é uma forma estúpida de manifestar intolerância. Falta conhecimento, razão e senso crítico ao que cada um representa para o outro e para o mundo. Atualmente, para se ter um lugar ao sol, é preciso fingir que se domina um leque de opiniões com fundamento. O homem moderno acredita que compreende o significado da palavra "ponderação", já que para falar a respeito de tudo aquilo que está relacionado ao outro faz parte de seu cotidiano. Quem definiu a normalidade? Quando foi que o homem decidiu classificar o que seria normal e o que seria anormal? Por que não excluímos o que é comum ao invés daquilo que é diferente? Fala-se em igualdade, irmandade e fraternidade, mas pouco se faz. Infelizmente, algumas pessoas não respeitam nem mesmo a si mesmas.

O racismo, por exemplo, não é uma expressão particular do preconceito racial. É, terminantemente, proibido usar o termo "raça" para distinguir as pessoas. O racismo destrói a auto-estima de negros, índios, anões, albinos, deficientes físicos, ex-presidiários, etc. A lista de pessoas que sofrem com o preconceito é infinita. Em São Paulo, corintianos e loiras precisam transcender piadinhas de mau gosto 24 horas por dia. Talvez, o preconceito seja maior contra homossexuais, bissexuais, transexuais e travestis. Muitas pessoas não sabem, mas a Organização Mundial da Saúde e a Sociedade de Psicologia não consideram a homossexualidade e a bissexualidade como um distúrbio mental ou emocional, muito menos como um resquício de uma experiência de abuso sexual ou de más experiências com pessoas do sexo oposto. Não adianta, está no gene. O comportamento homossexual sempre existiu no mundo dos animais irracionais. Com o homem não pode só porque ele acredita que raciocina? Segundo o psicanalista Contardo Calligaris, o ser humano é o que é e acabou.

Sobre o Autor

Carol Westphalen: Caroline C. Westphalen nasceu em Porto Alegre, mas aos 10 anos foi morar em São Paulo. Formou-se em Comunicação Social e fez pós-graduação em Sócio-Psicologia. Atualmente, mora no litoral do Rio Grande do Sul, faz Psicologia e trabalha como jornalista/colunista.Em 1999, escreveu "Confluência dos Ws" (Editora Writers), uma pequena compilação de crônicas e contos, junto com o amigo Diego Weigelt, crítico de música e radialista. Carol reuniu algumas crônicas em 2004, mas ainda não tem editora. Sinto que meus textos incomodam. Também não gosto de perceber e encarar certas realidades, diz Carol.

Seus textos sobre comportamento e vida também podem ser lidos no site da revista TPM.Carol também escreve um diário: http://www.diariodecarolw.blogger.com.br

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