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Decálogo do Autor

por Miguel Sanches Neto *
publicado em 20/01/2009.

Uma das coisas mais difíceis do mundo é ser autor iniciante. Falo isso por experiência própria, não que eu já tenha vencido esta fase, ainda sou iniciante, mas com algum tempo de estrada, e é isso que me permite dar uns palpites sem querer ditar condutas.

Começa que toda pessoa ao escrever quer desesperadamente ser lida. É a regra número um - só existe autor se existir público. Parentes, namorados, cônjuges, empregados, etc. acabam sendo o alvo de nossa ansiedade. Aqui em casa é minha mulher - eu leio os textos curtos para ela, e passo as cópias dos romances. Um ou outro amigo muito próximo pode receber o texto, mas sempre evito incomodar. Bem, mulher de escritor é aquele negócio, uma espécie de presidente do fã-clube do marido, um fã-clube que ainda nem existe, e talvez nunca venha a existir. E a gente retribui tamanha dedicação com almoços, viagens, dinheiro para compras.

Sendo uma leitora a soldo, a mulher deve receber a maior carga de nossos originais. Quem não tem mulher ou é a própria, bem, que ache uma pessoa equivalente. Com esta estratégia de atormentar o mínimo de pessoas, já podemos abrir o decálogo:

1. Não fique mandando seus originais para todo mundo.
Acontece que você escreve para ser lido extramuros, e deseja testar sua obra num terreno mais neutro. E não quer ficar a vida inteira escrevendo apenas para uma pessoa. O que fazer então para não virar um chato? No passado, eu aconselharia mandar os textos para jornais e revistas literárias, foi o que eu fiz quando era um iniciante bem iniciante. Mas os jovens agora têm uma arma mais democrática. Publicar na internet. Há muitos espaços coletivos, com uma liberdade de inclusão de textos novos e você ainda pode criar seu próprio site ou blog, mas cuidado para não incomodar as pessoas, enviando mensagens e avisos para que leiam sua mais recente obra-prima.

2. Publique seus textos em sites e blogs e deixe que sigam o rumo deles.
Depois de um tempo divulgando sua produção eletronicamente, você vai encontrar alguns leitores. Terá que ler os textos deles, e dar opiniões e fazer sugestões, mas também receberá muitas dicas.

3. Leia os contemporâneos, até para saber onde é o seu lugar.
Existe um batalhão de internautas ávidos por leitura e em alguns casos você atingirá o alvo e terá acontecido a magia de um texto encontrar a pessoa que o justifica. Mas todo texto escrito na internet sonha um dia virar livro. Sites e blogs são etapas, exercícios de aquecimento. Só o livro impresso dá status autoral. O que fazer quando eu tiver mais de dois gigas de textos literários? Está na hora de publicar um livro maior do que Em busca do tempo perdido? Bem, é nesse momento que você pode continuar sendo um escritor iniciante comum ou subir à categoria de iniciante com experiência. Você terá que reduzir essas centenas e centenas de páginas a um formato razoável, que não tome muito tempo de leitura de quem, eventualmente, se interessar por um livro de estréia. Para isso, você terá que ser impiedoso, esquecer os elogios da mulher e dos amigos e selecionar seu produto, trabalhando duro para que ele fique sempre melhor.

4. Considere apenas uma pequenina parte de toda a sua produção inicial, e invista na revisão dela, sabendo que revisar é cortar.
O livro está pronto. Não tem mais do que 200 páginas, você dedicou anos a ele e ainda continua um iniciante. Mas um iniciante responsável, pois não mandou logo imprimir suas obras completas com não sei quantos tomos, logo você que talvez nem tenha completado 30 anos. Mas você quer fazer a sua literatura circular de maneira mais formal. Quer o livro impresso. E isso é hoje muito fácil. Você conhece um amigo que conhece uma gráfica digital que faz pequenas tiragens e parcela em tantas vezes. O livro está pronto. E anda sobrando um dinheirinho, é só economizar na cerveja.

5. Gaste todo seu dinheiro extra em cerveja, viagens, restaurantes e não pague a publicação do próprio livro.
Se você fizer isso, ficará novamente ansioso para mandar a todo mundo o volume, esperando opiniões que comparem seu trabalho ao dos mestres. O livro impresso, mesmo quando auto-impresso, dá esta sensação de poder. Somos enfim Autores. E podemos montar frases assim: Borges e eu valorizamos o universal. Do ponto de vista técnico, Borges e eu estamos no mesmo nível, produzimos obras impressas, mas a comparação não vai adiante. Então como publicar o primeiro livro se não conhecemos ninguém nas grandes casas editoriais? E aí começa um outro problema: procurar pessoas bem postas em editoras e solicitar apresentações. Na maioria das vezes, isso não funciona. E, mesmo quando o livro é publicado, ele não acontece, pois foi um movimento artificial.

6. Nunca peça a ninguém para indicar seu livro a uma editora.
Se por um acaso um amigo conhece e gosta de seu trabalho, ele vai fazer isso naturalmente, com alguma chance de sucesso. Tente fazer tudo sozinho, como se não tivesse nada para ajudar você além de que seu próprio livro. Sim, este livro em que você colocou todas as suas fichas. E como você só pode contar com ele...

7. Mande seu livro a todos os concursos possíveis e a editoras bem escolhidas, pois cada uma tem seu perfil editorial.
É melhor gastar seu dinheiro com selo e fotocópia do que com a impressão de uma obra que não será distribuída e que terá que ser enviada a quem não a solicitou. Enquanto isso, dedique-se a atividades afins, para controlar a ansiedade, porque essas coisas de literatura demoram, demoram muito mesmo. Você pode traduzir textos literários para consumo próprio ou para jornais e revistas, pode fazer resenhas de obras marcantes, ler os clássicos ou simplesmente manter um diário íntimo. O importante é se ocupar. Com sorte e tendo o livro alguma qualidade além de ter custado tanto esforço, ele acaba publicado. Até o meu terminou publicado, e foi quando me tornei um iniciante adulto. Tinha um livro de ficção no catálogo de uma grande editora. E aí tive que aprender outras coisas. Há centenas de livros de iniciantes chegando aos jornais e revistas para resenhas e uma quantidade muito maior de títulos consagrados. E a maioria vai ficar sem espaço nos jornais. E é natural que os exemplares distribuídos para a imprensa acabem nos sebos, pois não há resenhistas para tantas obras.

8. Não force os amigos e conhecidos a escrever sobre seu livro.
Não quer dizer que eles não possam escrever, podem sim, mas mande o livro e, se eles não acusarem recebimento ou não comentarem mais o assunto, esqueça e não os queira mal, eles são nossos amigos mesmo não gostando do que escrevemos. Se um ou outro amigo escrever sobre o livro, festeje ainda se ele não entender nada ou valorizar coisas que não julgamos relevantes em nosso trabalho. E mande umas palavras de agradecimento, pois você teve enfim uma apreciação. E se um amigo escrever mal de nosso livro, justamente dessa obra que nos custou tanto? Se for um desconhecido, ainda vá lá, mas um amigo, aquele amigo para quem você fez isso e aquilo.

9. Nunca passe recibo às críticas negativas.
Ao publicar você se torna uma pessoa pública. E deve absorver todas as opiniões, inclusive os elogios falsos. Deixe que as opiniões se formem em torno de seu trabalho, e talvez a verdade suplante os equívocos, principalmente se a verdade for que nosso trabalho não é lá essas coisas. O livro está publicado, você já pensa no próximo, saíram algumas resenhas, umas superficiais, outras negativas, uma muito correta. Você é então um iniciante com um currículo mínimo. Daí você recebe a prestação de contas da editora, dizendo que, no primeiro trimestre, as devoluções foram maiores do que as vendas. Como isso é possível? Vejam quantos livros a editora mandou de cortesia. Eu não posso ter vendido apenas 238 exemplares se, só no lançamento vendi 100, o gerente da livraria até elogiou - enfim uma vantagem de ter família grande.

10. Evite reclamar de sua editora.
Uma editora não existe para reverenciar nosso talento a toda hora. É uma empresa que busca o lucro, que tem dezenas de autores iguais a nós e que quer faturar com nosso livro, sendo a primeira prejudicada quando ele não vende. Não precisamos dizer que é a melhor editora do mundo só porque nos editou, mas é bom pensar que ocorreu uma aposta conjunta e que, embora não se tenha alcançado resultado, há oportunidades para outras apostas e, um dia, quem sabe... Foi tentando seguir estas regras que consegui ser o autor iniciante que hoje eu sou.

Sobre o Autor

Miguel Sanches Neto: Escritor paranaense e crítico literário, assinando coluna semanal no maior diário do Paraná, a Gazeta Povo (Curitiba), tendo publicado só neste jornal mais de 350 artigos sobre literatura, fora as contribuições para outros veículos, como República e Bravo!, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde (São Paulo) e Poesia Sempre e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro).

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