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Eu blogo, tu blogas, todo mundo bloga

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 12/05/2008.

Coisa é difícil é a gente dar conta do que, no fim das contas, cai na boca do povo. Ou no gosto. Aqui no Noga Bloga, por exemplo: entre tantos exemplos incríveis, textos dignos de excelente literatura (gulp), adivinhem onde foi que eu fui dar ibope: num texto sobre vídeos de sexo explícito para assistir na internet que em se tratando de Noga Bloga mal fala de sexo e nem mostra vídeo explícito nenhum, claro: o povo se arrebenta de raiva, mas isso... depois de clicar e com isso elevar a frequência do blog à enésima potência, valeu gente. Quem sabe assim, só por acidente, de breve passagem, acabo convencendo alguém do valor da (minha) literatura. Mais recentemente, acreditem, deu recorde de comentários um post de apenas... duas linhas - isso é que é poder de síntese! -, pra que falar tanto, hein? Trabalhar horas a fio numa trama bem armada? Revisar, aliterar, comover, intrigar... cortar aqui acrescentar lá? Ah, gente: ninguém liga mais pra nada disso.

Isso, a propósito de um longo artigo que, antes mesmo de ser publicado - vem com a data deste domingo, 25 de maio, isto é, daqui a dois dias: coisas da blogosfera, vai entender - vem batendo todos os recordes de polêmica e comentários no NY Times: Exposed (corram antes que o exponham). Escrito por uma dessas mocinhas afoitas - entre as quais, claro, me incluo, deixando o "mocinha" de lado - que expõem na internet, em tempo real, suas vidinhas bestinhas pra quem quiser atirar umas pedrinhas e assim aliviar suas próprias vidinhas bestinhas, o artigo trata, com a habitual (falta de) profundidade, dos efeitos da exposição na internet, da hiperconfessionalidade dessa protoliteratura, e, claro, dos efeitos nocivos e/ou inebriantes da janela de comentários.

O que me intriga, acima de tudo, é a caudalosa quantidade de comentários que a moça recebe, todos unânimes em afirmar que não se interessam pelo que ela escreve, uai, gente, então porque é que eles lêem? Nem Freud explica. Aqui no Noga Bloga, por exemplo, onde todo mundo sabe, pratica-se alta literatura no calor da hora, comentário é coisa rara mesmo, ah, bom, ninguém se atreve a me criticar, ou vamos combinar: ou ninguém entende do que estou falando ou ninguém se interessa, mesmo. Já com a coitadinha da Emily Vidraça ocorre o contrário: do que ela fala todo mundo entende, e como ninguém se aceita... todos querem quebrar o espelho e tome de pedrada na pobre. Deve ser pra evitar o azar.

O caso é que essa coisa de escrever sobre a própria vida é uma faca de muito legumes. É preciso, antes de mais nada, ter o dom da escrita, vocês sabem, aquele toque a mais que transforma qualquer vidinha besta em seriado premiado. E, além disso, ou pra quem não tem isso, é preciso, é claro, uma vida interessante, algo além de acordei-caguei-assistitevê-tomeicafé-trepei-bebi-dormi, mas francamente, quem souber me diga: o que é hoje em dia uma vida interessante?

Ah, gente. Deixem a pobre em paz, coitadinha (?). Se ninguém percebeu ainda: ela está na capa do NY Times. E quanto a escrever compulsivamente, sobre sua compulsiva vida e a vida compulsiva de muita gente, não vejo nada de errado nisso, muito antes pelo contrário: se o blog é o terreno da vaga verborragia, é justamente no exercício dela que o escritor encontra o seu estilo, a sua voz. Se tiver uma, claro. Porque o estilo se cria e é bem ali, na malhada verborragia do dia-a-dia e é por isso que eu adoro os blogs.

Agora, vamos combinar: ler mesmo... eu só leio o que eu acho bom, certo? O que, de algum modo, transcende em alguma medida a simploriedade de uma egotrip banal, porque francamente: não te leio se detesto o que tu escreves, mas defendo até a morte... blablablá blablablá. Quem desdenha quer comprar e não duvidem: compra.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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