Crônicas,contos e outros textos
PÁGINA PRINCIPAL → LISTA DE TEXTOS → Ângelo Caio Mendes Correa Jr. →















Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS -
Uma viagem cultural
VerdesTrigos está hospedado no Rede2
Leia mais
-
NOSSOS AUTORES:
- Henrique Chagas
- Ronaldo Cagiano
- Miguel Sanches Neto
- Airo Zamoner
- Gabriel Perissé
- Carol Westphalen
- Chico Lopes
- Leopoldo Viana
- mais >>>>
Link para VerdesTrigos
Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.
Anuncie no VerdesTrigos
Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui
EDITH MODESTO: uma voz contra o preconceito
por Ângelo Caio Mendes Correa Jr.
*
publicado em 12/01/2008.

Fundadora da ONG GPH - Grupo de Pais de Homossexuais lançou, recentemente Vidas em arco-íris, pela editora Record, uma coletânea organizada a partir de 89 depoimentos de homossexuais, trabalho pioneiro na área, um verdadeiro mapeamento da condição homossexual no Brasil.
Abaixo um pouco do pensamento e da trajetória dessa intelectual ,cuja fibra e seriedade parecem inesgotáveis, em entrevista a Angelo Mendes Corrêa.
ACMC: De onde a idéia de fundar o GPH - Grupo de Pais de Homossexuais?
Edith Modesto: Quando eu soube da homossexualidade do Marcello, meu filho caçula, eu me desesperei. Eu não tinha conhecimento dessa possibilidade natural e espontânea do ser humano. A idéia de conversar com outras mães me veio por acreditar que, assim, eu me sentiria melhor. Era a estratégia da identificação com os iguais. Funcionou e continuei com o grupo, agora uma ONG, para ajudar também outros pais. Apesar de os pais saírem do grupo quando já se sentem bem, temos atualmente em torno de 200 pais e mães associados ao grupo, do Brasil todo.
ACMC: Seu livro Vidas em arco-íris surgiu das experiências que vivenciou no GPH?
Edith Modesto: Não. O livro surgiu das entrevistas que fiz ao vivo com 89 homossexuais, homens e mulheres, de 14 a 62 anos. Penso que ninguém melhor do que eles para falar deles mesmos.Hoje sei que a pesquisa durante cinco anos para escrever o livro foi um dos recursos que encontrei para aceitar o meu filho.
ACMC:Quais os aprendizados mais significativos que teve ao longo de seu trabalho no GPH e durante a elaboração do Vidas em arco-íris?
Edith Modesto: Eu me reinventei. Tenho certeza de que hoje sou uma mulher muito melhor do que antes. Aprendi a aceitar as diferenças e, conseqüentemente, sou mais solidária e bem menos preconceituosa.
ACMC : Em que sentido a situação dos homossexuais brasileiros progrediu, sobretudo de uma década para cá, e que caminhos ainda precisamos percorrer para alcançar as conquistas que os homossexuais de vários países europeus já obtiveram?
Edith Modesto : Há alguns meses, o GPH lançou o Projeto Purpurina, um trabalho com adolescentes e jovens homossexuais. Os objetivos principais do trabalho são que eles encontrem seus iguais, façam amigos, conversem sobre assuntos de seu interesse e aproximem-se de seus pais. No próximo ano, pretendemos oferecer-lhes oficinas profissionalizantes, se obtivermos verbas. Hoje, garotos e garotas, de 14, 15 anos, já se aceitam como homossexuais. Há poucos anos isso seria impossível! O Projeto Purpurina só foi possível porque hoje os gays se reconhecem como são muito mais cedo e com mais facilidade e têm mais apoio e mais incentivo para terem uma boa auto-estima. De uma década para cá, fizemos grandes avanços, embora ainda haja um longo caminho a percorrer.
ACMC: A partir das entrevistas que realizou para Vidas em arco-íris, é possível afirmar que os homossexuais brasileiros, em sua maioria, têm consciência de sua condição, estão preparados para novas empreitadas em busca de mais visibilidade?

ACMC: Como avaliar o resultado de pesquisa recentemente divulgada por um programa televisivo da GNT, segundo o qual 89% da população brasileira não vêem como algo normal a homossexualidade?
Edith Modesto: Eu acho pesquisa um instrumento que requer muitos cuidados para que os resultados não sejam deturpados e não sei como essa foi feita. Por isso, me abstenho de comentá-la. As pessoas têm a intuição de que a diferença éa norma do mundo, mas não se lembram disso quando o assunto é a sexualidade. Muitas vezes o que atrapalha está em outra área. Por exemplo, todo mundo tem medo do que desconhece. Talvez o problema seja o desconhecimento sobre sexualidade, principalmente.
ACMC: Em que sentido a mídia brasileira tem contribuído positiva ou negativamente para o debate sobre a homossexualidade?
Edith Modesto: Eu acredito que a mídia acompanha as mudanças sociais, não as inicia. Nesse caso, a mídia mostra como as coisas têm melhorado, mas nem tanto. Por exemplo, o casal gay da novela atual émuito certinho, cheio de qualidades e nenhum defeito. Esse é o tipo de gay e de relacionamento homoafetivo que a população já consegue aceitar.
ACMC: A religião ainda exerce um papel determinante para o reforço de valores preconceituosos em relação aos homossexuais?
Edith Modesto: Certamente. As mães evangélicas são as que mais sofrem. Conseqüentemente, fazem seus filhos sofrer mais.
ACMC: Quais os preconceitos mais recorrentes enfrentados pelos homossexuais brasileiros e o quanto esses preconceitos contribuem para a marginalização, para a formação de guetos?
Edith Modesto: Quando se pensa em homossexualidade, ainda soltam-se os demônios. As pessoas ainda acreditam que a homossexualidade é uma opção, uma escolha. Assim, a homossexualidade ainda estámuito relacionada ao negativo: pessoas com desvio de caráter e/ou sérios problemas psicológicos. Os jovens ainda têm medo de não serem aceitos por seus pais e muitos levam uma vida paralela, sem apoio, nem modelos positivos.
ACMC: Estarão os travestis condenados à discriminação até mesmo por parte dos demais grupos de homossexuais? Como analisar a situação desse grupo em nossa sociedade?
Edith Modesto: A ignorância acerca das questões da identidade de gênero éimensa, mesmo dentro da comunidade homossexual. Os homossexuais, assim como os heterossexuais, tiveram esses preconceitos introjetados desde o seu nascimento. As pessoas travestis, assim como transexuais e transgêneros, sofrem muito. O apoio médico e psicológico para essas pessoas no Brasil também é muito precário. Principalmente as travestis são muito desrespeitadas e empurradas para a prostituição e marginalidade. Isso é muito triste.
ACMC: Novos projetos de livros nos moldes do Vidas em arco-íris e algum novo projeto em andamento pelo GPH?
Edith Modesto: Meu novo livro "Mãe sempre sabe? Mitos e verdades sobre pais e seus filhos homossexuais" vai sair pela Editora Record e seu lançamento seráno primeiro semestre do ano que vem. O Projeto Purpurina, com apenas quatro meses, tem feito muito sucesso, é o mais novo empreendimento do GPH - Associação Brasileira de Pais e Mães de Homossexuais, a primeira do gênero no Brasil.
Sobre o Autor

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
LEIA MAIS

