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Fazer as coisas com alegria
por Ignácio de Loyola Brandão
*
publicado em 07/09/2007.
De um lado, os escritores da Academia Brasileira de Letras faziam uma releitura dos clássicos, do outro, milhares de crianças ouviam contadores de histórias, com autores, assistiam a performances. No palco de debates, Ferréz, do Capão Redondo assombrava a platéia com sua fala articulada, revelando um mundo insólito para aquela platéia - e todas as outras. Queremos fazer nossa arte, não queremos a inserção. O que se pretende é uma apropriação de nossa arte, disse ele que teve, entre 200 outras, uma frase memorável: a palavra segura a bala.
Numa só noite, o crítico de arte e historiador, Carlo Ginzburg, e José Mindlin. O italiano fez uma conferência profunda sobre a secularização, a partir do quadro A Morte de Danton, de David. Mindlin, um ícone, modesto, falou sobre sua formação e a de sua biblioteca que completa 80 anos. Falou com tal emoção e humor que a platéia ouviu em total silêncio. E olhe que conseguir silêncio de uma platéia de 5 mil pessoas é pedreira. Só a figura carismática de Mindlin, a sua segurança e o tamanho de sua obra para conseguir tal feito. Aos 93 anos, memória intacta, citou nomes ouvidos cinco minutos antes, trouxe fatos de quase um século atrás com clareza.
A Jornada foi fechada com a Orquestra Sinfônica do Sesc, mas de alguma maneira já havia sido encerrada à tarde, quando no palco grafiteiros se uniram aos meninos da street dance de Passo Fundo que levantaram a platéia. Alguns movimentos emocionantes foram a exposição das ilustrações que, durante décadas, Rui de Oliveira fez para livros infantis. Atravessá-las significou voltar à infância, aos delírios da imaginação e fantasia. Outro foi a exibição do filme de Nelson Pereira dos Santos sobre a língua portuguesa. Um terceiro, o encontro dos escritores gaúchos, com escritores do porte de Moacyr Scliar, Aldyr Schlee, Charles Kiefer, Paulo Betancour, Daniel Galera, Caio Ritter, Letícia Wierchowski, Fabrício Carpinejar. Finalmente a homenagem a Varceli Freitas Filho, o último lambe-lambe de Porto Alegre, com sua câmera instalada no Chalé da Praça XV, no mesmo lugar onde o pai dele, também lambe-lambe, trabalhou por 70 anos.
A Jornada mostrou que está aí mais para incluir do que excluir. Duzentos escritores, professores, ilustradores, ensaístas circularam pelas várias lonas (ou palcos). Há os palcos de debates e as conversas paralelas que se desenvolvem pelas salas do azáleas esplêndidas. Os espectadores (5 mil adultos, 10 mil crianças) vieram de todas as partes e Estados. No estacionamento contei 80 ônibus, alguns dos quais chegaram de manhã, vindos de cidades a 100 quilômetros, voltando à noite. Mas trazem gente disposta, bem-humorada, participativa. A Jornada de Passo Fundo bate qualquer outro evento literário pelo formato e grandiosidade. Enquanto uma Flip - gostosa de se assistir - se esgota assim que o último escritor fala, a Jornada é apenas um passo. Nos meses e anos seguintes ela continua a repercutir, tem caráter multiplicador, pelo seu tipo d e público, professores de português, de letras, estudantes. Na Jornada, os escritores não se dispersam, estão sempre se encontrando, principalmente nos almoços e jantares animados, ruidosos (a comida do casal Biazzi no Clube Comercial foi quatro-estrelas), há companheirismo, troca de informações, novos conhecimentos, solidariedade. Tudo alimentado por Tânia Rõsing, que o deputado Beto Albuquerque definiu como "fenômeno da natureza", mulher que bota para quebrar e põe de pé a Jornada, mesmo sem condições e contra adversários ressentidos.
Ignácio de Loyola Brandão - O Estado de São Paulo - 07.09.07
Sobre o Autor
Ignácio de Loyola Brandão: Ignácio de Loyola Brandão é jornalista e escritor contemporâneo mais do que conhecido/reconhecido e signo de uma geração que viu a sociedade brasileira se reconstruir e se renovar em pensamento a partir de obras como Zero, Não verás país nenhum, O verde violentou o muro, O presente é o futuro (Manifesto Verde), O beijo não vem da boca entre outros. Laureado, recebeu o prêmio IILA de melhor livro latino-americano pelo Instituto Ítalo-latino-americano, de Roma, com Não verás país nenhum, em 1984. Recentemente, em 2000, recebeu o prêmio Jabuti por O homem que odiava a Segunda-feira. Paulista de Araraquara, já compôs publicou romances, contos, crônicas e infanto-juvenis traduzidos para muitos países no mundo. Atualmente escreve suas crônicas no Caderno 2 de O Estado de São Paulo e é responsável pela edição da Revista Vogue.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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