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Amor, ardor, humor

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 16/07/2007.

Nos meus anos de repulsa ao sexo eu adorava transar de manhã. Fazer amor, caso amor para ser feito houvesse, era um evento de fôlego: exigia preparo físico, e elevada dose de paciência, tolerância, persistência. Não é que eu demorasse demais, que eu hesitasse na entrega, ou que o orgasmo fosse um visitante raro. Não. Era, isso sim, entendo agora, um desconhecido. Mas isso mudou.

Pois hoje em dia aqui em casa a prática do amor não tem hora, roteiro ou lugar. Usa todas as línguas, mas uma expressão só: a do verdadeiro amor. Um amor que vem e vai ao sabor hormonal das marés, mas não se esquece nunca de lamber a praia. Um amor que chora (de emoção) e ri (de puro prazer), que fere e cura. Um amor que se estreasse nas telas sofreria séria crise de identidade, oscilando entre o drama, o romance, a aventura... e a comédia, sim, (quem foi mesmo que disse que a comédia é a morte do gozo?) um amor que atende a um chamado ancestral, e ao mesmo tempo, se rende a uma síndrome eterna de Peter Pan: cresce o tempo todo mas não se sente adulto nunca, no sentido entediante da coisa, entendem? Um amor que é uma trama complexa tecida a dois, uma boa conversa do conflito com a harmonia sem preconceito nenhum — de dar inveja a qualquer ficção. Uma orgia permanente a três: Alan, eu, e aquele outro ser — mesclado de Alan e eu —, sócio proprietário do clube exclusivo do grande amor.

Na convivência diária do grande amor há lugar para tudo, o que é difícil de entender, de aceitar, nada a esconder. E quando ele se instala, se desvanecem os pequenos mimos, porque no gozo cotidiano do grande amor não tem lugar o clássico lirismo: não escrevo grandes poemas, nem recorro às doces figuras de linguagem dos meus anos de repulsa ao sexo, de amor sonhado, tão desejado, mas nunca plenamente alcançado a dois. É o amor sofrido, rejeitado, são os ritos frustrados da entrega que alimentam as preciosas canções românticas do grande amor.

Porque o amor verdadeiro é feito de carne, de gosto, de cheiro, de olhar atento ao que se passa em volta: um pacificador, um depurador de angústias que libera a alma para tudo o mais... Na prática doméstica do verdadeiro grande amor perde-se todo o interesse pelo desejo ardente de encontrar o amor... Me confundo, me ressinto dos temas, me cobro um romantismo escrito, um vigor inconformado, uma febre vibrante de busca... não, meus queridos. Tudo isso desaparece quando se encontra o verdadeiro amor, essa comédia muito humana que dá gosto à vida, e ao mesmo tempo, extrai da morte seu potencial de drama. E por isso lhes digo: quem quer mesmo, tem a coragem necessária, a audácia, a dose adequada de entrega para viver o grande amor que se prepare, pois toda a poesia, sonho e inspiração, tudo o que se ouve, lê e imagina, é muito pouco pra se ter uma idéia real do que seja viver uma boa e verdadeira história de amor.

Entenderam agora o que está por trás desta mudança de rumos aqui no blog? Foi o grande amor, gente, sim, que me revelou, me surpreendendo tanto que ainda hoje, não raro, me desconheço, me forçando de vez em quando a este lirismo aguado de ficção, este ardor romântico de almanaque com sabor agudo de clichê gorado: a mulher bem-amada em que me transformei, na energia infinita do grande amor, gosta mesmo — e põe gosta nisso — é de uma esperta, gostosa e bem sarcástica prosa cotidiana.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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