Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Noga Lubicz Sklar


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Amor, ardor, humor

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 16/07/2007.

Nos meus anos de repulsa ao sexo eu adorava transar de manhã. Fazer amor, caso amor para ser feito houvesse, era um evento de fôlego: exigia preparo físico, e elevada dose de paciência, tolerância, persistência. Não é que eu demorasse demais, que eu hesitasse na entrega, ou que o orgasmo fosse um visitante raro. Não. Era, isso sim, entendo agora, um desconhecido. Mas isso mudou.

Pois hoje em dia aqui em casa a prática do amor não tem hora, roteiro ou lugar. Usa todas as línguas, mas uma expressão só: a do verdadeiro amor. Um amor que vem e vai ao sabor hormonal das marés, mas não se esquece nunca de lamber a praia. Um amor que chora (de emoção) e ri (de puro prazer), que fere e cura. Um amor que se estreasse nas telas sofreria séria crise de identidade, oscilando entre o drama, o romance, a aventura... e a comédia, sim, (quem foi mesmo que disse que a comédia é a morte do gozo?) um amor que atende a um chamado ancestral, e ao mesmo tempo, se rende a uma síndrome eterna de Peter Pan: cresce o tempo todo mas não se sente adulto nunca, no sentido entediante da coisa, entendem? Um amor que é uma trama complexa tecida a dois, uma boa conversa do conflito com a harmonia sem preconceito nenhum — de dar inveja a qualquer ficção. Uma orgia permanente a três: Alan, eu, e aquele outro ser — mesclado de Alan e eu —, sócio proprietário do clube exclusivo do grande amor.

Na convivência diária do grande amor há lugar para tudo, o que é difícil de entender, de aceitar, nada a esconder. E quando ele se instala, se desvanecem os pequenos mimos, porque no gozo cotidiano do grande amor não tem lugar o clássico lirismo: não escrevo grandes poemas, nem recorro às doces figuras de linguagem dos meus anos de repulsa ao sexo, de amor sonhado, tão desejado, mas nunca plenamente alcançado a dois. É o amor sofrido, rejeitado, são os ritos frustrados da entrega que alimentam as preciosas canções românticas do grande amor.

Porque o amor verdadeiro é feito de carne, de gosto, de cheiro, de olhar atento ao que se passa em volta: um pacificador, um depurador de angústias que libera a alma para tudo o mais... Na prática doméstica do verdadeiro grande amor perde-se todo o interesse pelo desejo ardente de encontrar o amor... Me confundo, me ressinto dos temas, me cobro um romantismo escrito, um vigor inconformado, uma febre vibrante de busca... não, meus queridos. Tudo isso desaparece quando se encontra o verdadeiro amor, essa comédia muito humana que dá gosto à vida, e ao mesmo tempo, extrai da morte seu potencial de drama. E por isso lhes digo: quem quer mesmo, tem a coragem necessária, a audácia, a dose adequada de entrega para viver o grande amor que se prepare, pois toda a poesia, sonho e inspiração, tudo o que se ouve, lê e imagina, é muito pouco pra se ter uma idéia real do que seja viver uma boa e verdadeira história de amor.

Entenderam agora o que está por trás desta mudança de rumos aqui no blog? Foi o grande amor, gente, sim, que me revelou, me surpreendendo tanto que ainda hoje, não raro, me desconheço, me forçando de vez em quando a este lirismo aguado de ficção, este ardor romântico de almanaque com sabor agudo de clichê gorado: a mulher bem-amada em que me transformei, na energia infinita do grande amor, gosta mesmo — e põe gosta nisso — é de uma esperta, gostosa e bem sarcástica prosa cotidiana.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


auspícios, por Terezinha Pereira.

A menina e os fantasmas do pai: "O labirinto do fauno" é grande cinema, por Chico Lopes.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos