Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Adelto Gonçalves


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Os papéis de São Paulo setecentista

por Adelto Gonçalves *
publicado em 20/05/2006.

Até há pouco tempo, quem quisesse escrever sobre a época colonial do Brasil tinha de arrumar uma bolsa de estudos e partir para Portugal, especialmente em direção à Calçada da Boa Hora, na Junqueira, em Lisboa, onde fica o Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), no Palácio da Ega, construção cujo núcleo remonta ao século XVI e que, entre outras finalidades mais nobres, serviu de abrigo a uma tórrida paixão entre a condessa da Ega e o general Junot, comandante-chefe das invasoras tropas de Napoleão em 1807.

Depois do Projeto Resgate, empreendido entre 1994 e 1999, por iniciativa do professor Caio Boschi, de Minas Gerais, com o apoio do Ministério da Educação, muitos Estados brasileiros passaram a contar em seu respectivo arquivo público com a documentação catalogada e microfilmada referente à capitania colonial a que pertenceu e que consta originalmente do AHU. É o caso do Arquivo do Estado de São Paulo, que conta com a documentação de 1644 a 1830, que abrange documentos referentes ao Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, que, à época, faziam parte da região sob jurisdição da Capitania de São Paulo.

A documentação também está em CD-ROM, o que facilita bastante ao historiador local, que não precisa mais se deslocar a Lisboa para consultar os manuscritos da Capitania de São Paulo do AHU. É claro que isso ajuda o País a economizar muitos reais, pois já não precisa bancar os custos de viagem e manutenção de tantos investigadores no exterior. Basta ver que, de 1990 a 1996, estiveram na sala de leitura do AHU 2.214 pesquisadores brasileiros contra 1.513 portugueses, ou seja, quase 50% do total, com a média de 316 pesquisadores por ano.

Esses dados constam da introdução que o historiador José Jobson de Andrade Arruda, da Universidade de São Paulo, um dos responsáveis pelo projeto, escreveu para o primeiro volume de Documentos manuscritos avulsos da Capitania de São Paulo (1644-1830), catálogo que coordenou e que traz a referência a 1.383 peças documentais e seus respectivos índices. Dois outros volumes reúnem 5.113 verbetes originalmente inclusos no catálogo produzido por Alfredo Mendes Gouveia, com os índices onomásticos e toponímicos por ele preparados.

Mendes Gouveia foi um antigo funcionário do AHU a quem, pouco antes de 1954, a Comissão dos Festejos do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo contratou para elaborar um catálogo dos verbetes referentes à Capitania de São Paulo. Foram inventariadas 66 caixas e identificados 5.113 itens documentais, que acabaram catalogados em 15 volumes mandados imprimir pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) entre 1956 e 1959.

Foi um trabalho de fôlego, feito a uma altura em que não havia à disposição a tecnologia que se conhece. Era, porém, uma obra inacabada, como constatou a equipe do Projeto Resgate em mais de uma década de trabalho. Havia mais documentos a identificar.

Os números do Projeto Resgate são superlativos, na definição do professor Jobson Arruda. Na Primeira Secção do Arquivo, que reúne as coleções referentes ao período que vai do século XVI a 1833, 1.824 caixas agregam 242.800 itens documentais sobre o Brasil. É papel que não acaba mais. Some-se a isso a Coleção de Mapas, Plantas e Gravuras com 600 códices específicos e 200 outros, nos quais o Brasil aparece junto às demais colônias portuguesas, perfazendo, no total, 50 mil documentos.

Segundo Arruda, desse imenso repertório não mais do que 40% encontravam-se inventariados quando ao AHU chegaram as equipes do Projeto Resgate e apenas 20% publicados. O acesso a esse material era, até então, privilégio de alguns poucos que conseguiam subsídio governamental para fazer pesquisas no exterior.

Os 5.113 documentos referentes à Capitania de São Paulo que haviam sido catalogados por Mendes Gouveia acabaram reduzidos a 70 rolos de microfilmes. Foram localizadas mais 30 caixas que originaram outros 33 rolos de microfilmes, contendo 1.383 documentos. Isso significa que 27% da documentação não haviam sido inventariados e tampouco publicados. Agora, tudo isso está à disposição dos pesquisadores no Arquivo do Estado de São Paulo.

É claro que os funcionários do AHU e pesquisadores brasileiros que participaram do Projeto Resgate fizeram o melhor que puderam, mas, convenhamos, nada substitui o prazer e as possibilidades de leitura que o original oferece. Este pesquisador já andou no Arquivo do Estado a revirar a documentação da Capitania de São Paulo e tanto em microfilmes como em CD-ROM as dificuldades de leitura que encontrou foram imensas.

Se já não constitui tarefa amena a leitura de um documento setecentista no original, mais difícil ainda se torna lê-lo em microfilme ou digitalizado. Até porque, além das dificuldades para entender a grafia — mesmo para investigadores acostumados com as abreviaturas correntes no século XVIII —, há manchas, rasuras, rasgões e outros danos causados nos papéis pela deterioração sofrida durante mais de dois séculos. Nada contra as novas tecnologias, mas a modernidade nem sempre resolve tudo.

Em boa parte do material, os pesquisadores do AHU — especialmente o antigo funcionário Mendes Gouveia — fizeram na capilha (como chamam em Portugal a capa de cartolina que protege o documento) extensas anotações sobre cada item, mas há outros em que as informações não passam de quatro ou cinco linhas.

A capilha também foi microfilmada e antecede cada documento. Em muitos casos, essas informações são o máximo que se pode saber, pois o estado de deterioração do documento não permite leitura completa. E essa é uma perda irremediável.

Quem pode continua a não deixar de lado a possibilidade de retornar a Lisboa, pois, além do contato com o documento original — ou, muitas vezes, o que sobrou dele —, ainda há a oportunidade de, ao final da tarde, quando o AHU fecha as portas, conversar com os seus funcionários na esplanada do restaurante Dois e Dois, em frente, na Calçada da Boa Hora, absorvendo a brisa que vem do Tejo e passa antes pelo arvoredo da velha mansão da Marquesa d´Alorna, poetisa de muitos méritos e tia da fogosa condessa da Ega.

____________________________
DOCUMENTOS MANUSCRITOS AVULSOS DA CAPITANIA DE SÃO PAULO. Catálogo 1 (1644-1830), de José Jobson Andrade de Arruda (coordenador). Bauru-SP: Editora da Universidade Sagrado Coração (Edusc)/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), 318 págs., 2000. E-mail: divulgação@edusc.com.br




Sobre o Autor

Adelto Gonçalves: *Doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003).


E-mail: adelto@unisanta.br

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


11/09, Ódio e Lucidez, por André Carlos Salzano Masini.

Iremos voltar, literalmente, a comer os mortos?, por Leopoldo Viana Batista Júnior.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos