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E se Israel tivesse perdido a guerra?

por Moacyr Scliar *
publicado em 22/06/2007.

Pouco depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, apareceu nos Estados Unidos um romance intitulado If Israel Lost the War (Se Israel Perdesse a Guerra). Os autores, Richard Z. Chesnoff, Edward Klein e Robert Littell, eram jornalistas da Newsweek, encarregados da cobertura do conflito. Usaram como mote uma frase da então ministra do Exterior de Israel, Golda Meir: "Imaginem se Nasser tivesse atingido nossas pistas de decolagem primeiro". Gamal Abdel Nasser era o presidente do Egito, um líder nacionalista de grande prestígio no mundo árabe, que havia decretado um bloqueio no estreito de Tiran, passagem vital para os navios que chegavam a Israel trazendo petróleo. Ou seja, uma situação extremamente perigosa, que Israel ameaçava retaliar. Jordânia, Síria, Iraque, Líbano, Sudão, Arábia Saudita, Kuwait e Argélia uniram-se ao Egito. No final de maio e nos primeiros dias de junho sucederam-se as declarações belicosas. "Será uma guerra total", declarou Nasser. Completou o presidente do Iraque, Abdel Rahman Aref, com palavras semelhantes às do atual presidente do Irã: "Nosso objetivo é varrer Israel do mapa". O que aconteceria depois? Disse Ahmed Shukairy, líder da Organização de Libertação da Palestina (OLP) em 28 de maio de 1967: "Os israelenses que aqui nasceram poderão permanecer na Palestina". E acrescentou: "Mas acho que nenhum deles sobreviverá".

Retórica para fins externos, para intimidar o inimigo? Talvez. Mas Israel era, e é, um pequeno país, com uma população ínfima comparada à de seus poderosos vizinhos. Um erro de cálculo, nessas circunstâncias, poderia ser fatal, e assim, a 5 de junho foram desencadeados ataques-relâmpago, devastadores. A força aérea egípcia foi praticamente aniquilada no solo, e era a única que tinha importância. A superioridade nos céus deu a Israel uma vitória esmagadora.

O final poderia ter sido diferente, e o foi, na narrativa de Chesnoff, Klein e Littell: os exércitos árabes ocupam Israel, os refugiados são os israelenses, não os palestinos; começa a resistência, na Europa e na América grupos protestam contra a ocupação, o Conselho de Segurança da ONU condena "os excessos racistas e desumanos contra a população civil de Israel"... Ou seja, tudo igual, em sentido contrário.

O desfecho da guerra causou euforia em Israel. O governo ficou à espera de que os derrotados fizessem uma proposta de paz. Mas, humilhados, os líderes árabes não queriam paz, queriam vingança, e essa atitude tornou-se a tônica nos 40 anos seguintes. O nacionalismo deu lugar ao fundamentalismo, e este ao terrorismo. Para a linha-dura israelense, a ocupação era questão de segurança; para o outro lado era uma forma de opressão, que ajudou a fortalecer a identidade palestina. A necessidade de um Estado palestino, previsto na resolução da ONU da qual resultou o Estado de Israel, hoje é consenso.

Conta a Bíblia que os hebreus vagaram 40 anos no deserto até entrar na Terra Prometida. Esse tempo era necessário para que a velha geração dos escravos do Egito desaparecesse e que uma nova mentalidade surgisse. Quarenta anos depois da Guerra dos Seis Dias, uma nova mentalidade no Oriente Médio é mais que necessária.

Sobre o Autor

Moacyr Scliar: Nasceu em Porto Alegre, em 1937. É formado em medicina, profissão que exerce até hoje. Autor de uma vasta obra que abrange conto, romance, literatura juvenil, crônica e ensaio, recebeu numerosos prêmios, como o Jabuti (1988 e 1993), o APCA (1989) e o Casa de las Americas (1989). Já teve textos traduzidos para doze idiomas. Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, a televisão e o teatro.

O centauro no jardim, A majestade do Xingu, A mulher que escreveu a Bíblia e Contos reunidos são alguns dos livros marcantes de sua vasta obra literária, que soma hoje mais de 70 títulos publicados. Entre os recentes, destacam-se o romance Na noite do ventre, o diamante e o juvenil Um menino chamado Moisés, uma reconstituição imaginária da infância do famoso personagem bíblico.

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