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Eis o que eu queria dizer:

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 14/06/2007.

Em 1968, o Nelson Rodrigues do quase esgotado "A Cabra Vadia" — livro recomendado para a oficina de crônica da Flip — é um jornalista de 55 anos, 42 de prática em jornal, ex-covarde e sobrevivente solitário de uma família brilhante e quase dizimada ("Todos morreram, todos, até o último vestígio."): um velho.

Velho é como ele mesmo se descreve, de uma velhice amarelada, desencantada, testemunhando o nascimento de um mundo novo que hoje em dia está caindo... de velho. Impossível evitar-se imaginar este velho Nelson, impactado pelo surgimento recente da televisão a cores, no mundo dinâmico e hiperconectado da imprensa online. A esquerda festiva se desfez em ressaca homérica, nas águas passadas do comunismo. O Antonio´s fechou faz tempo: virou loja de ferragens. Carlinhos de Oliveira se foi — como aliás os demais personagens famosos do bar —, dessa vida e de grande parte das memórias. A nudez virou lugar comum, o sexo se escancarou de vez, e o palavrão acabou na novela das sete. Me surpreendo ao me deparar com uma prosa fluente, no meu entender porém, bem menos contundente do que eu esperaria de um escritor reconhecidamente devasso. Ainda bem que o Leblon, pelo menos, continua hype: moro aqui, e não conheço no mundo lugar melhor pra se morar, embora corra o risco cotidiano de ser forçada pelas circunstâncias a me mudar. Queira Deus e seu representante cristão, abrindo acolhedoramente os braços na minha varanda, que não seja preciso.

Da mesma idade que o (em 68) Nelsão — como se refere carinhosamente a ele seu mais recente editor póstumo, Paulo Roberto Pires — não me preparo para morrer, mas pra renascer pelas mãos ingratas da literatura: na boca de muitos — e desconsolados — adeptos, um vício, que só tem me dado alegria. Ainda bem, porque dinheiro que é bom... tsk, tsk.

Nelson Rodrigues, homenageado da Flip, tem (presumivelmente) tudo pra ensinar a um novato da crônica. No rastro da homenagem ao mestre, homenageia-se, por conseqüência óbvia (mas para mim, nem tão ululante), a crônica: gênero literário que vem ganhando cartaz nos blogs, mas segundo ainda... Paulo Roberto Pires, tem se comportado bem mal na transcrição para o papel — me perdoem, blogueiros — verdadeiro domicílio da... literatura. O engraçado é que, na minha (nada) modesta opinião, as crônicas de Nelson tampouco "funcionam" bem em livro: me parecem datadas, meio repetidas, presas de um certo modo às obsessões do autor. (Momento correto, gente: percebam o meu cuidado criterioso ao criticar o portento, haham, quem sou eu!)

Ainda bem no comecinho da "Cabra", e já cabeceando o tédio — imaginem então, socorro! como sofre o meu leitor cotidiano... — prefiro destacar o que aprendi. Primeiro: cronista que se preze tem que ter um bordão, e o de Nelson dá título ao post, "Eis o que eu queria dizer", seguido de dois pontos e travessão. (Ih, Noga, desse jeito, com essa cagação meticulosa de regra, você ainda acaba em mera revisora). Não sei se já alcancei esse primeiro estágio, gente, hum. Se tiver, foi mesmo com este "gente, hum" aí, será? Segundo: é necessário um estilo marcante, este sim, traduzido — penso eu — por obsessões de autor. Nelson e eu compartilhamos algum sarcasmo nessa, uma visão crítica e meio blasé do cotidiano.

Os demais itens ainda não sei, ainda bem (cacofonista): preciso deixar algo pra descobrir na oficina, ou pelo menos no resto do livro, que pretendo sim, ler todinho até 5 de julho, e não, gente, não é nome de rua em Copacabana não, mas a data de abertura do workshop de crônica em Paraty. Falar nisso... será mesmo 5? Ou cinco? Confesso que me enrolo com essas regras de grafia, juro.

Tive o maior gosto, isso sim, em perceber que o grande Nelson derrama sua verve sem se preocupar nem um pouco com eventuais repetições, redundâncias, ênfases deliciosamente praticadas... e reputações: um puta alívio. Em suma: adorei você, velho Nelson. Me libertou de verdade, e eu não esperaria outra coisa. Afinal, temos mais em comum do que o mero cenário charmoso do Leblon.

PS - e já que estamos em 1968 hoje, um lembrete: foi comprovado — e reconhecido pelo comitê de mea-culpa da ditadura militar — que Iara Yavelberg, amante do recentemente promovido a general Carlos Lamarca, não se suicidou com um tiro coisa nenhuma, shame on you, Globo: foi suicidada, isso sim, pra não dizer trucidada, e já convenientemente transferida da ala proscrita de suicidas do cemitério judaico. Cada família tem as obsessões que merece.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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