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Gênesis 1.1 - No Princípio
por Henrique Chagas
*
publicado em 23/05/2004.
Entendo que o Gênesis é uma compilação dos escritos e do conhecimento da tradição oral do povo de Israel. Há nele várias correntes do pensamento e do conhecimento hegemônico da época em que foi compilado, prevalecendo especialmente três correntes: a eloísta, a javista e a sacerdotal. Veja que no primeiro capítulo vemos duas narrativas da criação e a primeira delas, embora seja atribuída à corrente sacerdotal, adota o nome Elohim para o Criador.
Portanto, o livro sagrado do Gênesis não foi escrito por algum jornalista especialmente enviado para cobrir o acontecimento e descrever fielmente os fatos. É uma criação literária coletiva decorrente de milhares de anos de tradição oral e fragmentos escritos de vários povos daquela região. É fruto da viva fé e da esperança do povo e de suas experiências íntimas com Deus. Além de constituir-se em livro sagrado, também é um código ético e moral. Segundo a tradição judaica, foi compilado por Esdras por volta de 444 antes da Era Cristâ.
" 1 No princípio criou Deus os céus e a terra. 2 E a terra era vã e vazia, e (havia) escuridação sobre a face do abismo, e o espirito de Deus se movia sobe a face das aguas..."
Bereshit bara Elohim et hashamayim ve´et ha´arets. Veha´arets hayetah tohu vavohu vechoshech al-peney tehom veruach Elohim merachefet al-peney hamayim.
"No princípio criou Deus céus e terra": a porta de entrada para compreender e distingüir minha própria fé. Ponho-me a refletir na existência do Criador, da qual não duvido. Atravessei esta porta. Minhas vistas se abrem, um novo mundo eu vejo: Elohim criou. Vemos que no hebraico Elohim é uma palavra plural (El é outro nome para Deus dentro das culturas semíticas). E o verbo criar (bara) está conjugado no singular. No hebraico bara é usado exclusivamente acerca do ato divino criativo, pois envolve o sentido de dar ordem ao caos existente ou mais especificamente, envolve algo que foi trazido à existência ainda que nada antes existisse. Creio que somente um Deus criou céus e terra, entretanto o único Deus existente é plural, o que não significa a idéia de pluralidade de pessoas.
Minha percepção, tanto como confissão quanto de conhecimento, é que um único e exclusivo Deus criou. Todavia, vejo várias conjecturas para o sentido de Elohim (no plural). O primeiro sentido frisa a majestade de Deus e todo o seu poder. Já vi alguns comentaristas afirmarem que toda a corte celestial também estaria presente no ato da criação, todavia creio eu que a corte celestial presenciou e assistiu o ato majestoso da criação. Entretanto a corte celestial apenas assistiu e exaltou a criação e com certeza não participou do ato criador, pois somente o Deus Único, na sua expressão plural, criou céus e terra.
Outros tentam extrair desse plural um sentido trinitário cristão, mais aí seria cristianizar demais o texto que não é fruto da experiência e da tradição cristã e sim da tradição judaica. A doutrina da Trindade somente foi adotada após o Concilio de Nicéia (325), todavia o termo "Trinitas" aparece pela primeira vez com Tertuliano, em Cartago, por volta de 212. Agostinho, no seu estudo "A Trindade", estabeleceu todo o fundamento de sua reflexão teológica na fé em um só Deus, sustentando que as três pessoas que possuem um única substância e essência e tem como ponto de partida a natureza una e única de Deus. Também não consigo admitir as três pessoas da Trindade distintamente consideradas, pois Deus é ÚNICO. Elohim (no plural) significa essencialmente a pluralidade de nossas consciências: é único e Pai de todos, mesmo que insistam em chamá-lo de Elohim, Javé, Jesus ou Alá.
A confissão de que Deus é único e transcendente , não apenas uma oração, mas indica a exclusividade de minha fé. Não é somente um juízo de que Deus, um só Deus, existe, mas é a constatação da sua atuação criadora no princípio e por todo o sempre. Por outro lado, o criar de Deus é totalmente diverso do criar humano. Deus sempre existiu,mesmo antes da criação, pois é eterno (somente Ele é eterno). Houve um tempo que somente Deus existia e que seu ato criativo (não me importo que modus operandi Ele tenha utilizado) trouxe a existência a criação - céus e terra - em algum ponto remoto do tempo: bilhões de anos passados, por exemplo. A partir do quê? Do nada? Hebreus 11.3 diz qe "o mundo visível não tem sua origem em coisas manifestas", tem sua origem no imaterial, nas realidades que somente existiam em Deus, de quem tudo procede. Foram criadas a partir da própria energia criativa do Deus único.
Por isso eu creio: Deus criou e continua presente em sua criação. Ele se importa com a criação e não há caos que o poder de Deus não consiga por em boa ordem (seja cósmica ou pessoal). E toda a criação e toda energia criativa que a impulsiona voltarão para Deus.
É para onde vamos.
Sobre o Autor
Henrique Chagas: Henrique Chagas, 49, nasceu em Cruzália/SP, reside em Presidente Prudente, onde exerce a advocacia e participa de inúmeros eventos literários, especialmente no sentido de divulgar a nossa cultura brasileira. Ingressou na Caixa Econômica Federal em 1984. Estudou Filosofia, Psicologia e Direito, com pós-graduação em Direito Civil e Processo Civil e com MBA em Direito Empresarial pela FGV. Como advogado é procurador concursado da CAIXA desde 1992, onde exerce a função de Coordenador Jurídico Regional em Presidente Prudente (desde 1996). Habilitado pela Universidade Corporativa Caixa como Palestrante desde 2007 e ministra palestras na área temática Responsabilidade Sócio Empresarial, entre outras.É professor de Filosofia no Seminário Diocesano de Presidente Prudente/SP, onde leciona o módulo de Formação da Consciência Crítica; e foi professor universitário de Direito Internacional Público e Privado de 1998 a 2002 na Faculdade de Direito da UNOESTE, Presidente Prudente/SP. No setor educacional, foi professor e diretor de escola de ensino de 1º e 2º graus de 1980 a 1984.
Além das suas atividades profissionais ligadas ao direito, Henrique Chagas é escritor e pratica jornalismo cultural no portal cultural VerdesTrigos (www.verdestrigos.org), do qual é o criador intelectual e mantenedor desde 1998. É jurado de vários prêmios nacionais e internacionais de literatura, entre eles o Prêmio Portugal Telecom de Literatura.
No BLOG Verdes Trigos, Henrique anota as principais novidades editoriais, literárias e culturais, praticando verdadeiro jornalismo cultural. Totalmente atualizado: 7 dias por semana.
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