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Um empurrãozinho para a boa vontade

por Efraim Rodrigues *
publicado em 28/11/2006.

No último dia 26 de outubro, o Decreto Federal 5940 institucionalizou a
coleta seletiva de lixo.

Uma boa idéia, igual a tantas outras que enchem o inferno. É claro que
um decreto federal, publicado no diário oficial e tudo, é sempre uma boa
divulgação para o problema do lixo, porém sem definir a pena para os que
não separarem o lixo, é só uma boa porção de ar quente.

Somente cinco cidades brasileiras possuem coleta seletiva para todos
seus cidadãos. São elas: Londrina, Curitiba, Santo André, Santos e
Itabira.

É claro que a reciclagem não está proibida para aquelas pessoas que não
são servidas por coleta seletiva. Eu já reciclava meu lixo muito antes
ser servido por coleta seletiva. Mas para aqueles que não são
fundamentalistas radicais xiitas como eu, um empurrãozinho do governo
ajuda bastante.

Em Curitiba e Londrina, as prefeituras estão ameaçando não mais coletar
lixo misturado em 2007. Só com isto, a coleta seletiva já aumentou um
monte nestas duas cidades Esta singela ação mostra quantos cidadãos
estão aí fora querendo ajudar, mas precisando de um empurrãozinho.

Um outro empurrãozinho que as cidades poderiam dar, mas eu duvido que o
façam, seria reduzir a taxa do lixo em proporção à redução do lixo
recolhido. Esta operação de coleta de lixo é enorme, e movimenta
orçamentos milionários, tanto que são fonte constante de corrupção em
prefeituras. Minha vida está correndo risco só de mencionar isto em um
jornal !

Londrina reduziu sua quantidade de lixo em quase um quarto, graças à
mobilização do município, à boa vontade das cidadãos e às ONGs de
catadores. Porém, a taxa de lixo continua sendo cobrada da mesma forma.

A redução dos custos foi até mesmo comprovada com uma dissertação de
mestrado do curso de administração da UEL. Muito poucos Londrinenses
sabem que a cidade passou, com este pequeno "empurrão" municipal, a
fazer parte de uma elite de cidades limpas, com taxas de reciclagem
altíssimas, onde é reciclado ao redor de um quarto do lixo produzido.

É claro que em boa parte, isto se deve a disponibilidade de mão de obra
baratíssima. É aliás, pelo mesmo motivo, que o Brasil recicla mais de
90% de suas latinhas de alumínio. Mas é certamente melhor ser uma cidade
sem empregos e limpa, do que sem empregos e suja. Para não falar que a
coleta seletiva em si é uma criadora de empregos.

Uma redução na taxa de lixo cobrada nestas duas cidades seria então não
só uma recompensa aos cidadãos que fizeram a sua parte, como um modo de
divulgar que esforço investido até aqui teve frutos, e que portanto
investindo mais, cidades como Londrina, Curitiba, Santo André, Santos e
Itabira aumentarão ainda mais sua reciclagem.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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