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Quintana e a língua-de-sogra
por Pablo Morenno
*
publicado em 28/11/2006.
Na Feira de Ijuí-RS, onde estive a convite do SESC, um detalhe me desconcertou. Na praça, aqui e acolá, entre livros e árvores, os poemas de Quintana pareciam morar ali desde sempre. Suas fotos, em preto e branco, encontravam-se com a gente por todos os lados. Os poemas, em letras garrafais, pareciam ao mesmo tempo pássaros escalando as árvores e frutos pendentes.
De repente, me dou conta. Desde uma das imagens o poeta me fitava com uma língua-de-sogra entre os dedos e próximo à boca. A língua-de-sogra, aos que não sabem, é uma dessas aparições da infância nos preparando ao mundo adulto. O brinquedo, comum nos aniversários infantis, é composto de um bocal e um pedaço de papel autoenrolável que vai e vem com o sopro. Segundo dizem, a verdadeira língua de sogra desenrolada teria o mesmo tamanho.
A língua-de-sogra da foto era colorida, e o resto da imagem era em preto e branco. Seria aquela uma homenagem para alguma póstuma sogra? Impossível. Quintana sempre fora um solteiro convicto. E celibatário, como juram alguns. O brinquedo estava na mão do poeta completamente deslocado.
Lembrei. Eu já havia visto aquela foto em outro lugar. E não havia língua-de-sogra da primeira vez. Se a tivesse visto, jamais a esqueceria. Era óbvio.
Como não costumo ficar intrigado sem desintrigar, procurei o pessoal organizador da Feira. Me explicariam aquela foto.
E explicaram. Como as modelos da playboy sem celulite, Quintana foi alterado em photoshop. Nunca houvera alguma sogra oculta, muito menos fora alguma vez fotografado com o brinquedo. Na foto original, entre os dedos do poeta incendiava-se um cigarro. E foi apagado. Duplamente apagado.
Mas, qual motivo transformaria um cigarro em língua-de-sogra?
Por causa das crianças. Para não dar exemplo nefasto, me responderam. O bom velhinho jamais poderia ser um fumante. Como a língua-de-sogra na foto, o vício do poeta não se harmonizava com a imagem que os professores queriam passar aos infantes.
Discordei. Poetas e escritores são humanos. Embora os admiremos por seu trato com a palavra, todos têm algum defeitinho. Seria melhor manter a verdade, e conversar com as crianças sobre o cigarro. Crianças de hoje deixaram de ser bobinhas.
Mais cedo ou mais tarde, elas, como eu, descobrirão o embuste. A mentira, ou verdade inventada, só tem lugar na literatura. Isso, também, como o próprio Quintana, nunca será consenso entre os críticos. Eles, como os moralistas, passarão. E Quintana, com cigarro ou língua-de-sogra, passarinho.
Sobre o Autor
Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno
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