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Brasileiros na Grécia

por Jacinto Guerra *
publicado em 15/07/2006.

Mineiro de Bom Despacho lembra sua viagem a Atenas e Ilhas Gregas nos tempos em que o Real valia um Dólar

"O momento é de emoção. Já estamos próximos de Atenas, a fantástica cidade-estado onde nasceu a democracia, lugar de deuses e heróis lendários, onde o apóstolo Paulo teve a ousadia de pregar a existência de um Deus todo poderoso, criador do Céu e da Terra."


De Roma a Atenas, estamos voando sobre o Mar Jônico, que separa a Itália da Grécia. Nuvens brancas abrem-se rapidamente, mostrando o fascínio do mar, com o azul das águas e o rendilhado das ondas. Pouco mais de uma hora de vôo e, novamente, avistamos terra. Já estamos sobrevoando os vales e as montanhas da Grécia, vendo cidades, lugarejos, aldeias e mais aldeias.

O momento é de emoção. Já estamos próximos de Atenas, a fantástica cidade-estado onde nasceu a democracia, lugar de deuses e heróis lendários, onde o apóstolo Paulo teve a ousadia de pregar a existência de um Deus todo poderoso, criador do Céu e da Terra. Cidade das mais importantes do mundo antigo, hoje Atenas é uma das modernas capitais da Europa, situada nos caminhos bem próximos do Oriente, nas portas da Ásia distante.

Vamos caminhar nos lugares onde andaram os maiores sábios da Antiguidade, onde soldados, artistas e apóstolos defenderam suas idéias, empunhando armas, moldando a pedra, usando a inteligência e a palavra.

As primeiras imagens de Atenas são reflexos do sol brilhando intensamente nos telhados. Moinhos de vento nos fazem lembrar da Holanda e de Portugal. A paisagem é árida e montanhosa, mas aparecem ilhas de verde nos vales e nas encostas.

Aqui os homens sonhavam viver no meio de deuses. Lugar de sol intenso e forte, o brilho nos telhados mostra as placas de energia solar levando o conforto da eletricidade aos atenienses da periferia. Os moinhos revelam que também a força dos ventos está a serviço do homem. É a energia eólica, de Éolos, o deus grego dos ventos e das tempestades.

Por volta do meio-dia, com o sol a pique, o avião aproxima-se de Atenas. Quando a aeronave toca o solo da Grécia, aplausos fortes e demorados revelam o entusiasmo, a alegria e a emoção de todos. Lembrei-me de Câmara Cascudo, lá em Natal, no Rio Grande do Norte, estudando porque, em todos os lugares do mundo, o homem bate palmas nos momentos de comemoração e de entusiasmo coletivo.

Chegamos do outro lado da Europa, depois de cruzar o Atlântico e de sobrevoar o Norte da África, deixando para trás o Mediterrâneo e a Itália de tantos sonhos. Abre-se a porta do avião. Muito sol e calor. Construído pelo arquimilionário Aristóteles Onassis e, depois, cedido ao governo grego, o Aeroporto de Atenas tornou-se pequeno e modesto para os padrões internacionais e o grande movimento turístico da Grécia.

Bem que o primeiro-ministro Papandreous poderia contratar o Niemeyer para projetar um aeroporto à altura de uma cidade tão importante como Atenas. Além disso, ninguém melhor do que empresas, engenheiros e operários brasileiros para realizar grandes obras, em qualquer parte do mundo. (Como não gosto de notas de pé-de-página, segue uma informação interessante, de outubro de 2003: Para as Olimpíadas de Atenas, em 2004, os gregos já construíram um novo e moderno aeroporto internacional. Parabéns! A Grécia e os atletas merecem).

Viajar, sobretudo para lugares distantes, é caminhar no desconhecido. Por mais que a gente estude uma cidade ou um país, nada se compara ao contato direto com a terra, o vento, a natureza, as pessoas na rua, a alma e o espírito do povo. Os livros, o cinema, a televisão e a internet abrem os caminhos do conhecimento, mas não conseguem mostrar uma visão completa das coisas. Nem mesmo os olhos humanos são capazes de descobrir tudo, mas a proximidade amplia o campo da visão, do sonho, da realidade e da fantasia.

Atenas é hoje uma surpreendente cidade contemporânea, européia, de uma Europa vizinha do Oriente Médio, do Egito, de Jerusalém, de Istambul - antiga Constantinopla que, outrora, se chamara Bizâncio. Situada à beira-mar, a capital da Grécia moderna é uma cidade muito agradável, bem maior que Belo Horizonte. Atenas não possui edifícios muito altos, em razão dos terremotos.

Ficamos no Hotel Chandris, na Avenida Syngrou. O calor é amenizado pela sombra das árvores e pela brisa que vem do mar. Tarde livre em Atenas. Fomos ao supermercado, fazer compras para um lanche. No Marinopoulos, tudo muito limpo e moderno. Uma lanchonete para os fregueses, servindo as melhores iguarias da culinária grega. Ao lado, mesinhas e cadeiras, com turistas alegres e animados, inclusive brasileiros e portugueses.

Uma banca de jornais vende, é claro, revistas e jornais italianos, franceses e gregos, naturalmente. Dou uma olhada nas manchetes. A notícia de maior destaque refere-se a um terrível atentado no metrô de Paris. Com todo respeito pelas vítimas da estação de Saint Michel, vamos esquecer esse triste acontecimento, porque a vida continua.

Paris em italiano é Parisi.O leitor há de convir que, em português, Paris tem outro charme...

Como acontece em determinados supermercados brasileiros, aqui também se vendem livros. Belas edições, com excelente encadernação. Tudo em grego. Nenhum livro de escritor brasileiro, português ou latino-americano. Um consolo a gente tem: azar dos gregos que, certamente, ainda não tiveram o privilégio de conhecer a obra de Guimarães Rosa, Machado de Assis, José Saramago e Fernando Pessoa, sem falar nos latino-americanos Vargas Lhosa, Jorge Luis Borges e tantos outros.

Como ainda estamos no Marinopoulos, o supermercado próximo da Avenida Chandris, achei uma beleza as verduras, frutas e legumes mantidos em refrigeração, tudo em modernas embalagens coloridas e ilustradas, de plástico ou alumínio, coisa que ainda não existia nas grandes cidades brasileiras que conheço. Entre os produtos industrializados, procuro e não encontro nada importado do Brasil, nem mesmo derivados do café.

Para fazer as compras, não tivemos maior dificuldade.Como não sabíamos palavra alguma do grego moderno, conhecíamos os produtos enlatados pela ilustração nas embalagens. Convertíamos o preço em dracma, a moeda grega, para o dólar - e fazíamos o pagamento. Os preços, na época, quase sempre eram uma beleza, porque - acreditem, leitores! - o real valia um dólar.

De repente, um casal gaúcho encontra um cidadão grego que fala fluentemente o português. Foi uma festa! Outros brasileiros se juntam ao grupo e a conversa fica bem animada. Em Minas, sobretudo em Belo Horizonte e nas cidades mais provincianas, quando mais de duas pessoas se reúnem, dizem que é um comício. Quando o número de participantes aumenta, vira uma conspiração. Na Grécia, eu não sei não...

O grego de quem estávamos falando, morou mais de dez anos no Brasil, em São Paulo, onde ficara viúvo. Para enfrentar a solidão e o sofrimento, retorna à Grécia e encontra um novo amor: "Eram tempos difíceis no meu país. Fui muito jovem ganhar a vida no Brasil. Fui e venci. Hoje a Grécia melhorou muito. O salário-mínimo é quase cinco vezes maior que o do Brasil: quatrocentos e cinqüenta dólares. Temos meia dúzia de milionários, uma classe média muito forte e uma grande faixa de população pobre. Miséria, praticamente nenhuma".

Diante de informações desse tipo, ficamos satisfeitos com as conquistas do povo grego, que começamos a ver e sentir nas ruas, mas não escondemos nossa tristeza com a realidade do Brasil, convivendo com a vergonhosa riqueza de uns e a miséria extrema de tantos. Até quando, meu Deus?

No entanto, estamos apenas começando a ver, de perto, as belezas da Grécia: o fascínio de Atenas, com suas áreas verdes abraçando palácios, monumentos e ruínas históricas, no ambiente e no clima de uma cultura milenar, que tanta influência exerce, sobretudo em nosso mundo ocidental.

Já ficamos sabendo que os gregos gostam muito dos brasileiros. Por motivos diversos: a paixão pelo futebol, o entusiasmo com o basquete e o vôlei, o gosto pela música e a dança. Outra razão é econômica - o turismo -, porque os brasileiros compram muito. Tudo bem, ótimo, nesse tempo de vacas gordas para a classe média, em que o Plano Real facilitou as viagens internacionais, mas precisamos desenvolver o turismo receptivo no Brasil. A Grécia, com uma população quinze vezes menor que a nossa, recebe cinco vezes mais turistas que o Brasil!

Abro a janela, de manhã, e custo a acreditar. Mas é Atenas mesmo! Vejo o mar azul da Grécia e tenho certeza que, ao lado, estão as colinas históricas, a fantástica Acrópole, as paisagens que eu tanto admiro nos livros, no cinema e na televisão. Sinto muita vontade de escrever. E preguiça, também, ora essa, porque, afinal, estou de férias...

Ainda hoje, embarcaremos no Pireu, para um cruzeiro marítimo pelas Ilhas Gregas. Vamos conhecer Mikonos, Patmos e Rodhes, além de Kusadasi e Éfeso, na Turquia, uma das capitais do mundo antigo, nos tempos de Cristo.

Antes da viagem pelo Mar Egeu, abro o Catálogo de Telefones da Grécia, em suas Páginas Azuis. Para desenvolver o turismo e os negócios, estão registrados, com destaque, os nomes de várias cidades de países os mais diversos. Mineiro desconfiado, observo que, do Brasil, os gregos lembraram apenas de Belo Horizonte, Brasília, Campinas e, se não me engano, Curitiba, Ponta Grossa, Porto Alegre, Rio de Janeiro - e outros lugares com forte proteção divina: São Caetano do Sul, São Lourenço e a maior cidade brasileira:São Paulo. Falta Bom Despacho, uai! ... (1995) (Do livro O gato de Curitiba - crônicas de viagem, de Jacinto Guerra, Thesaurus, Brasília, 2ª edição, 2004)

Sobre o Autor

Jacinto Guerra: JACINTO GUERRA, mineiro de Bom Despacho, é autor de ensaios e biografias como o JK-Triunfo e Exílio-Um estadista brasileiro em Portugal, além de outros livros, entre os quais O gato de Curitiba - crônicas de viagem e outras histórias, editados pela Thesaurus, em Brasília.

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