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Pronomite
por Noga Lubicz Sklar
*
publicado em 24/02/2009.
Nada é igual a ele e eu.
apud Caetano Veloso, in "Ela e eu"
apud Caetano Veloso, in "Ela e eu"
Alan vive tentando arranjar um jeito de me explicar como dominar a fera indomada do idioma inglês, esse vasto amontoado de línguas antigas misturadas modernizado na marra, na tentativa e erro, no violento ringue popular das trocas verbais diárias. Não consegue. O inglês abomina os estrangeiros, vocês sabem, há que aprendê-lo desde os cueiros pra poder engolir no susto aquelas regras todas que confirmam as exceções, francamente. Até o chinês, com seus quarenta e sete mil e cacetadas caracteres elaborados, perde, põe babelfish nisso.
Pois me consolei esta manhã quando li no NY Times, como parte integrante de inestimáveis conselhos da imprensa para o importante discurso que o Presidente Obama (uau, ainda não me acostumei com isso) dirigirá esta tarde ao congresso dos Estados Unidos, um alentador artigo. O grande Barack, parece, em seu afã de parecer íntimo, é mais uma vítima letal de pronomite aguda: é "Michelle e eu" pra cá e "Michelle e eu" pra lá... Quando deveria ser, vamos combinar: Michelle e mim. Uai. Estranhou? Pois é. Em português soa errado à beça.
O artigo meio que justifica a transgressão com a já reconhecida propensão literária do presidente. Até Shakespeare, imaginem, está cheio de "you and I", mas não é de espantar: o palavrório dos desocupados críticos linguísticos em torno de "eu" e "mim" - ops: "I" and "me" - só começou lá pelo século dezenove, ah, bom.
Já no português, quem pretende soar literário foge do "eu" como o diabo da cruz, ao ponto de às vezes comprometer o entendimento: "estava ali na calçada..." uai, estava quem?, é primeira ou terceira pessoa? Ok. Fêtes vos jeux. Embora "Marley e eu" - e um bocado de seus similares por aí - tenha feito o maior sucesso, em certo romance de maior responsa a tradução (traição!) não foi tão feliz, vejam essa: "Me. And me now." virou, com certo desprezo pela sagrada pena pregressa: "A mim. E eu agora.", uau. Cadê a música? Cadê a cadência, a poética deferência ao ritmo original? Hein? Ah, tá bom: Joyce errou, não? Deveria ter dito "I. And I now." (ai que essa doeu no ouvido: por isso é que ele é James Joyce e o resto de nós, etc., etc.)
Ah. Deixa pra lá que hoje é carnaval. Mas o que eu queria mesmo dizer, o que me forçou meesmo a parar de sambar para estacionar a bunda por alguns segundos e escrever no blog, foi o franco desejo de me manifestar a respeito (ou seria mais correto "manifestar-me? é. o português tampouco alivia.) e dizer pra vocês, muito cá entre nós, que o que consagra realmente o idioma não é a ortografia, ou um bando perdido de scholars cagando regras numa mesa, não, gente. O que consagra mesmo uma língua, como claro reflexo da imbatível linguagem das ruas, claro, é seu uso em literatura: uma espécie eficaz de vacina contra os males gramáticos mais absurdos.
Por conta disso, já vou logo afirmando que naquele meu novo livro, embora poucos venham a perceber, honrei sutilmente Arthur Dapieve, um mestre da crônica querido que
Sobre o Autor
Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.
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