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RESENHAS
Cartografia poética da cidade
Ronaldo Cagiano*
Em seu segundo livro, O Ar das Cidades, o poeta carioca Sérgio Alcides propõe um outro olhar sobre as cidades, naquilo que a atmosfera urbana tem de encantamento e precariedade. Uma nova sintaxe de uma realidade subjacente, que só os poetas conseguem extrair a partir de um referencial externo tantas vezes impermeável. No movimento denso das ruas, o poeta enxerga além do sentido óbvio que há nas coisas, nos objetos, na dinâmica social e nas re(l)ações individuais, impregnadas de um cosmopolitismo frio e racional.
Temática às vezes batida por outros autores, ela encontra em sua poesia uma outra dimensão, em contraposição a tudo o que se diz sobre o viver na urbe, esse universo pessoal dissociado da polis, com suas vinculações políticas e suas formalidades, sem espaço para a subjetividade. Aqui, a transfiguração poética se manifesta no contato psicológico com a realidade, despojando-a de sua selvageria carbônica e das criaturas metropolitanas sem rosto e sem alma.
Em singela introspecção e adotando uma leveza vocabular, numa simbiose entre o visual e o verbal, o poeta arregimenta naturalmente as palavras para falar em tom coloquial dessa cidade que vai sendo exorcizada entre um poema e outro. Delimita o território de suas percepções numa estrutura poética que chama atenção pela ausência de escoras, de agregações, de penduricalhos e adjetivações. Seu poema é curto e grosso, na linha de um pragmatismo estilístico muito particular.
Numa época de tantas estréias literárias, muitas vanguardas e pouca excelência criativa, podemos situar a poesia de Sérgio Alcides como arte depurada, sem afetação ou bravata. O Ar das Cidades, impõe-nos a necessária compreensão dessa estrutura tentacular, dominadora e melancólica chamada cidade, com seus ares afetados e seus fluxos de interesses divergentes, onde vida e morte se interpenetram sem concessões.
Sobre o Autor
Ronaldo Cagiano:
De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.
Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.
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