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RESENHAS
Outono sobre Paraty
Zelmo Denari*
O jurista Zelmo Denari acaba de lançar o seu primeiro romance OUTONO SOBRE PARATY. Como jurista, Zelmo é referência nacional, tendo publicado diversas obras e colaborado na redação do Código de Defesa do Consumidor. Na área da dramaturgia, conquistou um prêmio em Recife por sua peça Olinda, Olinda. Não bastasse ser um grande jurista, ter sido um excelente professor, dramaturgo e escritor, este amante do jazz prepara para lançar em 2006 um CD com suas composições musicais.
Iniciei a leitura vagarosamente. Realmente Zelmo deixou o jurista de lado e de forma fluente relata o drama daqueles que viveram os sonhos de um pais livre da opressão e arbítrio dos militares.
Outono em Paraty
A palavra ordem era abandonar o aparelho do Rio de Janeiro. As personagens vão se integrando ao cenário na medida necessária... a histeria de cada um retrata sem fazer alarde - como diria Chico Buarque - vai sendo desvelada e revelada com sensatez. No entanto, há uma simplicidade e uma cumplicidade visíveis entre os personagens contando até com certa ingenuidade de cada um deles mesmo nos sentimentos mais contraditórios, às vezes pecaminosos... De repente, o amor; e o amor se faz tragédia. Por isso mesmo, o texto é belamente sensual na melhor das acepções. Fluência me parece ser a palavra-chave desta obra, que retrata o drama vivido por todos aqueles que lutaram por um país mais justos e menos desigual, mas foram perseguidos e eliminados durante o regime militar, após o golpe de Março de 1964.
O texto guarda informações que vão se abrindo como se fossem pequenas caixinhas de segredos, transportando o leitor para o centro da discussão. O claro e o escuro permanentes na obra são disponibilizados pelo vocábulo rico em detalhes e pelo calor que carrega nas emoções, sensações, percepções, imaginações... Carrega a afetividade na concepção que cerca cada personagem, seus desejos, suas intimidades, suas fantasias, suas alegorias, sua visão de mundo.
A plasticidade literária oferecida ao leitor permite que o mesmo se surpreenda muitas vezes sonhando os mesmos sonhos dos personagens, independentemente da idade, do sexo, nacionalidade ou condição social que eles ocupam em virtude do envolvimento que o texto propões alcançar.
Na evolução dos capítulos a cada descrição do vão, do desvão, da cor da noite, do brilho do amanhecer, do sussurrar do vento, da pisada de cada transeunte pelas pedras lamacentas da cidade, nas entranhas do casarão, na piedade, na inveja, no ciúme, no tumulto surdo da honra e do desejo, arrebatados e abatidos... A descrição é tal como bem feita que causa o desconforto necessário ao envolvimento do leitor com a obra.
Há uma identificação e familiaridade do leitor com o ambiente, a situação política, o poder, o desejo, as crenças, o contrastar entre o rural e o urbano. Como pano de fundo a paisagem outonal de Paraty, ricamente descrita, auxilia tanto na familiaridade literária do autor quanto se encarrega de seu maior envolvimento com as histórias individuais descritas com independência para cada personagens, porém, partes de uma estrutura maior e avassaladora dos costumes, de culturas fragmentadas, que vão se juntando e se complementando numa história contemporânea.
Presidente Bernardes, primavera de 2000
Sobre o Autor
Zelmo Denari: Zelmo Denari nasceu em Presidente Bernardes no ano de 1935. completou o curso jurídico em São Paulo em 1959. Como jurista é referência nacional, tendo publicado diversas obras e colaborado na redação do Código de Defesa do Consumidor. Na área da dramaturgia, conquistou um prêmio em Recife por sua peça Olinda, Olinda. Este é o seu primeiro romance.
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