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RESENHAS
Magia de contar de histórias
Ronaldo Cagiano*
Praticamente desconhecida entre nós, a literatura búlgara chega aos leitores brasileiros com os "Contos de Tenetz", de Yordan Raditchkov (Ed. Thesaurus, 2005, 125 pgs., R$ 25), em tradução de Rumen Stoyanov e Anderson Braga Horta, enriquecida por apontamentos sobre a obra e o estilo do autor e outras informações sobre a cultura búlgara.
De Raditchkov, até então só tínhamos conhecimento de uma seleção traduzida em 1965 por Wânia Filizola, para a editora carioca Leitura, e o conto "Tenetz", publicado em 1974, no Caderno de Sábado, do Correio do Povo, de Porto Alegre, e no Suplemento Literário de Minas Gerais.
Há em sua escritura a vinculação a uma atmosfera que poderíamos identificar como primitivismo lírico, uma espécie de arte literária naïf. Nesses contos é muito nítida uma concepção narrativa inspirada em universos lúdicos, em cenas campestres e atmosferas bucólicas, além de uma captura do folclore nacional, como uma pintura da vida simples e do despojamento das pessoas do interior, na tentativa de recuperar a ancestralidade cultural e mitológica que povoa o imaginário das aldeias da Bulgária. Seu trabalho preza pela simplicidade na forma e por certa ingenuidade temática, mas com uma linguagem que não despreza a densidade nem prescinde da poesia.
Característica marcante nesses contos é o viés do supra-real ou do realismo mágico, na fluência de histórias inverossímeis, mas carregadas de ternura. Revelam a fantasia e o fascínio das alegorias infantis e mesclam elementos da cultura medieval, do coloquialismo pátrio e da prosa moderna. Os recursos da imaginação, seu ponto alto, são invocados com a habilidade de quem transporta o leitor para o mundo dos sonhos, como os grandes contadores de histórias da literatura universal.
Exemplo da singeleza e do encantamento provocados pelos contos, vamos encontrar, por exemplo, peixes habitando árvores, a palavra corporificada tendo vida e alma ou uma legião de seres estranhos ("verbludes"), que migram da lua para outros tempos lugares, transformando tudo em areia. "Contos de Tenetz" é um livro de histórias que, à primeira leitura, parecem escritas para crianças, por seu influxo fabulatório, mas se direcionam a qualquer idade, pois revelam a preocupação do autor em despertar, pela via do inusitado, uma reflexão sobre o absurdo da própria existência, questionando a realidade, esta sim, cada dia mais absurda, claustrofobia e excludente.
Oportuna e bem cuidada edição que a editora brasiliense traz ao público, aproximando leitores e críticos de um autor representativo em seu país. Traduzido em mais de trinta idiomas, Raditchkov morreu em 2004, aos 75 anos, deixando de 60 livros, entre contos, romances e novelas e mais de uma dúzia de peças teatrais.
Contos de Tenetz, de Yordan Raditchkov
Tradução Rumen Stoyanov e Anderson Braga
Thesaurus Editora, DF, 2005, 125pgs. R$25
Pedidos: (61) 3344-3738
Sobre o Autor
Ronaldo Cagiano:
De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.
Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.
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Digerindo dezembros, por Whisner Fraga.Ronaldo deveria ser mais lido. Contos como Destino e O rosto perdido figurar em qualquer roda de leitura que se preze. Poucas se prestam a tanto. Nada de velhos em chapadões ou de passados (e amores) perdidos. É démodé, é feio. E não adianta ficar enchendo lingüiça, páginas para convencer leitores que Cagiano é indispensável, etcétera, etcétera. É isso e ponto final.
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Meu Miguel, por .::. Verdes Trigos Cultural .::..
Como sempre tenho afirmado, Amos Oz é o meu autor preferido. Recebo com alegria a notícia do relançamento de uma de suas melhores obras: "MEU MIGUEL". Uma obra imperdível. Leia mais