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RESENHAS
Considerações sobre a nostalgia
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Considerações sobre a nostalgia, tese que Joaquim Manoel de Macedo defendeu na faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1844, tem a natureza dos textos inaugurais: entre os pioneiros da psiquiatria no Brasil, é ainda o primeiro entre nós a abordar o tema da nostalgia. O autor não só reconstitui extensamente as representações da saudade da pátria, há muito presentes na literatura ocidental e então em voga na literatura médica, como também está interessado em escrever um trabalho que seja útil ao país, buscando soluções para o problema da nostalgia dos escravos, mas sempre tendo em vista os interesses dos escravistas. Esse conjunto singular de ingredientes é que torna o trabalho valioso e atual para historiadores de diversas áreas e estudiosos da cultura e do imaginário em nosso país.
Aos 24 anos de idade, Joaquim Manuel de Macedo estreou como romancista publicando A Moreninha e concluiu o texto Considerações sobre a nostalgia , que defendeu na Faculdade de Medicina do Rio deJaneiro, diplomanhindudo-se em fins de 1844. A profissão de médico ficaria para trás e uma longa carreira literária começava. Mas o interesse de seu texto permanece; não só pelas relações com outras obras suas como As vítimas-algozes, que publicaria 25 anos depois -, mas principalmente por ser uma dos primeiros testemunhos da construção das idéias da saudade e nostalgia no Brasil. O trabalho de Macedo, também entre os precursores da psiquiatria no país, enfatiza o caráter patológico do desenraizamento, mal a ser extirpado em face da necessidade de fixação da mão-de-obra ao local de trabalho.
Antes dele, em 1836, Manoel Inácio de Figueiredo Jaime, igualmente diplomado pela Faculdade de medicina do Rio de janeiro, tratara do amor à pátria entre os temas de sua tese. Mas Macedo iria mais longe ao reunir grande conjunto de informações sobre a saudade e ao abordar a nostalgia do escravo: diante da impossibilidade do retorno dos escravos aos locais de origem, ele se dirige aos proprietários, resguardando os interesses econômicos desse grupo e indicando o tratamento pertinente. Paralelamente, seu texto participa da construção de idéias de saudade e de nostalgia no âmbito da sociedade brasileira, que na literatura do século XIX se expressaria em tantos autores, como José de Natividade Saldanha, José Bonifácio, Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, até atingir sua forma mais acabada, no que diz respeito especificamente àsaudade do escravo, com castro Alves, no poema A canção do Africano. Nesse arco temporal, em que o texto de Macedo está nas origens, constrói-se o imaginário dos grupos dominantes sobre o escravo e a saudade. (Ronald Polito).
Joaquim Manoel de Macedo nasceu em Itaboraí, no Rio de Janeiro, em 1820. Formou-se em medicina em 1844 e clinicou por pouco tempo no interior do Rio de Janeiro, abandonando a profissão. Foi professor do Colégio Pedro II, diversas vezes deputado à Assembléia Provincial do Rio de Janeiro e à Assembléia Geral, membro do IHGB, do Conselho Diretor da Instrução Pública da corte e do Partido Liberal. Foi um dos primeiros a usar a literatura para discutir a causa abolicionista. Faleceu em 1882 e deixou obra extensa e variada. Editou a revista A Guanabaracom Araújo Porto Alegre e Gonçalves Dias.
Como prosador, destaca-se com A moreninha, O moço-loiro e As vítimas-algozes. Como poeta, escreveu A nebulosa, poema importante do Romantismo brasileiro. Também teatrólogo levou à cena a ópera. O primo da Califónia, o drama Amor e pátria, as comédias Luxo e vaidade e A torre em concurso, entre outros. Escreveu sátiras romanceadas, como A luneta mágica, A carteira do meu tio e Memórias do sobrinho do meu tio.
Publicou ainda um compêndio intitulado Lições da história do Brasil e outro sobre Noções de corografia do Brasil. Como jornalista e editor, publicou o Ano bibliográfico brasileiro, entre 1876 e 1880.
Sobre o Autor
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