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RESENHAS
Não há saídas
Nelson de Oliveira*
Não há saídas, só ruas, viadutos, avenidas assim canta Itamar Assumpção no seu clássico Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava! Não há saídas, só crimes, pesadelos, feridas: é o que nos diz Ronaldo Cagiano neste Concerto para arranha-céus.
O tema que amarra praticamente todos os contos aqui reunidos é o da metrópole contemporânea. Cuidado, leitor solitário! Segure este livro com luvas de borracha. Figuras soropositivas deambulam por essa armadilha transfigurada: labirinto metafísico, sem entrada ou saída. Armadilha povoada de solitários (eu, você, eles) acostumados à manada. A cidade de Cagiano é a miragem traiçoeira, feita de lâminas enferrujadas que arranham, contaminam, sodomizam os protagonistas das suas narrativas enraivecidas.
Há cadáveres na avenida, psicopatas nos elevadores, ninfomaníacas no consultório dentário, sonâmbulos no baile de carnaval. Cada rua guarda a sua patologia, a sua história extraordinária, o seu fantasma tragicômico.
Essa cidade pode ser Brasília. Também pode ser São Paulo, Nova York, Tóquio: o ódio e o tédio não conhecem limites. A topografia reproduzida nestas páginas é a do apocalipse que se aproxima. Por isso o tom áspero de profeta enfurecido, por isso a voz furiosa cultivada pelo autor. Feito João Antônio, Samuel Rawet ou Luiz Ruffato, aí vai Ronaldo Cagiano: agarrado ao seu remorso, abraçado ao seu rancor.
Sobre o Autor
Nelson de Oliveira:
Nelson de Oliveira nasceu em 1966, em Guaíra, interior de São Paulo. Em 1995, recebeu pelo livro Fábulas o Prêmio Casa de las Américas, e em 1996 venceu o concurso promovido pela Fundação Cultural da Bahia com Os saltitantes seres da lua, também de contos. Em 1998, aos 32 anos, saiu Naquela época tínhamos um gato (Companhia das Letras). Escreveu ainda os romances Subsolo infinito (2000) e A maldição do macho (2002).
Em 2001, Nelson de Oliveira organizou a antologia Geração 90: manuscritos de computador, reunião de contistas brasileiros surgidos na década de 90. Em 2003, o autor lançou o último volume do projeto, Geração 90: os transgressores; editou, com Marcelino Freire e Tereza Yamashita, a revista PS:SP e publicou ainda o livro Anseios Cripticos (Escrituras, 2003). Nelson tem atuado intensamente em diversas frentes, seja como contista, romancista, cronista e resenhista. Já publicou nas revistas Cult e Ficções (RJ), além dos jornais Folha de S. Paulo, Correio Braziliense e O Globo. Atualmente escreve para o suplemento Rascunho (Curitiba), Revista Bravo! e Coyote (Londrina, PR).
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Segunda antologia de escritoras: 30 contos femininos, por Chico Lopes.O esforço de Luiz Ruffato me pareceu, desde a primeira antologia, muitíssimo elogiável. E creio que mais antologias do gênero poderão aparecer. O que vale, sobretudo, é a visão plural – do qualitativo ao mais ou menos, do melhor ao mais equivocado, as mulheres escrevem, desabafam, criam. Não são diferentes dos homens, de jeito nenhum – erram e acertam, obviamente. Quem lucra é o leitor.
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Remendando cuias em busca da cabaça de origem, por Otacilio Souza.
Desconfio, por exemplo, que viver é um remendar contínuo de cuias. Cada um tem as suas para costurar, o que é ótimo. Já foi dito que felicidade é ter o que fazer. Portanto, enquanto remendamos ou fazemos, vamos sendo felizes.
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