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Uma nova visão do mundo muçulmano

Sérgio Túlio Caldas*

Uma região onde as mulheres são vaidosas e assumem cargos de chefia, a população aprecia música e dança e todas as crianças freqüentam a escola.

Nada disso seria novidade se fosse a descrição de um povo tipicamente ocidental. Mas não é. Em suas andanças pelo mundo muçulmano, o jornalista Sérgio Túlio Caldas desvendou populações que contrariam o estereótipo de fundamentalistas e guerrilheiros. Suas descobertas sobre esse lado pouco conhecido do islamismo estão registradas no livro Nas Fronteiras do Islã.

Logo nas primeiras páginas da obra, recém-lançada pela editora Record, Caldas propõe uma volta ao tempo, mais especificamente ao Paquistão do ano de 1996. O cenário é a cidade Peshawar, "porta de entrada para o Afeganistão". "Lá, viviam cerca de 3 milhões de refugiados afegãos", relata ele. "Eu estava com eles quando Cabul (capital do Afeganistão) foi invadida pelos talebans." Sem querer, ele testemunhou um momento histórico, que envolvia a então desconhecida organização extremista afegã.

No momento em que soube da notícia, pelo rádio, o jornalista estava numa casa de chá. "A cidade tornou-se um barril de pólvora e a região foi tomada por paquistaneses", detalha o autor. "Eu estava indo para o Afeganistão, mas, depois disso, as fronteiras foram fechadas."

A passagem do jornalista por Peshawar estava prevista em seu roteiro de viagem, cujo objetivo era refazer a Rota da Seda (a mesma realizada pelo viajante Marco Polo no século 13). Durante quatro meses, ele se empenhou numa longa jornada, iniciada em Pequim, na China, até Islamabad, capital do Paquistão. Todo o percurso foi feito por terra.

Na segunda fase do livro, a história dá um salto para 2000, quando Sérgio Túlio Caldas retorna à Ásia Central. Desta vez, para conhecer os países muçulmanos que foram antigas repúblicas soviéticas. "Encontrei um mundo avançado culturalmente, os usbequistões são o resumo do universo muçulmano na Ásia Central." No Usbequistão, o jornalista deparou-se com uma realidade atípica para uma região livre do domínio da ex-URSS há menos de uma década.

"Lá, o índice de analfabetismo é zero, todas as crianças estão na escola e as pessoas são cultas, liberadas, poliglotas", enumera. "O povo é sofista, acredita que o contato com Deus é feito por meio da dança, da poesia e da música." O autor também se surpreendeu com o comportamento e a posição da mulher na sociedade. "Elas são ativas: dirigem grupos de teatro, são músicas, artistas, bebem em praça pública, dançam, são elegantes, estudam, usam minissaias."

Segundo Caldas, eles sobreviveram à repressão do governo comunista e mantiveram a prática de sua religião, o islamismo, na clandestinidade. "E o país apresenta uma arquitetura preservada", descreve. "Como a ex-URSS conseguiu esconder isso do Ocidente? Foi tudo uma surpresa." Para Caldas, esse perfil incomum dos usbequistões em meio ao mundo muçulmano pode ser atribuído ao fato de o país ter sido o centro da Rota da Seda. "Como era região de confluência, vinham mercadores da Europa, da Pérsia, da China. Foi área de troca, por isso a arquitetura é rica, com diversas influências."

O retrato da China muçulmana fecha o ciclo, na terceira e última parte de Nas Fronteiras do Islã. O jornalista conduz o leitor para a região de Xinjiang, que visitou em 1996 e onde vivem os vigures, uma das minorias éticas chinesas. Na cidade de Kashigar, está situada a maior mesquita muçulmana do país. "Esse povo não obedece a Pequim e tentou tornar-se independente", diz. "Depois do atentando de 11 de setembro, surgiu uma série de informações sobre o islã, da mulher com burka, do povo bárbaro. Meu livro é o primeiro relato daquela região sob uma outra visão", acrescenta o autor.

Sobre o Autor

Sérgio Túlio Caldas: jornalista e escritor; trabalhou para os principais jornais e revistas do país, entre eles o O Estado de São Paulo e Veja. Algumas de suas aventuras relatadas neste livro resultaram em reportagens para o programa Fantástico. Suas jornadas por várias partes do mundo levaram-no para a revista Terra, onde foi editor. Reconhecido pelo Prêmio de Reportagem sobre Biodiversidade, em 2001, da Conservation International, é autor do livro Peixe-Boi, a história da conservação de um mamífero brasileiro. Produz documentários com a DGT Filmes, de São Paulo.

 

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