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RESENHAS
Adriana Zapparoli, Enigma e Erotismo
Ricardo Alfaya*
Neste livro eletrônico, sob o título "Erótica", o apreciador encontrará 12 belos poemas minimalistas. São peças que combinam imagem e palavra, criadas e realizadas com o emprego da computação gráfica, pela poeta Adriana Zapparoli.
Que a simplicidade direta e explícita do título, porém, não engane, pois o observador atento notará que tanto quanto o erotismo, o que se nota em cada trabalho, bem como no conjunto, é um conteúdo que transcende o meramente sensual. É uma poesia na qual encontramos metalinguagem e, sobretudo, reflexão de natureza existencial, nas quais se percebe a vocação para o místico.
No que diz respeito à forma, Adriana amiúde funde, em um único poema, diferentes gêneros, o que aproxima a autora da chamada "poesia experimental". Entretanto, enquanto o investimento mais tipicamente experimentalista se concentra no trabalho sobre os significantes, Adriana empresta grande valor também ao significado. Além do sentido reflexivo e místico que se percebe, cumpre ressaltar sua notável preocupação com a palavra. Emprega vocabulário rico e incomum, com total adequação vocabular, uma das marcas que distinguem sua poesia.
Temos percebido essa tendência à fusão de gêneros, bem como ao exercício simultâneo de diversos gêneros poéticos, em alguns poetas atuais, dentre os quais eu mesmo me incluo. Não se trata propriamente de mero ecletismo, mas de um exercício complexo que envolve uma despreocupação com o rigor acadêmico e um certo desejo de transcendência e totalidade. Pode-se pensá-lo também como um convite ao entendimento e à tolerância universais, num tempo tão lamentavelmente marcado por conflitos étnicos, religiosos e políticos de toda sorte.
Apenas para exemplificar nosso ponto de vista quanto ao aspecto formal da poesia de Adriana, citemos o poema "Delicado". Trata-se de um "poetrix" (terceto com menos de 30 sílabas, sobre um tema, com título). Entretanto, ela lhe dá um tratamento gráfico que evoca as poesias concreta e neoconcreta. Cada verso se relaciona com o outro mais pela analogia do que pela linearidade lógica. Efeitos visuais estabelecem um paralelo entre as curvas e as extremidades sensíveis do corpo (imagem ao fundo) e os dizeres dos versos. Por fim, ao incluir o crédito no poema ("arte & poetrix", "Adriana Zapparoli"), aplica um recurso utilizado por alguns autores da "poesia visual".
Quanto às imagens ao fundo, elas contribuem para realçar o clima de enigma e mistério que envolve a seleção. Sob o título ousado, "Erótica", Adriana nos oferece uma mulher que se mostra, a princípio, completamente nua, mas que a rigor se mantém oculta. Figura ambígua, impalpável, ao mesmo tempo concreta e abstrata (aliás, duas palavras que significativamente aparecem nos poemas). Mulher cuja beleza das formas mais adivinhamos do que experimentamos, posto que seu contorno flutua entre o bidimensional e o tridimensional. Rosto ausente em algumas imagens; escondido pelos cabelos, em outras.
Pudor e recato da artista? Omissão intencional, para personificação da mulher enquanto entidade geral e abstrata? Ênfase na "insustentável leveza" de cada ser? Uma forma de realçar a fragilidade e delicadeza do corpo? Expressão do conflito desejo do corpo x vontade do espírito? Mistério. Em "Erótica", palavra e imagem se combinam para formar um corpo único, ao mesmo tempo nu e encoberto, cercado de beleza e de enigma. Um jogo de reflexão e sensibilidade para o qual nos convida Adriana Zapparoli.
Sobre o Autor
Ricardo Alfaya:
jornalista, poeta e escritor carioca. Editor de Nozarte Informativo Impresso e Eletrônico. Autor de inúmeras resenhas, prefácios e ensaios literários.
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