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Ossos do Ofício

Paulo da Mata-Machado Júnior*

Sou mineiro do Rio de Janeiro, das vizinhanças da Praça da Bandeira, rua Mariz e Barros, ao lado do Instituto de Educação, cheio de meninas vestidas de azul e branco / trazendo um sorriso franco / no rostinho encantador: Hospital Gaffrée-Guinle, dezembro de 1942. Antes dos cinco anos virei ilhota, naquele paraíso tropical que era a Ilha do Governador dos anos quarenta: pescava, nadava, andava de bicicleta e nas horas vagas freqüentava com muita má vontade as aulas da escola 5-13 Rotary. E as matinês do Cine Miramar, religiosidade dominical.

Sou de São Cristóvão, de andar de bonde no estribo para driblar o condutor na hora da passagem, de descer de costas do mesmo ainda em movimento: do piquenique na Barra, no tempo em que se atravessava a lagoa de barco, sou do Jardim do Méier com seu teatrinho de marionetes. Fui inaugurar as escadas rolantes do imenso prédio da Sears Roebuck de Botafogo; sou da rua Montenegro 105, em Ipanema, do Flamengo, rua Senador Vergueiro, de onde via o Lacerda construindo o Parque do Flamengo: sou de todos aqueles Rios de Janeiro.

Mas, claro, sou também carioca de Diamantina, nascido na velha casa ancestral da rua de São Francisco, onde mamãe Amélia distribuía com imparcialidade cascudos e carneiros. Meu pai, neto, ganhou um dos da última opção, motivo de inveja até dos irmão mais velhos.

E ainda de Belo Horizonte sou também, vivida a adolescência entre os treinos de natação do Minas Tênis Clube, as horas dançantes, as namoradinhas da melhor tradição ingênua e pueril.

Tem uma época na vida em que todo mundo sai de Belo Horizonte, geração após geração. O diabo é que Belô não sai da gente, arre! Até hoje tem dias (e principalmente noites) quando eu volto lá, que fico igual bobo, procurando o pão com queijo do Munhoz, o caol, meus primos da rua Curvelo, na Floresta, outros da rua Grão Mogol, nos Funcionários, no Santo Antônio, Nova Suissa, Prado, puxa, como havia primos!

E com pequenas passagens no sul (Curitiba) e no nordeste( Recife), sou candango de Brasília, pela segunda vez conferindo as alucinações de JK. A primeira foi no início da capital em 1962; a segunda começou em 1980 e tem dado pano para as mangas. Acho muito esquisita esta cidade, mas fico uma fera com quem a ataca. Não admito, ciumento, que ninguém mais interfira nesta relação de amor e espanto que mantenho todos esses anos.

Cheguei aqui pai de crianças, virei avô e pai de adolescentes: mais ou menos um conúbio tácito, melhor dizendo concubinato de quarenta anos. Toda manhã a gente se saúda com um oi um tanto já usado, mas tem vezes em que ela me emociona com um pôr-do-sol, um canto de passarinho na pitangueira, uma lagartixa no teto da casa, um pé de ora-pro-nobis que resolveu crescer no meu quintal. Aí eu escrevo, ainda não sobre ela: por enquanto essas reminiscências poéticas de outros tempos e lugares. Mas ela não perde por esperar!

Sobre o Autor

Paulo da Mata-Machado Júnior: Sou mineiro do Rio de Janeiro, das vizinhanças da Praça da Bandeira, rua Mariz e Barros, ao lado do Instituto de Educação, cheio de meninas vestidas de azul e branco / trazendo um sorriso franco / no rostinho encantador: Hospital Gaffrée-Guinle, dezembro de 1942. Antes dos cinco anos virei ilhota, naquele paraíso tropical que era a Ilha do Governador dos anos quarenta: pescava, nadava, andava de bicicleta e nas horas vagas freqüentava com muita má vontade as aulas da escola 5-13 Rotary. E as matinês do Cine Miramar, religiosidade dominical.

 

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