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RESENHAS
A boa crônica está de volta
Ronaldo Cagiano*
Entre as muitas leituras que podemos fazer das crônicas que Carlos Herculano Lopes vem publicando semanalmente no jornal "Estado de Minas" - e agora reunidas no livro "Entre BH e Texas" (Ed. Record, 176 pg., 2004) - está a que nos possibilita o resgate da parcela de lirismo e delicadeza que ainda há nas coisas. Numa prosa diáfana o autor revela o sentido humano das histórias comuns. O que aos olhos de muitos pode parecer sem importância, seja uma simples ocorrência ou algo inusitado, se patético ou bizarro, ao cronista oferece rica carga imagética e psicológica, capaz de detonar uma prosa singular, bem humorada e de fina confecção.
Se trabalhados literariamente, os fatos quotidianos perduram-se na crônica, esse gênero tipicamente brasileiro, que teve como precursores os mestres João do Rio, Olavo Bilac, Medeiros e Albuquerque, Machado de Assis e contemporaneamente Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Drummond, Bandeira e José Carlos Oliveira. O território do cronista é sua relação diária com o mundo, permitindo-lhe transcender a mesmice e o banal, resistindo ao tempo e ao lugar-comum em seu exercício contínuo de fotografar os acontecimentos, algumas vezes dando-lhe contornos analíticos, em outras lampejos filosóficos. Carlos Herculano vem provando sobejamente pertencer à vertente de escritores que transpõem os limites formais da crônica, perenizando as histórias que recolhe, evitando que a velocidade dos acontecimentos termine por inquinar de transitório, descartável ou corriqueiro o nosso dia-a-dia. Esses textos de seu novo livro, além de tangenciarem a realidade, com seus pequenos dramas e suas alegrias, não perde o sentido de universalidade, razão pela qual adquirem uma projeção atemporal, não se esgotam na instantaneidade ou na aparência dos fatos, porque voltam-se para o essencial.
A passagem do tempo, a memória, as relações afetivas, os encontros e desencontros, a trivialidade, o que há de comum ou de revelador na natureza humana, enfim a existência com suas particularidades ou sua parcela de sutileza que não se repetirá, são flagrados com elegância poética.
Carlos Herculano Lopes, mineiro de Coluna, nasceu em 1956 e mora em Belo Horizonte, onde vem construindo uma sólida carreira literária, tendo conquistado importantes prêmios literários. O autor integra uma nova geração de cronistas que vêm atuando na grande imprensa, entre os quais pontificam Danilo Gomes, Márcio Cotrim, Eduardo Almeida Reis, Jacinto Guerra, Luís Giffoni, Lustosa da Costa e Rogério Menezes. "Entre BH e Texas" contribui para o resgate da boa crônica em nosso país, pois nada escapa ao seu olhar percuciente. Aliando o faro jornalístico à experiência de prosador, Carlos Herculano Lopes traça um painel singelo e comovente do homem e da sociedade , abrindo espaço para um mínimo sentido crítico e chamando a atenção para a beleza que há na vida, apesar de tudo.
De Carlos Herculano Lopes
Ed. Record, 175 pg. R$ 25,90
Sobre o Autor
Ronaldo Cagiano:
De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.
Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.
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