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RESENHAS
Homenagem a Antonio Candido
Jorge Ruedas de La Serna*
O livro organizado por Jorge Ruedas de la Serna resultou de um seminário apresentado em 2000 na Universidade Autônoma do México, por ocasião do lançamento de Estruendo y liberación - ensayos críticos, de Antonio Candido, naquele país. Na ocasião, encontraram-se intelectuais brasileiros e mexicanos para a discussão sobre os vínculos entre literatura e história, tomando como ponto de partida a importante obra de crítica literária de Candido. Autor dos clássicos Formação da literatura brasileira (1959), Tese e antítese (1964), Literatura e sociedade (1965), A educação pela noite e outros ensaios (1987), entre tantos outros, o professor Antonio Candido tornou-se referência obrigatória para estudiosos de literatura brasileira e latino-americana, não apenas em suas dimensões estéticas, mas também sociais e políticas
A homenagem ao crítico brasileiro é mais do que justa, pois seus estudos mobilizam um vasto arsenal crítico, das mais variadas tendências, sempre com o foco no objeto literário e sua inserção no contexto histórico, sem nunca sucumbir a dogmatismos reducionistas, ou relativismos estéreis. Além do rigor e da argúcia analítica, os ensaios de Candido primam sempre pela clareza e elegância, o que é muito raro nos textos acadêmicos, muitos vezes contaminados pelo malabarismo conceitual incompreensível. Para Candido, a literatura não é mero produto da luta social e do posicionamento ideológico dos homens, mas fruto de uma relação dialética que envolve a inventividade da obra literária, o momento histórico em que esta obra é produzida e sua relação com os leitores.
Segundo Antonio Arnoni Prado, que assina o ensaio “Dimensão crítica da Formação”, Candido foi um dos primeiros críticos literários brasileiros a questionar o alcance dos preceitos deterministas que nos chegavam da Europa, tão presentes na geração anterior à sua, formada por críticos como Sílvio Romero, José Veríssimo e Araripe Jr., mostrando “o descompasso entre a natureza da crítica e o lugar que ela ocupava na nossa tradição cultural”. Em sua Formação da literatura brasileira, Candido discute não apenas o caráter da formação literária à luz das obras, como analisa a própria transformação do conceito de crítica ao longo da história, em seu embate com os textos literários. Foi, sem dúvida, um trabalho que atuou como um divisor de ágas nos estudos de literatura no Brasil. Especialmente seu conceito de “sistema literário”, que envolvia não só os elementos internos da obra, mas seu diálogo com a tradição e com o conjunto dos receptores.
É interessante notar como análises tão diversas e amplas surgem a partir da lição de Antonio Candido no livro organizado por Jorge Ruedas, como a do poeta e filósofo Jaime Labastida, que escreve dois ensaios sobre a questão do cânone e sobre poetas de língua espanhola; ou de Ignacio Díaz Ruiz, que aborda a relação entre história e literatura na obra do escritor cubano Cabrera Infante. Nos vinte ensaios que compõem o livro percebe-se, porém, que além de irradiar novas e pertinentes questões sobre a literatura em seu atrito criativo com a tradição e com o contexto histórico, o trabalho de Antonio Candido permanece como fonte inesgotável de reflexão e de deleite estético.
Artigo de Reynaldo Damazio - [artigo publicado originalmente na revista Nossa América, n° 20, 2003]
Sobre o Autor
Jorge Ruedas de La Serna: Professor da Faculdad de Filosofia y Letras, Universidad Nacional Autónoma de México. Jorge Ruedas de la Serna es especialista en literatura mexicana de la Colonia y literatura brasileña. Fue agregado cultural en la embajada mexicana en Brasil. Uno de sus temas de estudio es la Arcadia mexicana en el siglo XVIII y su equivalente en Brasil.
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