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RESENHAS
DESCONSTRUIR DUCHAMP
Antônio Ribeiro de Almeida*
Affonso Romano de Sant Anna acabou de lançar, pela Editora Vieira e Lent, o seu "Desconstruir Duchamp". O livro é o resultado de uma série de artigos publicados em "O Globo" em que este crítico, que é também magnífico poeta, escreveu para mostrar que o francês Marcel Duchamp (1887-1968) não passava de um "tricheur" (trapaceiro) em matéria de Arte Moderna.
Affonso foi elegante ao dar ao seu livro o título de "desconstruir," porque outro possível título para o mesmo poderia ser "Como joguei fora o urinol de Duchamp". Pois é disto que se trata. Duchamp, seria mais bem classificado como "charlatão" pois ele se fez passar por aquilo que nunca foi, segundo a etimologia italiana da palavra "ciarlatano" (Vide Houaiss).
Ao longo de capítulos como Limpando o terreno, Ocultamento e Legitimação, Cloaca Artística, O xeque-mate de Duchamp, Onde o nó foi dado, Affonso conta a história do inicio deste charlatanismo na Arte Moderna, relata os outros charlatões que vieram após Duchamp e demonstra, dentro de uma reflexão crítica e lúcida, porque parte da Arte Moderna se tornou numa Não-Arte. A história começou em 1917 quando na provinciana New York, que desejava passar por moderna, o francês, sob o pseudônimo de R. Mutt, apresentou, sob o nome de "Fonte", um urinol como obra de arte. Dizem as más línguas que era o que ele usava debaixo de sua cama.
Os membros da exposição recusaram o penico, e, ele, desapareceu. Mas como diz um velho ditado, que para cada espertalhão que nasce, brotam dez mil imbecis, o fato é que tal apresentação deu margem a discussões entre os artistas de vanguardas, os críticos de arte que se prolongam até hoje. Affonso escreve, com alguma ironia, que "... o urinol virou a Mona Lisa da modernidade".
Outros espertalhões vieram neste espetáculo de absurdos. O absurdo número 2 aconteceu em 1993, em Nîmes, França, quando um tal de Pierre Pinincelli urinou no urinol - outro, evidentemente- e em seguida o destruiu a marteladas. Até o Ministro da Justiça da França entrou no problema, a polícia , etc e tal enquanto o charlatão Pinincelli contra-argumentava que havia criado uma nova obra de arte. O absurdo número 3 veio de um belga, um tal de Wim Delvoye que construiu uma máquina de uns 11 metros de extensão por 2 metros de altura que produz -pasmem-se meus leitores ! - merda industrial que foi vendida a mil dólares cada pacote. E tudo isto em nome do Modernismo.
Affonso demonstra,em vários capítulos, que Duchamp e sua companhia de charlatões que infestam a Arte Moderna, usaram e abusaram de operações de deslocamento ou metonímia; ocultamento, a noção que o que veio antes não tem mais função, que o espaço define o valor estético do objeto, etc.
Destarte, para estes "admiradores" da tal Arte Moderna, entre os quais existe muita gente endinheirada com apenas um neurônio; Duchamp e seu penico levam à contemplação e a longas discussões sobre sua tonalidade, formato, asa para pegar, material de que é feito. Francamente, embora eu não tenha viajado muito nos últimos tempos eu nunca me cansei de contemplar no Museu de Arte do Rio de Janeiro um quadro de Almeida Júnior, de um Van Gogh ou comprar minhas reproduções de Lautrec, Velázquez. Rembrant e Delacroix.
Que me perdoe o Affonso Romano Sant Anna se não pude tratar este Duchamp a não ser às gargalhadas. Recomendo o seu livro pela clareza, lógica , argumentação e seriedade no tratamento do assunto. Quem ainda não se convenceu do charlatanismo na Arte Moderna terá, em "Desconstruir Duchamp" argumentos definitivos para repudiar este modernismo. Mas se mesmo assim, alguém continuar a defendê-lo, eu aconselho a comprar um penico em algum brechó, coloca-lo debaixo de sua cama e dele fazer bom uso.
Sobre o Autor
Antônio Ribeiro de Almeida:
Jornalista e escritor de São José do Rio Preto/SP.
Doutor em Psicologia Social, FFCLRP-USP
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