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RESENHAS

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Ao vencedor, mais dores

Jorge Pieiro*

'Quando a mente tentava olhar-se naquele espelho confuso que era o próprio jeito de pensar, abria-se ali ao lado um abismo sem fundo. O que, talvez, não pode ser visto, nem falado.'
(Paulo Franchetti, In: 'Óculos')


Em alguma circunstância, o gênio de Albert Einstein proferiu: 'É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito'. Com certeza, a ocasião fora bem diversa desta em que um leitor privilegiado ousa refletir sobre as pistas de acesso ao futuro da literatura.

Se o aceno é para um futuro, a um tempo que será mais sóbrio, ou talvez nada frugal, mas indiscutivelmente esperado, não convém pensar que o gesto se volte para o hibridismo de gêneros, ou para a reprodução virtual de blogs, ou para a descoberta do grande buraco negro no centro do Universo em conexão com as pulsões de criação e de destruição da palavra, ou mesmo para a sociologia do pensamento do homem contemporâneo. Talvez seja mais urgente, embora mórbido, pensar como Augusto dos Anjos: 'Que o homem universal de amanhã vença/ O homem particular eu que ontem fui!'. Mas que o olhar se expanda também ao passado.

Aliando, pois, os tópicos relativos a preconceito, veleidade artística e futuro (que, paradoxalmente, aqui já pode ser lido como passado), reconstruímos, via leitura, os 31 textos da obra O sangue dos dias transparentes (Ateliê Editorial, 2002), estréia do crítico literário Paulo Franchetti na curta narrativa.

Primeiro, falemos de preconceito. Há uma tendência na escritura atual a desmarcar compromissos com qualquer das formalidades estéticas, por muitos, ditas vencidas. Seguindo o mesmo caminho, neste caso em atalho, e mesmo sem relacionamentos, uma gama de pretensos leitores ou de não-leitores prefere rebater qualquer tipo de escritura. Sem falar naqueles que repudiam a própria existência, para usar outros como alvo de vingança, restam aqueles que apenas escrevem, compromissados consigo mesmos - uma das formas de estar em dia com a vida -, além ou aquém de qualquer tipo de transgressão. Neste caso, é provável que surjam preconceitos às reminiscências abreviadas, aos sobressaltos de presente e futuro, às cenas do cotidiano, aos gestos simples, aos atos banais, às ironias, aos desejos e aos fracassos, aos enigmas dos textos breves de Franchetti.

O autor tende a esquecer que vive no século XXI - e isto não é um defeito - pela coragem de criar um narrador ou narradores que possam dizer, mesmo fora de qualquer contexto, que 'era melhor sem compreender. Uma tradução matava tudo. O bom era imaginar, colocar ali o que se quisesse, quebrado, sem ordem, cada hora uma coisa.' (In: 'Casal'). Mas nada é fora de propósito. Estamos diante de um fragmento de um texto fragmentário, entre outros, que seguem, no entanto, uma rígida forma de apresentação. Com exceção de 'Campo de aviação', os contos brevíssimos apresentam uma palavra como título e estão dispostos em ordem alfabética. Os paradoxos são sempre desintegradores.

Agora, pensemos na veleidade artística. A grande ilusão de um criador de textos é pensar que o leitor está na outra margem, de braços abertos, esperando a voz, a verdade. Ou, de outra forma, imaginar que concluiu a sua obra-prima ao ponto final. O escritor, como qualquer artista é pleno de vaidades, expostas ou não, doentias ou não. O leitor, por sua vez, é sempre um vilão necessário. Na obra em questão, os textos às vezes são insólitos, mas com simplicidade. A trama pode até não se concluir, mas as sugestões validam o conteúdo, mesmo deixando o leitor em falso. Parece, contudo, que Franchetti também pensou na possibilidade de, ao tratar do desconforto de viver, deixar o caminho cruzado para perdoar o leitor e eximir-se de qualquer desvio. No conto 'Duplo', há uma passagem que parece aludir a esta sensação: 'Tudo acabaria como quando se acorda de um sonho e a realidade é a cama de todas as noites, cheirando a suor e situada no espaço já sem mistério nem surpresas.'

Por fim, evoquemos o futuro (ou o passado). A pergunta 'o que há de novo?' parece movimentar as catracas rústicas da humanidade. A impressão é de que pouca gente sabe que no Eclesiastes já foi dito sabiamente que não existe mais novidade nenhuma sob o sol. E na literatura? Há grandes polêmicas e indícios de uma enorme frustração. O que se escreve hoje, realmente, já foi novidade. Mas, nunca mais será! Haverá remodelação, maquiagem, mas tudo continua como dantes. Uma vez mais, Franchetti assenta a dica, em um dos pequenos grandes textos da coletânea, 'Noite': 'Antes que o corpo se estendesse por inteiro no colchão, completou maquinalmente a frase, como se a questão ali reposta pudesse erguer-se, ou pelo menos ficar mais leve, se apoiada em velhos pedaços de literatura: ...talvez sonhar'.

Se sonho é desejo, quem sabe se a literatura não é a própria 'morte tão cheia de vida' (In: 'Conselho'), por isso, dói?

SERVIÇO
O sangue dos dias transparentes - Contos de Paulo Franchetti. Ateliê Editorial (www.atelie.com.br), 2002. 124 páginas. R$ 20,00. - clique na imagem da capa.

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Sobre o Autor

Jorge Pieiro: Jorge Pieiro é escritor e professor de literatura. Auto de várias obras:
• Caos Portátil (contos). Fortaleza: Letra & Música, 1999.
• Galeria de Murmúrios (ensaio). Fortaleza: [s/n], 1995. (Cadernos de Panaplo).
• Neverness (poema). Fortaleza: Resto do Mundo/Letra & Música, 1996.
• O Tange/dor (poemas). Fortaleza: [s/n], 1991.
• Fragmentos de Panaplo (contos breves). Fortaleza: [s/n], 1989.
• Ofícios de Desdita (ficção). Fortaleza: IOCE, 1987.

 

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