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Na Mesma Casa
por Pablo Morenno
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publicado em 28/03/2006.
Truman tenta explicar porque o assassino de uma família inteira numa pequena comunidade do Kansas, sul dos EUA, em 1959, lhe havia sugado seis anos de vida e por qual razão acabaria por aniquilá-lo literariamente - foi sua última obra acabada. Algo em comum havia entre o escritor bem sucedido, centro das rodas sociais, e aquele homem amaldiçoado à pena irreversível.
A frase é contundente e ultrapassa a semelhança entre a vida de Truman e Perry, ambos rejeitados pelos pais e criados por estranhos. De algum modo, esta mesma frase poderia ser colocada na boca de cada um de nós com relação aos meninos do tráfico, aos estigmatizados sociais de todos os tipos. Acaso não nascemos na mesma casa que eles?
Por que nós, os bons, tomamos uma saída diferente? O que houve ao longo de nossas vidas que mudou o rumo? Será que, se tivéssemos nascido de mães alcoólatras e pais assassinados, seríamos os mesmos? Eles, com nossas mesmas oportunidades, seriam traficantes e assassinos? Sair para o mundo pela porta da frente ou pela porta dos fundos é apenas uma decisão individual? Como se entrelaçam vontade e oportunidade? Será que a miséria humana, com sua boca de morte, não rumina a vontade de vida?
Atentos ao filme, vamos percebendo. O assassino não é tão mau quanto parece e o escritor não é tão bom quanto se mostra. Narcisista, Capote, revela-se cada vez mais obcecado pela sua obra. Para alcançar seu intento, engana, mente, chantageia. E se, no início, vasculha bons advogados para os criminosos, mais tarde, mostra-se indiferente. Pode-se perceber seu desejo nítido de que os assassinos sejam mortos o quanto antes, sacrificados ao fim apoteótico do livro. O desejo de morte de Perry e Truman é da mesma natureza. Embora Capote não execute ninguém, ao ansiar o pronto desfecho do cadafalso a seus personagens, expressa o mesmo motivo fútil dos assassinos: dinheiro. O escritor comenta com sua amiga Harper Lee sobre Perry: "Ele é uma mina de ouro". E enquanto aguarda a decisão da Suprema Corte, pede à amiga: "reze para que seja favorável a mim".
A obra-prima de Capote é também uma autobiografia sobre o que havia de Perry Smith nele. Do mesmo modo, no fundo de cada um de nós, meninos mascarados brincam com armas em uma favela. Nós e eles vivemos sob a mesma casa (barraco?) da vida humana. Precisamos descobrir apenas por qual razão alguns saímos pela porta da frente e outros pela dos fundos. Será que é teimosia deles ou nós não queremos companhia, ou não avisamos da porta, ou os abandonamos à própria sorte, ou...
Seremos tão bons quando nos cremos?
Sobre o Autor
Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno
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