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Até quando?

por Airo Zamoner *
publicado em 27/03/2006.

Quantos calendários ainda jogaremos fora antes de dormir o sono eterno do merecido descanso, certos de que nossos netos, ou ao menos os tataranetos, finalmente, viverão num país sério?

O que fizemos nós, que entregamos aos néscios, aos medíocres, aos desonestos, aos idiotas, aos ignorantes, aos estúpidos, aos insensatos, aos egoístas, aos déspotas, aos ditadores, aos usurpadores das liberdades individuais, aos ladrões de todo gênero, engravatados ou não, os destinos da nação que nos une a todos por laços históricos, culturais, econômicos, lingüísticos?

A quantas outras parlamentares dançarinas ridículas teremos que assistir, comemorando grotescamente a vitória da impunidade de companheiros confessadamente trapaceiros e criminosos?

Quanta bruxaria teremos que agüentar desta fila desqualificada que se apresenta a cada eleição?

Até quando nossa memória continuará assim tão curta?

Até quando solaparão o sagrado direito à educação, para continuarem a receber o voto dos incautos?

Até quando derramaremos nosso suor durante mais de quatro meses por ano para sustentar os luxos, os lixos, as cuecas, as repúblicas das mansões dos prazeres, os desmandos, os discursos burros?

Quanto sangue ainda se esvairá nas filas de hospitais falidos pela incúria e assalto aos sagrados impostos que deveriam financiar a saúde, mas financiam a falcatrua?
Quantas perfurações de bala nosso corpo deverá agüentar, antes que a segurança do cidadão se sobreponha à cobiça de ladrões travestidos de governantes e parlamentares?

Até quando seremos descaradamente injustiçados pela própria justiça?

Por que somos forçados a suportar uma justiça parcial, voltada sempre para seu próprio umbigo e se metendo disfarçadamente nos imbróglios de outros poderes da república enfraquecida?

Até quando seremos capazes de ouvir, impassíveis e crédulos, a incansável maratona de desculpas esfarrapadas para a incompetência, a irresponsabilidade, a ganância de afanadores disfarçados de representantes desta nação em frangalhos?

Até quando seremos obrigados a assistir adversários políticos se esgueirarem pelos muros escuros da noite, acertando a partilha do roubo, rindo de nossa cara envelhecida?

Até quando agüentaremos o fingimento de inimigos políticos de fachada que, nas sombras de cavernas morais trocam favores e proteção, mas sob luzes feéricas, no palco escabroso da mentira sempre enfiada esôfago adentro da nação despreparada, trocam sopapos duvidosos?

Por que, a cada nova eleição, deglutimos com náuseas a reentrada de parlamentares sabidamente criminosos, cassados ou renunciantes, nas luxuosas dependências do parlamento, com o sorriso irônico de eternos impunes?

Até quando persistirá o desfile de capetas, espargindo hipocrisia e arrogância, pedindo votos com a candura de anjos e o descaramento de bandidos confessos?

Até quando ficarão atravessadas em nossos intestinos as irresponsáveis e malandras promessas sistematicamente não cumpridas, mudem ou não os governos, as ideologias, os partidos, os homens?

Até quando ficaremos calados diante dos marginalizados da educação e da cultura básica que acreditam nos mentirosos, votam nos ladrões, aplaudem os sem-vergonha, beijam a mão dos opressores, pedem autógrafo aos sorridentes bandidos no poder, com a inocência dos ignorantes úteis?

Até quando agüentaremos nossos mandatários se orgulhando da falta de formação, louvando a ignorância crassa em seus discursos ridículos, escancarando um orgulho estúpido de sua burrice, de sua falta de cultura e educação?

Até quando vamos esperar pacientes por competência verdadeira e honestidade visceral vindas do poder?

Afinal, quem, ou o quê, assumiu os destinos deste país?

Qual o limite de nossa paciência?

Até quando, meu Deus?

Até quando?

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

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