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A Igualdade Final!
por Airo Zamoner
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publicado em 25/01/2006.
Ávido por ajudar, mantém a cabeça erguida, vencendo o peso dos anos a empurrá-la para baixo. Em sua pasta carcomida, desgastada, idéias e mais idéias saltitam em forma de papéis desordenados, amassados, rabiscados. Está disposto a salvar o mundo, não importando a utopia do projeto. Atento aos solavancos da marcha inexorável do planeta, vai alinhavando soluções mágicas, recheadas de diretrizes para uma sociedade feita de homens divinos, enquanto explana uma a uma aos demônios que o cercam.
Suas soluções são muitas vezes infantis, eivadas de uma crença inabalável na bondade humana, em virtudes de uma sociedade ética. Ética que ele imagina existir aos borbotões em todas as esquinas.
Encontrei-o algumas vezes. Trocamos poucas palavras. Seu otimismo impúbere é arrasador. Suas virtudes, seus valores nobres se derramam pelos olhos.
Profundamente ético tem a verdade acima de tudo; a crença imortal na honra dos homens. Pensa que as mazelas do país se devem à falta de soluções criativas ou a uma ignorância que ele pode iluminar com suas notas e livros. Nunca vê a malandragem embutida nas palavras doces de pretensos salvadores da pátria. Jamais percebe a malícia luciferina nos discursos empolados dos gatunos mascarados. Não vê o crime sinistro dos esbulhadores oficiais, mutilando a carne, a alma do povo atônito.
O que me choca profundamente nesta figura é o contraste com o perfil dos jovens de nosso tempo. Crescem na gatunice lucrativa desde os bancos escolares. Escolhem suas malditas profissões pelas possibilidades de lucro fácil e nunca pela santa e aposentada realização vocacional. A ordem é vencer economicamente, financeiramente, patrimonialmente, não importando quem morrerá pelo caminho esmagado pela ganância estimulada. Às favas com os valores nobres. Formar-se nas falcatruas de todas as cores é fundamental.
A esperteza das negociatas é o diferencial do herói de hoje. Entrar na política é entrar num mundo de vantagens pessoais. Assumir um cargo público qualquer é abrir um horizonte de ganho fácil. É poder colocar a mão nas grandes fortunas da arrecadação compulsória. Com uma justiça cada vez mais cega, burra, capenga, molenga, inepta, incompetente, conformada e até corrupta, é fácil safar-se de tudo. O que podemos pensar da justiça, se ela espia marota por baixo da venda, segurando uma balança que mais lembra uma rede a evocar preguiçosos verões?
Professor Antônio. Figura em franca extinção. Olhando-o, obrigo-me a imaginar como serão os velhos de amanhã. Não haverá mais um único sonhador. Pelas calçadas da vida, somente velhinhos malandros. Enquanto um rouba do outro no joguinho de dama para não perder a forma, as conversas estarão girando em torno de quem fez mais fácil a tarefa de pôr a mão no dinheiro alheio, trabalhando menos e se safando mais.
Assalta-me a tristeza sobre o futuro. Um futuro só de espertalhões a se lograrem mutuamente. Sociedade miserável esta, se um dia estiver formada apenas por desonestos, mentirosos, egoístas, ladrões, pulhas e patifes de todos os matizes! Nesse futuro aglomerado social, seremos todos ladrões bem formados e estaremos coletiva e divinamente perdoados para a eternidade, ou nos eliminaremos mutuamente para comemoração do universo.
Sobre o Autor
Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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