Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Henrique Chagas


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Não há sabedoria na cova a que se destina.

por Henrique Chagas *
publicado em 12/07/2005.

Final de tarde. Cansado, após ter prolatado inúmeras e sábias sentenças naquele dia de agosto, o velho magistrado sonha com a aposentadoria que não tardará. Da pauta, ainda restou o julgamento de um simples pedido de Alvará. Começou a lê-lo, com a calma e a serenidade que lhe são peculiares: "Libera a tua boca pra sorrir / O melhor remédio pro tédio é se divertir / livre-se do passado que viveu / pra ficar também de bem como eu (libera) / Dane-se tudo que te sufocar/tudo aquilo que te impede de poder voar / Libera Geral".

Sentiu-se como se adentrasse num programa infantil de televisão, entretanto, diante de si se prosternava um pedido de autorização para saque do FGTS, onde o interessado alegou que a sua conta vinculada encontrava paralisada há três anos. O interessado sustentou que o entrave se dava por meras questões burocráticas, com as quais ele não concordava. Por isso fundamentou seu pedido no "libera geral".

O interessado declarou-se frustrado com o indeferimento da tutela antecipada pedida (indeferida por inadequação processual, diga-se de passagem), que não correspondeu à sua expectativa. Esperava que o pedido fosse concedido sem procedimento, sem processo, sem delongas, sem formalismos, sem burocracias, "zás traz".

Afirmava ainda que caso não houvesse reconsideração, e, se não lhe fosse deferido o alvará de nada valeria ter batido às portas do magistrado, pois o interessado poderá sacar o FGTS, na própria CAIXA, no seu aniversário em abril vindouro, pelo que, ao contrário, melhor será arquivar o processo.

Incrédulo, palpitava ansioso o coração. Perguntava-se, que teria dito a CAIXA, defensora do FGTS, nas suas manifestações, em contraposição ao "libera geral".

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu / Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;/ .../ tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora;/ tempo de amar, e tempo de aborrecer; tempo de guerra, e tempo de paz."

O inesperado texto sapiencial e bíblico do Coelet, trazido pela defesa, impregna suas retinas como fachos de luz e o atordoa em dilema existencial. Sabe que não se deve desperdiçar o tempo e que não há qualquer sabedoria na cova a que se destina.

A defesa diz que não é tempo de liberar geral. Tudo tem o seu tempo debaixo dos céus, e o tempo de liberar o saque daquela conta vinculada está descrito na lei, que é a vontade democrática da sociedade, vontade essa que impede a liberação geral de qualquer coisa! Pelo contrário, disciplina o instinto, a vontade individual e os desejos de cada um. Se fosse permitido a todos a fazerem o que bem entenderem, com certeza, não viveríamos em sociedade. "Libera geral" só fica bem na doce e encantadora voz da bela moça de Santa Rosa e nos sonhos infantis de cada um.

O interessado tinha pleno conhecimento de que seu direito ao saque dar-se-ia em abril vindouro, após a data de seu aniversário, independentemente de qualquer decisão. Mas abril já passou. Já era agosto.

Lá fora venta muito como em todo mês de agosto; e, vez ou outra, forma-se um redemoinho de poeira, que se agita, se retorce e logo se acalma. E reaparece em outro lugar.

Tudo é vaidade, diz o Coelet. Tudo tem seu tempo debaixo dos céus. Fechou os autos e foi para casa.

(Publicado no Boletim da Advocef / Maio/2006 / nº 39)

Sobre o Autor

Henrique Chagas: Henrique Chagas, 49, nasceu em Cruzália/SP, reside em Presidente Prudente, onde exerce a advocacia e participa de inúmeros eventos literários, especialmente no sentido de divulgar a nossa cultura brasileira. Ingressou na Caixa Econômica Federal em 1984. Estudou Filosofia, Psicologia e Direito, com pós-graduação em Direito Civil e Processo Civil e com MBA em Direito Empresarial pela FGV. Como advogado é procurador concursado da CAIXA desde 1992, onde exerce a função de Coordenador Jurídico Regional em Presidente Prudente (desde 1996). Habilitado pela Universidade Corporativa Caixa como Palestrante desde 2007 e ministra palestras na área temática Responsabilidade Sócio Empresarial, entre outras.

É professor de Filosofia no Seminário Diocesano de Presidente Prudente/SP, onde leciona o módulo de Formação da Consciência Crítica; e foi professor universitário de Direito Internacional Público e Privado de 1998 a 2002 na Faculdade de Direito da UNOESTE, Presidente Prudente/SP. No setor educacional, foi professor e diretor de escola de ensino de 1º e 2º graus de 1980 a 1984.

Além das suas atividades profissionais ligadas ao direito, Henrique Chagas é escritor e pratica jornalismo cultural no portal cultural VerdesTrigos (www.verdestrigos.org), do qual é o criador intelectual e mantenedor desde 1998. É jurado de vários prêmios nacionais e internacionais de literatura, entre eles o Prêmio Portugal Telecom de Literatura.

No BLOG Verdes Trigos, Henrique anota as principais novidades editoriais, literárias e culturais, praticando verdadeiro jornalismo cultural. Totalmente atualizado: 7 dias por semana.

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


“A queda”, de Camus: Um gesto que nunca fazemos, por Chico Lopes.

Com enfoques diferentes, mineiros escrevem sobre JK, por Victor Alegria.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos