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Dezembro Literário: Dois Lançamentos Instigantes
por José Aloise Bahia
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publicado em 06/12/2005.
Retalhos do Mundo - Como reza Santo Agostinho: "O mundo é um livro, e quem não viaja lê apenas uma página". O passar das páginas anda em léguas, milhas marítimas e faz um arco no ar: Himalaia, Andes, Sierra Nevada. Amazônia, Nepal, Patagônia, Ladakh. Taj Mahal, Teotihuacán, Pashupatinath. Denpasar, El Chaltén, Cidade do México. Retalhos do Mundo (Editora Pulsar, Belo Horizonte, 2005) leva-nos ao redor da Terra numa viagem em que culturas, história, geografia, gastronomia, pessoas e situações inusitadas se mesclam num texto leve e ágil.
Com bom humor e senso de observação, Luís Giffoni "eleva a narrativa brasileira a novos patamares de talento" (World Literature Today) e revisita lugares por onde andou, de grandes centros urbanos a cafundós em vários continentes. Conta-nos como é a falta de ar no Karakoran (Caxemira/China) acima de quatro mil metros de altitude e em Los Angeles (EUA) durante o smog. Testemunha a morte de escaladores no Annapurna (Himalaia). Quase morre durante uma nevasca perto do monte Whitney (Sierra Nevada/Califórnia/EUA). Mergulha na beleza do mar de Bali. Acompanha mateiros no miolo da Floresta Amazônica. Resgata tradições de astecas, indianos, norte-americanos, chilenos e argentinos. Mostra o fatal encontro com uma tribo desconhecida de índios. Atravessa os contrafortes das Torres del Paine (Chile), do monte Fitzroy (Patagônia Argentina) e do Cerro Torre (Patagônia Argentina). Compara comportamentos. Relembra livros e autores. Experimenta cardápios exóticos. Retalhos do Mundo revela a diversidade da Terra e do ser humano - e convida o leitor a participar de algumas aventuras.
Luís Giffoni nasceu em Baependi, MG. Reside em Belo Horizonte. Tem 16 livros publicados, dentre eles Infinito em Pó (Editora Pulsar, 2004), O Poeta e o Quasar (Editora Pulsar, 2003), A Verdade Tem Olhos Verdes (Editora Pulsar, 2001), Adágio Para o Silêncio (Editora Pulsar, 2000), A Árvore dos Ossos (Editora Pulsar, 1999). Recebeu premiações e indicações da APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte, Bienal Nestlé, Prêmio Minas de Cultura, Prêmio Nacional de Romances (e de Contos) Cidade de Belo Horizonte e Prêmio Jabuti.
Fratura exposta - "Este poema é um grito. Este poema é um desabafo. Este poema é uma constatação de impotência, um chamado, uma declaração de ódio e de amor. Este poema não mede conseqüências, este poema não espera condescendência, este poema não aceita condolências. Este poema é um pedido de socorro, uma mensagem numa garrafa lançada dentro de um bueiro, uma pichação debaixo de um pontilhão". Eis parte da apresentação de Fratura Exposta (anomelivros, Belo Horizonte, 2005), feita por Joca Reiners Terron. Bate asas como um corvo na nova obra de Jovino Machado a epígrafe de Charles Baudelaire: "O prazer do amor gira em torno da certeza de fazer o mal".
Um livro visceral, venenoso, vingativo e toda sorte maculada - uma coleção de exclamações, que sorve até a última gota metafórica disponível e inebriante para conseguir exprimir em palavras a sede enorme para estancar o sangue e a procura incessante do autor em seu diálogo com ela, e não ele, a Poesia em pessoa. Que nasce, "a poeta voava pelos telhados/ sonhando com a capital da solidão/ a primavera assassinava o inverno/ no céu surgia um pedaço de lua suja". E, "morre na quarta-feira de cinzas/ a dançarina da ópera limpa as feridas do sambista/ que abraça a cuíca fatigada de chorar na pista/ inventando uma nova estação chamada melancolia". Numa constatação - esperança das esperanças, sonhos de uma noite de verão -, o poeta dialogo em deslocamentos criativos com a sublime poesia expressionista alemã das décadas de 1910/20. Um belo livro, ferino, delirante: "é uma pancada na cabeça de um dinossauro/ é um arranhão distraído no breu das horas".
A máxima do autor, "dinheiro ganho com a poesia se gasta na orgia", ressoa em brados de Clarice e Hilda, em suas águas profundas. Sem falar na implacável Ana, a nebulosa Diadorim, Dolores, Nara, Elis. Redemoinho desassossegado, back bay - a música de Biglione, uma constatação de impotência, nas palavras de Joca Terron em sua síntese certeira, na análise de Luciana Tonelli. O poeta impaciente, elegante em suas roupas e cor predileta - o preto, em contraponto com a faca no fundo vermelho da capa do livro, misturam lâminas e cortes em ecos profundos e lateja em Fratura Exposta aquilo que é a sua força, o transtorno do revide que se deixa invadir, bagunçar e atordoar ossos explícitos pela procura fértil que no seu espanto é a sua assinatura.
Jovino Machado nasceu em Formiga, MG. Foi criado em Montes Claros e reside na Torre dos Azulejos em Belo Horizonte. Nos anos de 1990 estudou letras (UFMG). Atua como restaurateur. Publicou nove livros, entre eles Trint´anos Proustianos (Mazza Edições, 1995), Disco (Orobó Edições, 1998), Samba (Orobó Edições, 1999) e Balacobaco (Orobó Edições, 2002). Participações em Dimensão (Revista Internacional de Poesia, Uberaba, MG, 1998), A Poesia Mineira no Século XX (Imago, Rio de Janeiro, 1999), A Cigarra-Revista de Poesia (Santo André, SP, 2000), O Melhor da Poesia Brasileira - Minas Gerais (Joinville, SC, 2002) e na antologia poética O Achamento de Portugal (anomelivros, Belo Horizonte, MG, 2005). Menção honrosa na revista literária da UFMG (1991) e terceiro prêmio de Poesia Falada de Campos dos Goytacazes (RJ, 2002).
Sobre o Autor
José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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